Aos 100 anos, usina do Paraná quer investir em etanol de milho e biometano

Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) – Foto: Divulgação/CMNP

A centenária Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP) já passou por muitas fases e setores de atuação. Responsável pela colonização do norte paranaense, o grupo já se desfez de ativos em negócios como cimento e ferrovias, construiu sua primeira destilaria no auge do Proálcool, e até comprou uma usina de cana há três anos, quando muitos estrangeiros deixavam o segmento. Agora, com a ascensão de novos mandatos para biocombustíveis, já estão em suas pranchetas projetos para construir uma planta de etanol de milho e uma de biometano.

Os estudos para erguer uma usina de etanol de milho começaram há pouco mais de um ano, revela Gastão Mesquita, sócio e CEO da companhia, em entrevista ao Valor, concedida no dia 24, data em que o grupo completou 100 anos.

O plano é que a indústria seja construída ao lado da Usina Jussara, primeira unidade sucroalcooleira do grupo, em município homônimo no Paraná, uma região com grande produção de milho. Para viabilizar o investimento, a CMNP já teve conversas com a cooperativa Cocamar, que tem sede em Maringá, no norte do Estado.

A tendência é que a cooperativa possa fornecer milho e ser compradora do DDGs (grãos secos de destilaria) para as granjas dos cooperados. Procurada, a Cocamar disse que não iria se manifestar, mas que “segue atenta às possibilidades que possam agregar valor aos nossos cooperados e à região do norte do Paraná”.

Pelo projeto traçado, a unidade anexa à Usina Jussara terá capacidade de processar 120 mil toneladas de milho por safra, gerando R$ 300 milhões em receita ao ano.

Uma facilidade para colocar o projeto de pé é a energia cogerada do bagaço de cana que hoje é vendida pela CMNP no mercado spot. “Nem toda a energia da cogeração é contratada [em leilões]. Parte é spot. Para o etanol de milho, deixaríamos de vender para consumir na planta”, disse. A decisão de investimento, porém, ainda não foi tomada. “Vai ser uma decisão no momento certo”, resumiu.

Em paralelo, a companhia avalia construir uma planta de biometano. O plano faz parte da iniciativa da Copersucar, da qual a CMNP é sócia, de fomentar a produção entre suas associadas para se tornar o maior player do setor.

Segundo Mesquita, a decisão só depende da avaliação de qual tecnologia utilizar. O mapeamento de mercado já foi feito pela Copersucar, que indicou haver demanda na indústria local.

Ele ressaltou que, para destravar o projeto, é importante que o negócio não seja voltado inicialmente apenas para consumo interno. “Ainda não tem muito caminhão a biometano. Quando os caminhões ficarem velhos, o que se faz com a frota?”.

Operação

Enquanto os planos de investimento não saem do papel, a CMNP quer melhorar sua eficiência e preencher a capacidade de suas três usinas. Atualmente, a empresa consegue processar até 8 milhões de toneladas de cana por safra, mas na safra passada moeu 7 milhões de toneladas.

No ciclo atual, a expectativa é processar o mesmo volume, devido a algumas geadas que atingiram o Paraná em maio e também pela seca de 2024. Com isso, a receita também deve se repetir e alcançar R$ 1,6 bilhão, estimou.

Para alcançar a capacidade máxima, a empresa trabalha com projetos de expansão do cultivo. Por estar em uma região forte em grãos, a CMNP vem negociando com os produtores locais o cultivo de soja no período de reforma dos canaviais.

“Temos parceiros em Jussara e em Cianorte. Os maiores plantadores de soja da região arrendaram a terra para nós, e nós nos comprometemos em plantar grãos em área de reforma de canavial. Eles gostaram, porque passaram a ter duas receitas: com cana e com grão”, contou Mesquita.

Já para evitar os impactos das geadas, frequentes no norte paranaense, Mesquista disse que a empresa prefere plantar variedades de canas precoces nas baixadas. Assim, no inverno, quando as geadas atingem esses locais, as lavouras já foram colhidas. E, para driblar a seca, a solução vem sendo a irrigação. É a realidade da Usina Vale do Paraná, unidade de Suzanópolis (SP) que a CMNP comprou dos grupos Manuelita e Pantaleon.

Por Camila Souza Ramos

Fonte: Globo Rural