Datagro avalia impacto de nova tarifa dos EUA sobre Brasil na exportação de açúcar e etanol


Por O Globo

Apesar da tarifa extra de 50% anunciada pelos Estados Unidos, os setores de açúcar e etanol do Brasil tendem a ser menos afetados, pelo menos em um primeiro momento, avalia relatório da consultoria Datagro. Mas isso não significa que sairão ilesos.

A Datagro calcula que a tarifa adicional de 50% anunciada por Donald Trump gere um custo extra de, aproximadamente, US$ 27,9 milhões por ano só para as exportações brasileiras de açúcar feitas via cota tarifária (considerando 150 mil toneladas, a US$ 371 por tonelada, com tarifa de 50%).

No caso do etanol, em 2024, o Brasil exportou 309,72 milhões de litros de etanol para os EUA, com preço médio de US$ 0,587 por litro. Com a nova tarifa, o custo adicional pode chegar a US$ 90,9 milhões por ano.

O Brasil embarcou 9,39 milhões de toneladas em produtos agropecuários para os EUA em 2024, aumento de 8,1% em um ano. Em valor, as exportações para o mercado norte-americano cresceram 23% para um recorde de US$ 12,08 bilhões, com produtos florestais (30,8%), café (17,2%) carnes (11,7%) e sucos (9,9%) entre os principais itens embarcados pelo Brasil para os EUA.

Por sua vez, o segmento de açúcar e etanol (6,6%) figurou em quinto lugar no ranking de produtos agropecuários brasileiros exportados para os EUA.

O Brasil exporta açúcar para os EUA dentro de um regime de cota tarifária, ou seja, um limite anual de exportação com imposto reduzido ou zero. O relatório cita que a tarifa anunciada por Trump, no entanto, atinge diretamente produtores e exportadores das regiões Norte e Nordeste, que são os principais beneficiados por esse sistema.

A explicação é que a Lei nº 9.362/96, dá prioridade à região Norte-Nordeste no acesso a mercados preferenciais para produtos derivados da cana. Essas localidades recebem anualmente uma cota de cerca de 146,6 mil toneladas de açúcar bruto, que pode ser exportado aos EUA com alíquota zero. Se esse limite for ultrapassado, a taxa pode chegar a 80%.

Segundo a consultoria, o volume é muito pequeno quando comparado com o que o Brasil produz e exporta no total. Só na safra 2025/26, a produção nacional de açúcar deve atingir 44 milhões de toneladas, com 34,5 milhões de toneladas exportadas, segundo dados da própria Datagro.

Mesmo para a própria região Norte-Nordeste, a cota americana é baixa: a produção regional está estimada em 3,8 milhões de toneladas, com exportações de 2,6 milhões de toneladas, segundo o texto.

Os Estados Unidos têm alegado que parte do desequilíbrio comercial entre os dois países está relacionado ao imposto de importação cobrado pelo Brasil sobre o etanol vindo de fora do Mercosul. Essa foi uma das explicações para a primeira taxação em fevereiro. Em 2024, o Brasil exportou 309 milhões de litros de etanol para os Estados Unidos e importou 110 milhões de litros do combustível produzido nos EUA, US$ 50,5 milhões.

O documento relembra ainda que o governo brasileiro tem tentado negociar com os EUA a redução da tarifa que o Brasil aplica sobre o biocombustível, hoje em 18%. Os norte-americanos cobram 2,5%. A ideia seria abrir mão parcial ou totalmente desse imposto se os EUA reduzirem também a tarifa sobre o açúcar brasileiro, que pode chegar a 80%. Até agora, porém, não houve acordo.

A alíquota do imposto de Importação do etanol tem passado por várias mudanças nos últimos anos. Foi de 20% até 31 de agosto de 2017 e depois foi zerado ao limite de 150 milhões de litros por trimestre.

Entre 23 de março de 2022 e 31 de janeiro de 2023, o governo brasileiro voltou a zerar o imposto de importação para qualquer volume de etanol vindo de países fora do Mercosul. Com o fim da isenção, o imposto subiu para 16% entre 1º de fevereiro e 31 de dezembro de 2023.

A partir de 1º de janeiro de 2024, passou a valer a alíquota atual de 18%. Entre fevereiro de 2023 e junho de 2025, o Brasil importou 205,14 milhões de litros de etanol dos EUA, com valor total de US$ 97,82 milhões, uma média mensal de 7,07 milhões de litros e US$ 3,37 milhões, segundo a Datagro.

Fonte: NovaCana