Por Cibelle Bouças
A ADM, uma das maiores empresas de agronegócio do mundo, deve encerrar este ano com aumento de 5% a 6% no volume de soja processada no Brasil, superando a marca de 5 milhões de toneladas. Em 2025, o ritmo de crescimento vai depender da conclusão da expansão de três fábricas, que juntas acrescentarão 400 mil toneladas de capacidade de esmagamento por ano à empresa.
“É um quebra-cabeças para desenhar porque serão três paradas grandes que teremos ao longo de 2025 e queremos o menor impacto possível. Mas é um ano que entendemos como promissor”, afirmou Luiz Lupatini, diretor de operações de oleaginosas da ADM para América Latina, ao Valor.
Das sete plantas industriais de produção de farelo e óleo da multinacional, três estão em ampliação: em Campo Grande, Porto Franco (MA) e Uberlândia (MG). O valor investido é mantido em sigilo pela companhia. Essas unidades terão paradas ao longo de 2025 para instalação de equipamentos e testes, devendo rodar com capacidade total em 2026. “Devemos ter um incremento parcial na produção no ano que vem, contando com as paradas e retomada das plantas. Em 2026, o crescimento já deve ser de 5%”, estimou Lupatini.
Ao mesmo tempo em que se planeja para as ampliações no próximo ano, a ADM faz um prognóstico favorável para a safra 2024/25 de soja. Embora o plantio tenha começado atrasado, “com a rodada de chuvas houve uma recuperação importante. Isso nos deixa otimistas com a produção de 2025”, observou o executivo.
Levantamento da Safras & Mercado mostra uma recuperação no atraso. O plantio da safra de soja 2024/25 do Brasil chegou a 69,1% da área total esperada até o último dia 8 de novembro. No mesmo período do ano passado o índice era de 57,1%.
Um efeito colateral do plantio concentrado nas últimas semanas será uma colheita também concentrada entre a segunda quinzena de janeiro e primeira de fevereiro, de acordo com Lupatini. “Vai ser um desafio para o mercado todo. Vamos nos preparar da melhor forma para este período”, disse .
Na safra 2023/24, a dinâmica foi diferente, segundo o executivo. Por conta da produção abaixo do esperado devido ao clima desfavorável, dos insumos mais caros e da queda da soja, os produtores demoraram mais tempo para negociar a produção, aguardando melhora no preço da oleaginosa para tentar garantir margens melhores.
“No primeiro semestre, o mercado de compra e venda operou muito a conta-gotas. As empresas basicamente compravam para honrar os compromissos que tinham de esmagamento. No segundo semestre, já nos posicionamos melhor, com compras de produtores que já nos atendiam e compras no mercado físico”, disse.
De janeiro a outubro, as unidades da ADM processaram 4,33 milhões de toneladas de soja, 6,65% mais que no mesmo período de 2023 — um volume recorde para a companhia. O envase de óleo refinado atingiu 514,5 mil toneladas no período, alta de 8,34% na comparação anual.
De acordo com Lupatini, a ampliação da capacidade de processamento de soja faz parte da estratégia da companhia de aumentar as vendas de produtos industrializados, passando a depender menos da venda da soja em grão.
Como parte desse esforço, no fim de 2023, a ADM também adquiriu uma participação majoritária na Buckminster Química, produtora de glicerina refinada com sede em Macatuba (SP).
Atualmente, disse Lupatinim toda a produção de biodiesel é destinada ao mercado interno. A maior parte da produção de óleo também é destinada ao mercado doméstico. “A exportação de óleo degomado é muito pontual. O farelo, que é um componente grande da produção, vendemos de 50% a 55% para o mercado interno e de 40% a 45% para o mercado externo”, afirmou.
A ADM não divulga projeção de receita por país. Em 2023, segundo relatório anual, a companhia atingiu receita de US$ 3,36 bilhões no Brasil, representando 8,7% da receita global.
Ontem, a multinacional divulgou seus resultados globais do terceiro trimestre, que mostraram uma queda forte no lucro em comparação com igual intervalo de 2023. O resultado líquido foi positivo em US$ 18 milhões, bem abaixo do lucro de US$ 821 milhões do mesmo período do ano passado.
O lucro veio em linha com as perspectivas preliminares, divulgadas no início deste mês. À época, a ADM informou que revisaria seus relatórios financeiros de 2023, após problemas nas práticas contábeis que levaram à suspensão do diretor financeiro Vikram Luthar.
No terceiro trimestre, o lucro antes de impostos (Ebit) da ADM ficou em US$ 108 milhões, com queda anual de 90%. No período, a receita global da empresa somou US$ 19,937 bilhões — um ano antes havia alcançado US$ 21,695 bilhões.
“Olhando para o futuro, enquanto prevemos condições de mercado mais favoráveis no próximo ano, estamos tomando medidas para melhorar o desempenho e impulsionar a criação de valor. Estamos redobrando nosso foco em produtividade e excelência operacional, enquanto mantemos nossa abordagem disciplinada para alocação de capital”, disse, em nota, Juan Luciano, CEO da ADM. (Colaborou Paulo Santos, de São Paulo)
Fonte: Globo Rural