Crédito de carbono das usinas, lastreado e armazenamento de CO2 no solo, vale mais

O valor de mercado dos créditos de carbono lastreados em CO2 armazenado no solo é maior do que créditos provenientes, por exemplo, do replantio de árvores. A explicação vem de um dos principais especialistas brasileiros em captura, transporte e armazenamento de CO2 no subsolo, ou CCS – captura e armazenamento de carbono, em inglês.

Segundo o geólogo Milas Evangelista de Souza, ex-Petrobras, o tema tem forte potencial para a criação de renda adicional para usinas produtoras de etanol, a partir de uma nova modalidade de geração de créditos de carbono. Souza será um dos palestrantes do ‘Carbonless Summit’, evento marcado para os dias 04 e 05 de novembro na capital paulista que vai destacar as grandes oportunidades de negócios que a atividade de CCS traz para o setor sucroenergético.

Com a participação de especialistas do Brasil, Canadá, Estados Unidos, Europa e Arábia Saudita, o encontro vai examinar temas como a utilização de tecnologias amadurecidas pelo setor de petróleo para viabilizar o armazenamento de carbono e com isso, aumentar ainda mais a redução de emissões atingida pelo uso do etanol.

Segundo o especialista, o crédito de carbono oriundo da atividade de CCS na produção de bioenergia, como é o caso das usinas de etanol, tem maior valor financeiro por dois motivos: primeiro porque é considerado um crédito de remoção de CO2 da atmosfera e não de redução de emissões; e segundo, porque é capturado, transportado e armazenado de forma segura e permanente, por tempo indeterminado, com baixo risco de seu retorno à atmosfera – diferentemente do reflorestamento, que é suscetível ao desmatamento e às queimadas, que podem liberar novamente o CO2 para a atmosfera.

“Por isso, ao ‘confiar’ mais na eficácia, na entrega ambiental do crédito de carbono de CCS, que ficará estocado eternamente em reservatórios geológicos, o mercado majora seu preço,” explica Souza.

A operação de CCS passa por tecnologias desenvolvidas e aperfeiçoadas na extração de petróleo. Os mesmos equipamentos que injetam carbono para auxiliar o bombeamento do petróleo agora estão prontos para ampliar a sustentabilidade do setor sucroenergético, em particular do etanol, abrindo caminho para uma pegada negativa de carbono de um segmento que hoje já reduz em até 90% as emissões de gases de efeito estufa.

Everton Oliveira, um dos organizadores do evento e presidente da Hidroplan, acentua a grande oportunidade que surge na cadeia produtiva do setor sucroenergético, já que o carbono gerado na fabricação de etanol está praticamente pronto para ser estocado, devido ao seu elevado grau de concentração – diferentemente de outros setores em que o CO2 precisa ser separado de outros gases.

“As mais de 360 usinas que produzem etanol no Brasil têm a oportunidade de fazer do País o líder global nesse mercado, abrindo as portas para o acesso aos créditos de carbono e criando mais uma fonte de receita para as usinas”, explica Oliveira.

A atividade de CCS no setor de etanol pode resultar em ganhos financeiros para as usinas tanto por meio da geração e comercialização de créditos de carbono como também pela certificação do biocombustível como “zero emissor” ou “emissor negativo”. Isso permite que o etanol seja monetizado com ágio em mercados internacionais que valorizam este atributo.

“Neste sentido, o Projeto de Lei do Combustível do Futuro chega para estabelecer o marco-regulatório de CCS no país, determinando as diretrizes gerais para a atividade. A nova lei vai dar o arranque definitivo do tema no Brasil, destravando projetos já engatilhados, que avançam agora para a fase de real implantação”, destaca a diretora da CCS Brasil, Isabella Morbach, entidade que participou das discussões técnicas para elaboração da legislação, e que juntamente com a Hidroplan organiza o encontro.

Potencial em números

O Brasil tem potencial de captura de carbono em torno de 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano, considerando nosso nível atual de atividade econômica. Neste sentido, o mercado brasileiro de CCS tem perspectiva de movimentar entre R$ 14 a R$ 20 bilhões anuais, com participação significativa do setor da cana, indicam estimativas da CCS Brasil.

Já o mercado mundial de CCS tem potencial para movimentar US$ 3,54 bilhões em 2024, com estimativa de atingir US$ 14,51 bilhões em 2032. A projeção é de Mohammed Gad, CEO e fundador da consultoria saudita Technical Development Solutions (TDS), sediada em Riade, capital da Arábia Saudita, especializada no segmento de CCS. Gad também será palestrante no Carbonless Summit.

SERVIÇO:
Carbonless Summit
Dias 04 e 05 de novembro de 2024
Auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo (CREA-SP)
Avenida Angélica, 2364 – São Paulo, SP

DETALHES E INSCRIÇÕES:
https://carbonless.org.br/