
A colheita da segunda safra de milho 2025 já está praticamente encerrada no Brasil, com 99,6% das lavouras já retiradas do campo, de acordo com o último reporte de safras de Conab divulgado na segunda-feira (30). A produção é considerada recorde, mas os preços do cereal no país, apesar de levemente pressionados, seguem trabalhando lateralmente tanto na Bolsa Brasileira (B3) quanto no mercado interno.
“Felizmente tivemos uma produção muito consistente aqui no Brasil, juntando primeira, segunda e até terceira safra em algumas regiões, mais de 138 milhões de toneladas produzidas, 16% acima do ano passado. Toda essa oferta cria uma pressão no preço. Contudo, o mercado segue encontrando equilíbrio e vemos até o preço um pouco mais lateralizado”, relata João Vitor Bastos, analista de mercado da Pátria Agronegócio.
Produtores fora do mercado e segurando as vendas ajudam a explicar esse cenário, mas há papel fundamental do aumento na demanda interna pelo cereal, especialmente de um setor que vem crescendo bastante nos últimos anos, o etanol de milho.
“O que estamos vendo no mercado atualmente é um cabo de guerra com baixas negociações. Então, mesmo com oferta muito robusta, o mercado vem encontrando essa ausência e essa restrição de negociações, segue encontrando equilíbrio e vemos até o preço um pouco mais lateralizado. Ano passado nossa demanda interna era de 82 milhões de toneladas, hoje é de 91 milhões. Um dos fatores que auxiliam muito isso é o etanol, as usinas de etanol estão requerendo esse milho. Então, o mercado interno brasileiro acaba pagando mais por esse milho, porque se fosse isso o preço estaria muito pior”, alerta Bastos.
O head de commodities da Granel Corretora, Gilberto Leal, destaca que as usinas de etanol de milho são quem está mantendo o mercado do grão brasileiro girando neste momento, com negócios acontecendo tanto para a safra recém-colhida 2024/25 quanto para a próxima temporada 2025/26.
“Onde nós temos um corredor, principalmente aqui no norte do Mato Grosso, é para o etanol. Nós estamos com preços bem mais favoráveis do que o preço de paridade de exportação. A indústria tem pagado um prêmio superior ao preço de paridade de exportação e o produtor tem aproveitado tanto safra velha quanto safra nova. Então, o produtor mato-grossense tem optado em avançar um pouco mais no seu farmer selling no milho, tanto safra velha quanto safra nova”, diz Leal.
Na visão do head de commodities, é essa demanda interna das usinas de etanol de milho que está segurando os preços do cereal no Brasil neste momento, inclusive garantindo rentabilidade no sistema produtivo do agricultor.
“Nós temos sim uma demanda muito aquecida de mercado interno, da cadeia das rações e também do etanol, que tem sustentado o milho com preços favoráveis no interior. Isso impede que soframos com uma safra gigante que tivemos, nós não sofremos em termos de queda dos preços do milho no mercado interno brasileiro, principalmente devido a essa demanda de mercado interno aquecida. É o milho que tem sustentado em termos de margem o produtor do norte do Mato Grosso, principalmente devido às indústrias de etanol. Onde os corredores são mais dependentes de mercado exportador, têm sofrido um pouco mais em termos de preço”, destaca Leal.
O presidente da Abramilho, Paulo Bertolini, também destaca a importância desse consumo de milho por parte das usinas de etanol no Brasil para dar liquidez ao produtor, sustentar preços e fomentar o avanço da cultura, que pode seguir crescendo no país nos próximos anos.
“Se você pegar o histórico são algumas viradas que tivemos ao longo dos anos. Primeiro a tecnológica, na década de 70, com a Embrapa e a abertura de cerrados. Depois, a introdução do plantio direto e, mais recentemente, a adoção da biotecnologia. Tudo isso deu suporte técnico para a produção de milho no Brasil todo em diferentes épocas. Agora vem outra frente, as usinas de etanol. Isso tem impulsionado e feito a cultura do milho crescer no Brasil, hoje em torno de 140 milhões de toneladas, mas temos potencial muito maior.
As usinas de etanol geram demanda principalmente nas fronteiras agrícolas. O consumo local em função das usinas de etanol de milho é o que têm dado liquidez, possibilidade de contrato futuro, estabilidade e previsibilidade para o produtor. No Paraná, por exemplo, a instalação de duas grandes usinas de etanol de milho vai dar uma dinâmica diferente ao cereal e também influenciar o Norte de Santa Catarina, não só na segunda safra, mas inclusive na primeira safra.
Por Guilherme Dorigatti
Fonte: Notícias Agrícolas