
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou um financiamento de R$ 384,3 milhões para o primeiro projeto brasileiro de captura e estocagem de carbono de fonte biogênica (BECCS), desenvolvido pela FS Indústria de Biocombustíveis na unidade de Lucas do Rio Verde (MT). A iniciativa representa um marco tecnológico para o setor de biocombustíveis e para a agenda climática nacional, consolidando o país entre os pioneiros globais no uso de soluções de emissões negativas.
Com apoio do BNDES Mais Inovação, a FS construirá uma unidade completa para compressão, injeção e armazenamento permanente de CO₂ em reservatórios profundos da Bacia dos Parecis, diretamente abaixo da planta industrial. O projeto utilizará uma adaptação da tecnologia Carbon Capture and Storage (CCS) aplicada ao etanol de milho, criando uma planta BECCS com potencial para remover da atmosfera 100% das emissões de processo da unidade, cerca de 423 mil toneladas de CO₂ por ano.
Um marco para a descarbonização da indústria de biocombustíveis
A iniciativa da FS é considerada um divisor de águas para o setor de etanol de milho, que nos últimos anos ganhou relevância crescente na matriz energética brasileira. Com o BECCS, a empresa fortalece sua estratégia de produzir o combustível com a menor pegada de carbono do mundo, combinando captura de emissões, uso de milho de 2ª safra e biomassa renovável em seu processo produtivo.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou o alinhamento do projeto à política de transição energética do governo federal. Antes de sua declaração oficial, o banco ressaltou que o financiamento integra uma agenda mais ampla de incentivo a tecnologias limpas e modelos industriais de baixo carbono.
“O financiamento aprovado pelo BNDES reforça o compromisso do Banco, que atua em sintonia com a agenda de transição energética do governo do presidente Lula, de contribuir com a descarbonização no país e com a implementação de um ativo mercado de carbono. A remoção de 423 mil toneladas de CO₂ da atmosfera por ano contribui com o compromisso do governo brasileiro de redução de emissões de gases de efeito estufa firmado no Acordo de Paris”.
Tecnologia BECCS: a fronteira das emissões negativas
Globalmente, a tecnologia Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS) vem ganhando relevância como uma das poucas rotas industriais capazes de gerar emissões negativas em larga escala. Embora já existam projetos em implementação nos Estados Unidos e no Canadá, a iniciativa da FS se destaca por ser a primeira da América Latina dedicada ao etanol de milho.
A planta deverá injetar o CO₂ em estruturas geológicas salinas profundas, garantindo armazenamento permanente, uma etapa crucial para a certificação futura de créditos de carbono de alta qualidade, cada vez mais demandados por mercados internacionais.
O CEO da FS, Rafael Abud, contextualizou o papel estratégico da tecnologia para o futuro da companhia antes de sua declaração oficial. Ele ressaltou que o BECCS não apenas consolida a visão de sustentabilidade da empresa, como também abre oportunidades comerciais inéditas.
“O BECCS representa um avanço decisivo na nossa trajetória de sermos referência global em combustível de pegada de carbono negativa. Essa tecnologia abre novos mercados, como o de créditos de carbono, e posiciona o Brasil na vanguarda da transição energética”.
Impactos para o setor elétrico e bioenergético
Embora o foco principal seja a captura de carbono, o projeto também tem impactos indiretos na matriz energética, devido ao papel da biomassa na produção de bioeletricidade integrada ao processo industrial da FS. O avanço de projetos BECCS no Brasil tende a ampliar a competitividade do etanol e fortalecer a participação da bioenergia em mercados internacionais, especialmente em programas de descarbonização de combustíveis para aviação e transportes pesados.
Além disso, a inclusão de projetos de emissões negativas pode influenciar o mercado regulado e voluntário de carbono no país, em um momento em que o governo federal avança na estruturação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE).
FS: liderança em etanol de milho e sustentabilidade
A FS é a primeira indústria brasileira a produzir etanol utilizando milho em 100% da matéria-prima. Com três unidades em Mato Grosso (Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste), a companhia soma capacidade instalada superior a 2,6 bilhões de litros de etanol por ano, além de produzir coprodutos como DDG para ração animal, óleo de milho e bioeletricidade.
A empresa mantém uma agenda de sustentabilidade alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e ao Acordo de Paris, com metas de longo prazo até 2030. O projeto BECCS é considerado central para acelerar esse compromisso.
Fonte: Cenário Energia