Brasil tem potencial para expandir consumo de etanol em 21 estados

CEO da SCA Brasil, Martinho Ono, marcou presença no painel que reuniu lideranças
da indústria de biocombustíveis – Foto: Sérgio Ferreira/SCA Brasil

Embora o Brasil possua a maior frota de automóveis flex do mundo, o consumo nacional de etanol hidratado ainda apresenta forte concentração geográfica. Atualmente, 80% do volume comercializado no país se restringe apenas a seis estados – São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que juntos somam 55% do total de veículos flex. Na prática, significa que 45% de veículos bicombustíveis que circulam nos demais 21 estados e no Distrito Federal consomem somente 20% do etanol produzido.

Para o CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono, esse desequilíbrio na distribuição e venda revela tanto um desafio logístico quanto uma oportunidade de expansão para o setor. “Fatores como a infraestrutura de postos, a competitividade de preços em relação à gasolina e políticas tributárias regionais explicam parte desta disparidade. Com a reforma tributária prevista para 2027 e a expansão da produção de etanol de milho, a expectativa é que o acesso ao combustível possa se tornar mais amplo em todo o território nacional”, observa.

O executivo participou do painel “Expansão global do etanol”, realizado nesta quarta-feira (13/08), durante o primeiro dia da FenaBio, evento integrado à 31ª Fenasucro & Agrocana, realizado em Sertãozinho (SP). Além de Ono, o encontro, que teve a curadoria da MediaLink Corporate Communications, reuniu importantes lideranças da indústria de biocombustíveis para discutir o futuro do etanol no Brasil e externamente.

O debate, mediado pelo diretor da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), Luciano Rodrigues, reuniu o presidente da Associação dos Produtores de Açúcar Etanol e Bioenergia (NovaBio), Renato Cunha, o CEO da Evolua Etanol, Pedro Paranhos, o diretor de Assuntos Governamentais da Toyota do Brasil, Rafael Luiz Ceconello, e o diretor comercial da FS Fueling Sustainability, Paulo A. Trucco da Cunha.

Além das oportunidades globais, como o uso do etanol para navegação marítima, a fabricação de combustíveis sustentáveis para aviação (SAFs, na sigla em inglês) e novas políticas de mistura de combustíveis renováveis aos fósseis no mercado internacional, Martinho Ono reforçou que o Brasil continua sendo a maior fronteira de expansão para o etanol. O crescimento da produção do biocombustível a partir do milho e o aumento do consumo interno seriam, segundo ele, fundamentais para absorver o volume crescente de produção nos próximos anos.

Potencial de mercado e obstáculos

Segundo o CEO da SCA Brasil, com 78% da frota automotiva composta por modelos flex, apenas 24% abastecem com etanol. “Ou seja, há uma diferença de 54 pontos percentuais, o que representa clara oportunidade de crescimento no consumo de hidratado. Cada ponto percentual de avanço na participação do ciclo Otto significa 850 mil metros cúbicos adicionais. Se a participação subisse de 24% para 30%, o aumento seria de cerca de 5 milhões de litros”, ressalta Ono.

O executivo pontua ainda que o desempenho do consumo do biocombustível em estados como São Paulo, onde a participação no ciclo Otto está acima de 42%, e no Mato Grosso, com mais de 50%, prova que o aumento no uso do hidratado é viável no restante do país: “Em diversas unidades da federação, o renovável não chega a 8% de participação, e muitos postos sequer possuem bombas de etanol”.

Medidas para impulsionar o consumo

Considerada a Reforma Tributária como solução essencial de curto prazo para aumentar a competitividade do biocombustível frente à gasolina, outra aposta é a expansão da produção de etanol de milho, que já começa a chegar a estados não produtores de cana-de-açúcar, reduzindo custos logísticos e ampliando o acesso ao produto. Ono lembra que a produção de cana está estagnada há mais de dez anos, em 600 milhões de toneladas no Centro-Sul e 60 milhões de toneladas no Norte e Nordeste, enquanto o milho apresenta forte crescimento.

Dados da SCA Brasil indicam que na safra sucroenergética 2024-2025, encerrada em março, a produção de etanol de cana caiu 2% (para 26,76 bilhões de litros) em comparação com o ciclo agrícola anterior, mas a de milho garantiu recorde histórico, saltando 31% e atingindo 8,19 bilhões de litros. No período 2025-2026, a expectativa é chegar a 10 bilhões de litros anuais, segundo informações da União Nacional do Etanol de Milho (UNEM).

Comunicação com o consumidor

Durante sua participação no painel de debates, o CEO da SCA Brasil defendeu uma comunicação mais ampla e assertiva com os consumidores. Segundo Ono, medidas recentes adotadas pelo governo, como a elevação de 30% na mistura de anidro na gasolina (E30) e a adoção da monofasia no imposto federal, trouxeram vantagens competitivas para o biocombustível, mas não foram devidamente compreendidas pelo público em geral por falhas na divulgação destes avanços regulatórios.

“Falamos muito dos benefícios dos biocombustíveis, mas o segmento comunica mal. Precisamos mostrar ao consumidor todas as externalidades positivas do etanol”, enfatiza o executivo.