Alta do dólar deu impulso a resultados do agro no quarto trimestre

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Por Nayara Figueiredo

A disparada do dólar no quarto trimestre, quando a cotação da moeda americana subiu 13,45%, elevou as receitas de exportação das empresas do agronegócio, o que fortaleceu seus resultados. Isso ajudou a manter a alavancagem controlada, mesmo com o câmbio puxando as dívidas para cima.

Apesar de a alta do dólar ter perdido força neste ano, analistas acreditam que a moeda deve permanecer em torno de R$ 6, patamar que pode continuar a assegurar rentabilidade no setor. Nesse nível, o dólar tende a favorecer a margem dos vendedores de grãos, mas pode prejudicar a margem dos frigoríficos, que gastarão mais com ração.

Levantamento do Valor Data mostra que, de outubro e dezembro (quarto trimestre do ano e terceiro trimestre da safra de cana), a receita líquida de 23 de 27 empresas do agro com capital aberto cresceu na comparação anual.

A alta mais acentuada foi da CerradinhoBio — a receita dobrou, para R$ 1,18 bilhão. A trading Agribrasil também figurou entre os destaques, com alta de 88,4% na receita, a R$ 797,7 milhões.

Ao mesmo tempo, 19 empresas do agro registraram avanços na dívida líquida do período encerrado em dezembro. Os índices de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebtida ajustado), porém, variaram pouco. Para 21 companhias, o indicador variou menos do que 1 ponto percentual (para cima ou para baixo).

A dívida que mais subiu foi da BrasilAgro, com alta de 80,2%, para R$ 832 milhões. Houve casos em que o aumento da dívida não refletiu somente o dólar, mas também desembolsos para investimento. Foi o caso da Minerva, que fez no trimestre parte dos pagamentos pelos ativos que comprou da Marfrig, o que elevou em 75,9% a dívida líquida, para R$ 15,6 bilhões.

Apesar disso, nos dois casos a alavancagem não cresceu mais do que 1 ponto percentual. O indicador da BrasilAgro aumentou 0,28 ponto, e da Minerva, 0,90 ponto.

Na contramão, a Raízen, que consolida em seu balanço os resultados de seu negócio de açúcar e renováveis e de mobilidade, teve o maior avanço de alavancagem do agro, de 1,47 ponto percentual.

“O dólar ajuda a converter a receita, então os balanços acabam ficando mais fortes em termos de rentabilidade”, disse Igor Guedes, analista da Genial Investimentos. “O aumento do fluxo de caixa caba compensando esse aumento do endividamento bruto. Às vezes, mais do que compensa”, afirmou.

O cenário de 2025 já é diferente. Segundo o Valor Data, o dólar acumulou redução de 4,99% de janeiro até sexta-feira (11/4), quando fechou em R$ 5,87. Para o analista da Genial, é extremamente difícil cravar para onde a moeda vai, pois o cenário mundial tem apresentado mudanças diariamente.

“No entanto, tudo indica que teremos um patamar de dólar alto, devido aos riscos ligados à guerra comercial. Um dólar mais próximo de R$ 6 é a realidade que deve convergir como média neste ano”, estima Guedes.

Caso isto se concretize, o dólar deve continuar favorecendo a rentabilidade das empresas do agronegócio. Já para os frigoríficos, isso pode não compensar os custos maiores esperados para o ano.

“Não acredito que o dólar elevado compense o aumento no preço da arroba, por exemplo”, diz o analista. Ele lembra que a alta da moeda foi um dos fatores que incentivou os frigoríficos a elevarem os abates desde o segundo semestre do ano passado, para aumentar a exportação de carne. A estratégia contribuiu para reduzir a oferta de gado para 2025 — ano em que já era esperada uma virada ciclo para um ciclo de baixa oferta. Com menos bois, o preço da arrobe sobe.

Georgia Jorge, analista do BB Investimentos, avalia que esta virada no ciclo pecuário deve ocasionar uma leve redução na margem consolidada da JBS, embora a percepção para os mercados de aves e suínos ainda seja positiva para o ano.

Gabriel Barra, analista de agro, petróleo e gás do Citi Brasil, acredita que o impacto do câmbio nos resultado de algumas empresas ainda foi limitado, e deve ajudar nos próximos balanços.

“Empresas exportadoras [de grãos], como SLC, devem se beneficiar. Empresas de S&E [açúcar e etanol] devem também se beneficiar do câmbio mais depreciado tanto no açúcar quanto no preço de combustível no mercado local”, avalia o especialista.

Também existe a perspectiva de grão mais caros, em reais, devido a um potencial aumento de demanda da China, em meio à guerra comercial com os EUA, diz Renata Cabral, analista Latam do Citi para alimentos e bebidas. Isso implica custo maior para os frigoríficos de aves e suínos, como BRF e Seara, da JBS, e margens mais estreitas.

“Do lado da demanda, o enfraquecimento da economia e alta da inflação podem levar consumidores a migrarem da carne bovina para proteínas mais baratas, como o frango e ovo”, pontua.

Fonte: Globo Rural