
A compressão de margens com o açúcar girando entre 13,85 e 15 cents de dólar por libra/peso e a perspectiva de um ciclo menos favorável exigem uma mudança estrutural na gestão de manutenção das usinas, afirmou Dário Wilian Sodré, diretor da D2G Consultoria Empresarial, na palestra “Eficiência e inovação na manutenção automotiva no setor sucroenergético: estratégias para mitigar custos de manutenção em cenários de preços de produtos desfavoráveis”, durante o IX Seminário GMEC 2025, realizado recentemente, em Ribeirão Preto – SP. Segundo ele, o tema deixou de ser assunto de “entressafra” e passou a ser determinante para a sobrevivência do negócio.
Sodré lembrou que, em 1990, um gerente de manutenção respondia, em média, por US$ 1 por tonelada de cana; hoje, essa responsabilidade chega a US$ 5 por tonelada, em um ambiente de mecanização total e máquinas cada vez mais tecnológicas, com GPS, IoT, telemetria e machine learning embarcados. “O custo de manutenção só tende a aumentar. A diferença é se isso vira resultado ou apenas mais pressão sobre a margem”, disse. Pelos cálculos apresentados, com um ATR médio em torno de 137 kg/t, as usinas já destinam 26 kg de ATR por tonelada apenas para pagar a conta de manutenção, ante 19 kg/t no passado recente.
O consultor criticou a dependência do indicador de CRM por tonelada como única referência e defendeu o uso sistemático de custo por hora e por hectare como medida real de eficiência da manutenção. Ele mostrou dados de benchmark da D2G com 78 usinas, que somam 250 milhões de toneladas de cana, indicando CRM médio de R$ 23,15/t em 2023, salto relevante após a pandemia. As peças, disse, começam a retornar a patamares próximos de 2020 e 2021, mas a grande distorção está na mão de obra: “Em dez anos, a participação da mão de obra no CRM saiu de 25% para até 41% em algumas plantas, com alta de 40% nos salários no período”.
Para Sodré, não há OPEX eficiente sem política de CAPEX consistente. Ele citou que o setor investe hoje de R$ 8 a R$ 12 por tonelada em renovação de frota e infraestrutura, enquanto um projeto greenfield exige R$ 125/t de cana de capacidade instalada. “Querer operar colhedora por dez anos, trator por vinte e carreta por cinquenta é possível, desde que se aceite um custo de manutenção explosivo”, afirmou. Ao mesmo tempo, alertou para o risco de decisões de curto prazo em pessoal: em um mercado com vagas abertas há meses para mecânicos e técnicos, cortar quadros por causa do preço do açúcar é, na sua visão, “uma economia que cobra juros altos”.
Os números de maturidade também preocupam. O índice de maturidade de manutenção automotiva desenvolvido pela D2G, que vai de 0 a 100, mostra média de 30,46 pontos, com a melhor usina em 56,10 e a pior em 2,58. Cerca de 60% das intervenções ainda são corretivas e mais de 65% das usinas não conseguem extrair adequadamente dados e informações dos sistemas de gestão, o que impede o uso pleno de ferramentas de engenharia de confiabilidade, análise de óleo, LDA (análise de durabilidade) e predição de falhas. “Quando 60% da manutenção é corretiva, não é você que gerencia o ativo; é o ativo que gerencia você”, resumiu.
Ao detalhar cases em Brasil e América Latina, Sodré citou ganhos com manutenção linearizada (sem divisão rígida entre safra e entressafra), uso de veículos dedicados para preditiva em colhedoras e projetos de engenharia de confiabilidade que reduziram orçamento por tonelada em até 9% em três anos, mesmo após o pico inflacionário pós-pandemia. Ele também apontou ineficiências clássicas que ainda consomem caixa: logística de abastecimento mal planejada, diferença de consumo de diesel entre operadores que pode gerar perdas de até R$ 10 milhões por safra em grandes grupos, estoques obsoletos estimados em R$ 2 por tonelada de cana e falta de controle efetivo de pneus.
Sodré encerrou a palestra defendendo um salto cultural na forma de gerir ativos. Para ele, a vantagem competitiva entre usinas não está mais no “segredo de processo”, mas na velocidade e qualidade das decisões apoiadas em dados confiáveis. “Queremos algoritmos de IA de nível NASA para decidir manutenção, mas continuamos preenchendo OS com dado errado ou incompleto. Aí, quando vamos buscar inteligência, o que sai é lixo. O sucesso que trouxe o setor até aqui não garante o sucesso daqui para frente”, concluiu.
Fonte: Cana Online