Por Nayara Machado
Quarto maior destino dos investimentos chineses no mundo, e o principal na América Latina, o Brasil deve aproveitar a parceria com o país asiático para desenvolver a cadeia de biogás, disse nesta quarta (17/4) a senadora Tereza Cristina (PP/MS).
A produção brasileira de biogás mais que duplicou nos últimos cinco anos. Ao todo, foram produzidos 2,88 bilhões de m3/ano, para aproveitamento energético, em 2022, um crescimento de 110% em relação aos volumes de 2018, de acordo com o Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás (CIBiogás).
Mas esse aproveitamento ainda está muito aquém. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), apontam que o potencial técnico energético do biogás de resíduos no Brasil passa dos 80 Mtep até 2031, o equivalente a 25% da demanda energética nacional.
“O biogás de rejeitos da agropecuária é um segmento de possível colaboração [com a China]. O Brasil já tem alguma estrutura nessa área, mas aquém do nosso potencial”, disse Tereza durante evento de comemoração dos 50 anos da relação Brasil-China.
“A China é líder, detém capital e tecnologia. Podemos tentar atrair investimentos chineses diretos nessa área, que tem potencial para gerar energia limpa e lidar com rejeitos de forma sustentável socioeconômica e ambientalmente, e descarbonizar a cadeia de proteína animal”, completou a senadora.
O relançamento das relações sino-brasileiras, durante a visita de Lula à China em 2023, colocou na pauta a economia de baixo carbono e a transição energética.
A China atua em diferentes negócios no setor de energia no Brasil, desde fornecimento de equipamentos a geração de energia, passando pelo mercado de carros elétricos.
O país asiático é referência na indústria de bens e serviços para renováveis, além de liderar as instalações globais de eólica e solar.
Com a parceria renovada, Brasil e China agora querem aproveitar suas posições para cooperar em áreas como neoindustrialização e reforma da governança global, para torná-la mais representativa – isto é, deslocar a agenda climática da Europa para países emergentes.
O que significa ampliar mercados para os bios (biomassa, bioenergia, biocombustíveis), ou, em última análise, produtos do agronegócio que enfrentam barreiras ambientais europeias.
Significa também explorar a projeção brasileira no cenário internacional, já que o país preside o G20 este ano, e sediará a conferência climática das Nações Unidas (COP30) em 2025.
Em busca de investimentos verdes
Para o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, as oportunidades de investimentos para os chineses são muitas:
“Novo PAC, infraestrutura, energia renovável, automotiva, carros híbridos, veículos elétricos, complexo da saúde, indústria aeronáutica. É difícil uma área que não haja uma parceria entre Brasil e China, uma amizade que só se consolida e que avança”.
Alckmin também participou do evento organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) nesta manhã.
E defendeu que o contexto econômico atual é favorável para atrair novos negócios, com a queda do Risco Brasil, de 258 pontos, para 130, junto com recuos na inflação, desemprego e taxas de juros.
“Subiu o PIB, avançou a economia, cresceram as exportações e a China tem papel extremamente relevante nisso”, comemorou, citando investimentos das montadoras BYD e GMW em fábricas no Brasil para produção de elétricos e híbridos.
Acordo bilateral
Em declaração conjunta assinada em abril do ano passado, Brasil e China se comprometeram com um diálogo bilateral para promover a transição energética e a mitigação das emissões de gases de efeito estufa (GEE) “de forma justa e equitativa”, globalmente.
Os dois indicam a intenção de cooperar em pesquisas para desenvolver tecnologias de descarbonização, com ênfase em bioenergia, hidrogênio e combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, na sigla em inglês). E observam a necessidade de considerar as características regionais.
A China, por exemplo, é altamente dependente de carvão, embora tenha lançado mão de políticas nos últimos anos para alavancar a expansão de renováveis na geração interna. O país asiático também concentra 80% do suprimento global para painéis solares.
CURTAS
Combustível do Futuro
A Petrobras mudou o discurso e passou a defender a participação do seu diesel coprocessado, também chamado de diesel R, no mandato que será criado para o diesel verde no PL do Combustível do Futuro.
O texto do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) aprovado na Câmara em março deixou de fora a rota que processa óleos vegetais junto com o fóssil nas refinarias. Até então, a estratégia da petroleira era disputar o mercado do biodiesel.
GNL em rota do agro
O CEO da Eneva, Lino Cançado, afirmou que a companhia vê na frota movida à Gás Natural Liquefeito (GNL) do agronegócio do Matopiba um mercado promissor para o gás natural produzido no Complexo do Parnaíba (MA). Hoje, as operações da companhia na Bacia do Parnaíba somam uma capacidade de produção de 8,4 milhões de m3 de gás natural por dia.
Resíduos para indústria de cimento
O Grupo Orizon iniciou a produção do combustível com menor teor de carbono em sua Unidade de Triagem Mecanizada, em Jaboatão dos Guararapes, a maior da América Latina.
Gerado a partir de resíduos sólidos urbanos, o combustível mira as cimenteiras e caldeiras do nordeste do País, segmentos com alta demanda por recursos energéticos, que se movimentam em busca de alternativas para a redução de carbono.
J6 planeja investir R$ 1,6 bi em renováveis
A empresa do Grupo JMalucelli tem planos de desenvolver 70 MWp em usinas fotovoltaicas e 95 MW em usinas hidrelétricas no Brasil até 2029, tanto para geração distribuída como produção independente. As operações estão localizadas nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste e Nordeste.
Em seu mais novo empreendimento, a empresa vai inaugurar, no dia 24 de abril, três usinas fotovoltaicas em geração distribuída, com potência instalada total de 3 MW, no município de Trindade, em Goiás.
Energisa e Octopus fecham parceria
O foco é a implantação de energia renovável de baixo custo em grande escala em todo o Brasil. A parceria inclui transferência de conhecimento, licenciamento de tecnologia e possíveis joint ventures.
A inglesa Octopus atua no varejo com uma plataforma que utiliza inteligência artificial para ligar todos os pontos da cadeia de valor da energia. Após a transferência de expertise tecnológica, as empresas trabalharão juntas para otimizar a gestão das baterias e dos parques solares da (re)energisa.
Clima extremo
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, viveu ontem (16) seu maior dia de chuva em 75 anos: foram 120mm em 24 horas, um volume equivalente à chuva esperada para o ano todo na cidade. A tempestade incomum causou inundações generalizadas, interrupções em viagens e muitos danos por todo o país, que no ano passado sediou a conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática.
Fonte EPBR