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DE OLHO NO BIODIESEL BOLETIM SEMANAL DE MERCADO DA SCA BRASIL (10 a 14/02/2025)
A semana passada foi marcada por pressões em múltiplas frentes. As mais relevantes são questões logísticas na cadeia da soja por causa de atraso significativo na colheita, principal matéria-prima utilizada para a produção no Brasil, bem como crescentes preocupações com fraudes no cumprimento do mandato de mistura, em um contexto de transição para a mistura de 15% de biodiesel no diesel.
A colheita da safra brasileira de soja 2024-2025 atingiu 23,4% da área total até 13 de fevereiro, segundo a AgRural, ficando abaixo dos 32,4% do mesmo período do ano anterior e levemente acima da média histórica de 22,3%. Mato Grosso (MT), apesar do atraso, assumiu a liderança dos trabalhos com pequena vantagem sobre o Paraná (PR). Apesar do ritmo mais lento, as produtividades têm surpreendido positivamente, especialmente no Centro-Oeste.
A principal preocupação atual está no Rio Grande do Sul, onde o forte calor, com temperaturas chegando a 40°C em Passo Fundo, têm causado perdas irreversíveis de potencial produtivo, reduzindo expectativas de 60 para 45-50 sacas por hectare (ha) em algumas áreas.
Os modelos climáticos para os próximos 15 dias indicam um padrão regular de chuvas nas faixas Norte e Sul do Brasil, enquanto a região central terá precipitações irregulares, mas com períodos favoráveis para a colheita da soja. O Centro-Norte do MT, Rondônia (RO) e áreas do MATOPIBA devem enfrentar chuvas consistentes que podem atrasar os trabalhos no campo.
Para o sul da América do Sul, incluindo o Rio Grande do Sul, são previstas chuvas expressivas, porém tardias para reverter as perdas causadas pela recente onda de calor e seca. As regiões Sudeste e Central do Brasil terão predominância de tempo aberto na próxima semana, mas com temperaturas acima da média.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) revisou suas projeções para o complexo soja em 2025, mantendo sua projeção de safra recorde em 171,7 milhões de toneladas e exportações de grãos em 106,1 milhões, mas reduziu a estimativa de estoques finais para 8,96 milhões de toneladas, uma queda de 800 mil toneladas em relação à projeção anterior.
A projeção para o esmagamento foi de 57,5 milhões de toneladas, um aumento de 400 mil toneladas em relação à estimativa anterior. A produção de óleo de soja deverá atingir 11,45 milhões de toneladas, impulsionada pelo aumento do mandato de biodiesel, enquanto as exportações do produto foram estimadas em 1,1 milhão de toneladas.
Os embarques brasileiros de soja até 12 de fevereiro totalizaram 3,76 milhões de toneladas, um volume de 2 milhões de toneladas inferior ao mesmo período do ano passado, fortalecendo os prêmios de exportação da soja brasileira, especialmente para embarques em março, refletindo as dificuldades logísticas e os custos adicionais de demurrage nos portos. Este cenário pode impactar a disponibilidade de matéria-prima para a produção de biodiesel no mercado doméstico nas próximas semanas. O contrato de março/25 de óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago (CBOT) fechou em 46,07 cents/libra na sexta-feira, uma variação de 0,2% na semana, enquanto os prêmios do óleo de soja em Paranaguá variam mais de 200 pontos, fechando a semana em 3,90 cents/libra. Desta forma, o flat price do óleo de soja FOB Paranaguá registrou uma valorização de 4,8%, fechando a semana a US$ 1.102/ton.
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Segundo levantamento da SCA Brasil, o mercado spot de biodiesel comercializou 1.270 m³ na semana, uma expressiva redução de 86% em relação à semana anterior, com um preço médio de R$ 5.711/m³, com PIS/COFINS e sem ICMS, em linha com a semana anterior. Esta baixa liquidez deveu-se ao início das negociações para a contratação do produto para o segundo bimestre de 2025, com os produtores preferindo ficar fora do mercado spot. No entanto, o ritmo dos fechamentos dos negócios permaneceu lento por causa da ausencia de ofertas de alguns produtores importantes até o final da semana.
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Depois de relatório publicado na semana anterior pelo Instituto Combustível Legal (ICL) relatando possíveis fraudes na mistura de biodiesel em São Paulo e Paraná, a divulgação de um áudio em que uma executiva de uma distribuidora de combustíveis oferecia diesel sem biodiesel a um TRR, com a emissão de documentação fraudulenta, reacendeu a pressão do mercado sobre as irregularidades na mistura do biodiesel ao diesel. O Sindicom, sindicato que representa as maiores distibuidora do país, cogitou solicitar à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) uma suspensão temporária da mistura obrigatória.
Em resposta à situação, uma reunião na Frente Parlamentar do Biodiesel no Congresso Nacional criou um grupo de trabalho para discutir medidas de combate às fraudes, incluindo o fortalecimento da fiscalização da ANP e possíveis alterações na legislação. A ANP, por sua vez, afirma ter intensificado suas ações de fiscalização, destacando que em janeiro de 2025, 4,7% das 1.794 amostras coletadas pelo PMQC estavam não conformes, número bem inferior ao reportado pelo ICL.
De acordo com a atualização mais recente nos preços semanais realizada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio negociado entre usinas e distribuidores na primeira semana de fevereiro (03 a 09/fev) ficou em R$ 5.915, redução de 2,8% em relação ao valor médio da semana anterior. Os preços diminuíram em todas as regiões brasileiras com destaque para a Sul, caindo 3,0%. O mercado acumula no ano uma redução de 6,6%.
Para a próxima semana, o mercado deverá acompanhar a evolução da colheita da soja, notícias oriundas da próxima reunião do grupo de trabalho da Frente Parlamentar prevista para a quarta-feira desta semana e a finalização da rodada de negociação para a contratação de biodiesel.