Não é novidade que o etanol fabricado a partir do milho está em plena expansão no Brasil. No acumulado da safra 2023/24 até a segunda quinzena de fevereiro foram produzidos 5,7 bilhões de litros do renovável a partir do grão, de acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica).
Com uma matéria-prima barata e a abertura de novos mercados com os coprodutos, há cada vez mais investimentos surgindo para usinas que processam o milho. A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) prevê que a produção poderá alcançar 10 bilhões de litros em 2030, o que representaria mais de 20% do mercado brasileiro do biocombustível.
Mas, além dos parques industriais dedicados apenas ao grão, chamados de full ou stand-alone, também há uma oportunidade para as plantas que já fabricam o biocombustível a partir da cana-de-açúcar. A integração das duas matérias-primas ficou conhecida como “flex”.
As perspectivas e os desafios da adaptação para estes novos modelos foram tema de um dos painéis da conferência de abertura de safra da Datagro, que ocorreu no início de março.
Para os palestrantes, cana e milho podem ser complementares. A usina do grão, por exemplo, pode se beneficiar do bagaço da cana-de-açúcar em suas caldeiras, diminuindo o custo com a compra de biomassas. Além disso, a operação com o milho também pode rodar durante o período de entressafra da gramínea, aumentando o tempo de operação da usina.
O pesquisador e chefe de relações internacionais da Embrapa, Marcelo Morandi, aponta que o primeiro estudo relacionando as duas matérias-primas foi encomendado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2013. Utilizando uma usina de etanol de milho dos Estados Unidos como base comparativa, ele informa que já naquela época foi verificado que a integração trazia potencial de crescimento.
Ele ainda exemplifica que, nos últimos vinte anos, a produtividade do milho brasileiro praticamente dobrou, enquanto a da cana-de-açúcar se manteve estável: “Vemos uma alta na produção de etanol de milho, mas essa integração fortalece as duas cadeias”.
Já o CEO da JBR Engenharia Industrial, João Bortolussi, afirma que as unidades de cana geralmente encontram potencial de mercado com a adição da nova matéria-prima. “Seja pela proximidade do milho, excedente de bagaço ou até mesmo de vapor”, detalha.
Ao mesmo tempo, Bortolussi esclarece que a capacidade de produção das plantas flex de milho tende a ser menor do que a das full porque o principal negócio é a cana-de-açúcar. Neste caso, o grão vem como um aditivo no nível de faturamento, com as usinas fazendo alguns ajustes para encaixar o seu processamento, aproveitando a produção de etanol durante todo o ano.
Íntegra da matéria: NovaCana (para assinantes)