Alta dos fertilizantes podem elevar em 8,5% o custo da próxima safra de milho

O principal impulsionador da expansão foi o etanol fabricado a partir do milho — Foto: Wenderson Araújo/CNA

O Brasil caminha para fechar a safra 2024-2025 de milho como a segunda maior da história, com produção estimada em 130 milhões de toneladas, segundo a Consultoria Agro do Itaú BBA. O bom desempenho é sustentado principalmente pela segunda safra, que se desenvolveu sob condições climáticas favoráveis e deve responder por até 110 milhões de toneladas do total.

Para a temporada 2025-2026, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta uma safra brasileira de 131 milhões de toneladas, com aumento de 1,3% na área plantada em relação ao ciclo anterior. A equipe do Itaú BBA estima crescimento de 1,5% na área total, chegando a 22,6 milhões de hectares. “Consideramos um leve ajuste na produtividade, já que o clima na safra atual foi bastante favorável e pode não se repetir no próximo ciclo”, pontua o analista da Consultoria, Francisco Carlos Queiroz.

Por outro lado, os recentes acontecimentos geopolíticos, além de questões relacionadas à oferta e demanda, resultaram em expressivo aumento nos preços dos fertilizantes, provocando incertezas sobre o planejamento da nova safra. O conflito entre Israel e Irã pressionou os preços dos nitrogenados, insumo fundamental para o milho. Nos últimos 12 meses, a ureia subiu 8%, o MAP, 12%, e o KCl, 17%.

A maior parte da demanda da primeira safra já foi atendida, mas para a segunda safra de 2025/26, apenas 30% dos fertilizantes necessários foram adquiridos até o momento. “A alta dos insumos, somada à queda recente nos preços internos, piorou a relação de troca e pode limitar a expansão da área plantada no próximo ano”, observa o analista.

Desde março, os preços recuaram 23% em Campinas (SP) e 37% em Sorriso (MT), duas importantes praças de comercialização. Com isso, o milho brasileiro voltou a ficar competitivo no mercado externo, com paridade em relação aos preços praticados em Chicago.

A colheita da segunda safra, no entanto, está atrasada. Chuvas acima da média e temperaturas mais baixas têm dificultado o avanço dos trabalhos, que voltaram a ganhar ritmo ao longo de julho. “Até o momento, o ritmo de exportação está abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, mas a expectativa é de que os embarques aumentem a partir de agosto, impulsionados pela oferta elevada e preços mais baixos”, avalia Queiroz.

A comercialização da segunda safra está em torno de 35%, índice semelhante à média dos últimos cinco anos. Considerando a estimativa de 105 milhões de toneladas, ainda restam cerca de 70 milhões a serem negociadas no mercado interno e externo.

No cenário global, a demanda deve seguir pressionando a oferta. O USDA projeta um consumo mundial de 1,267 bilhão de toneladas para 2025-2026, alta de 2% sobre o ciclo anterior, impulsionado pelo uso em rações e etanol. Com isso, os estoques finais globais devem cair para 275 milhões de toneladas, o menor patamar desde 2013/14, e a relação estoque/uso deve recuar de 23% para 22%. “Apesar do quadro global mais apertado, o aumento dos estoques norte-americanos deve atenuar a pressão altista sobre os preços internacionais do grão”, afirma Queiroz.

Alta dos fertilizantes pressiona custos

Apesar das projeções de crescimento da produção para a safra 2025-2026, os produtores brasileiros de milho devem enfrentar um cenário de margens mais apertadas. A expectativa da Consultoria Agro do Itaú BBA é de compressão nas margens da cultura, após a recuperação observada no ciclo 2024/25.

De acordo com Queiroz, o principal fator de pressão será o aumento dos custos com fertilizantes, que lideram a elevação do custo operacional. “As estimativas indicam que os gastos com fertilizantes devem subir cerca de 25% na próxima safra, influenciando diretamente um aumento de 8,5% no custo total de produção”, aponta, enfatizando: “Esse movimento pode pesar ainda mais, caso ocorram novos impactos logísticos decorrentes das tensões geopolíticas no Oriente Médio.”

A ureia, insumo nitrogenado fundamental para o milho, apresentou alta expressiva em junho, impulsionada pela escalada do conflito entre Israel e Irã. “Embora o anúncio de cessar-fogo possa trazer algum alívio momentâneo, o mercado já trabalha com um novo patamar de preços. A expectativa é de normalização da oferta iraniana e da produção no Egito, que depende do fornecimento de gás natural israelense, mas o ambiente ainda é de forte volatilidade”, analisa Queiroz.

Além da ureia, o MAP e o KCl também registraram valorização, resultado da combinação entre oferta limitada e demanda firme, especialmente vinda do Brasil e da Índia. Como reflexo, a relação de troca entre o milho e os fertilizantes, que indica quantas sacas do grão são necessárias para adquirir uma tonelada do insumo, atingiu as máximas dos últimos cinco anos para MAP e ureia nesta época do ano. No caso do KCl, apesar da piora, o indicador ainda está abaixo da média histórica.

Aquisição baixa de fertilizantes

Com os custos em alta e os preços do milho em queda, a comercialização de fertilizantes segue lenta. Segundo a Agrinvest, apenas 25% da demanda de fertilizantes para a safrinha 2026 foi adquirida até agora, abaixo da média de 29% registrada para o mesmo período em anos anteriores. “Há um grande volume de fertilizante ainda a ser comprado, o que traz incertezas para o segundo semestre, principalmente nas regiões em que os preços do milho recuaram de forma mais acentuada”, expõe Queiroz.

Margens apertadas

O impacto da queda nas cotações já é perceptível. Apenas entre maio e junho, o preço do milho em Sorriso (MT) devolveu toda a valorização acumulada nos sete meses anteriores. “Esse movimento deixa um alerta importante para os produtores que não fizeram hedge e não travaram seus preços antecipadamente. A consolidação do cenário de boa produtividade reduziu significativamente o potencial de receita para quem não se protegeu da volatilidade do mercado”, destaca o analista.

Uso de milho para etanol acirra disputa por grão

A crescente utilização do milho na produção de etanol tem ampliado o consumo do grão no mercado doméstico. De acordo com a União Nacional do Etanol de Milho (Unem), o Brasil conta atualmente com 25 usinas em operação que utilizam o milho como matéria-prima, concentradas sobretudo na região Centro-Oeste.

Na safra 2024-2025, a estimativa é de que 21,3 milhões de toneladas de milho sejam destinadas à produção de etanol. Para 2025-2026, esse volume deve crescer para cerca de 23,7 milhões de toneladas, representando mais de 25% do consumo total do cereal no país. “A expansão da produção nacional de milho e o apelo ambiental dos biocombustíveis são fatores que continuam impulsionando novos investimentos no setor”, afirma Queiroz.

Com o avanço da produção de etanol de milho, também cresce a oferta de seu coproduto, o DDGs (grãos secos de destilaria), amplamente utilizado na formulação de rações. “Esse ingrediente vem ganhando espaço, principalmente na nutrição de bovinos de corte e leite, devido ao seu custo competitivo em regiões próximas às usinas”, menciona o analista, frisando que o aumento da disponibilidade de DDGs também tem impulsionado as exportações do produto, com Vietnã, Turquia e Nova Zelândia entre os principais destinos. “Recentemente o Brasil obteve acesso ao mercado chinês, mas ainda não houve embarques à China”, relata.

A crescente demanda interna por milho, puxada pelas usinas de etanol, intensifica a competição pelo grão e aumenta a sensibilidade do mercado doméstico a fatores externos. “Qualquer problema de safra em grandes países produtores de milho pode influenciar diretamente as cotações no Brasil, devido à correlação entre os mercados”, ressalta Queiroz.

Fonte: O Presente Rural