
DE OLHO NO BIODIESEL BOLETIM SEMANAL DE MERCADO DA SCA BRASIL (06/10 a 10/10/2025)
Os contratos futuros da soja fecharam em forte baixa na sexta-feira na Bolsa de Chicago (CBOT, na sigla em inglês), com o presidente americano Donald Trump ameaçando aumentar as tarifas comerciais contra produtos chineses, dissipando as esperanças de um acordo para ampliar as compras asiáticas de soja dos Estados Unidos. A declaração veio em resposta ao aumento das restrições chinesas às exportações de minerais críticos, com a China adicionando cinco novos elementos à lista de terras raras sujeitas a controle, elevando o total para 12 elementos, além de limitar a exportação de equipamentos e materiais de mineração e refino. Trump também ameaçou cancelar o encontro com o presidente Xi Jinping na cúpula da APEC na Coreia do Sul, prevista para duas semanas depois.
Essas tensões geopolíticas reverberaram fortemente nos mercados internacionais e domésticos, impactando toda a cadeia do complexo soja. O clima de aversão ao risco levou investidores a buscarem opções mais seguras, com perdas generalizadas nas commodities: a soja para novembro caiu 1,51%, para US$ 10,06 o 3/4/bushel, o farelo de dezembro recuou 0,68% para US$ 275,00/tonelada e o óleo de soja de dezembro despencou 1,90%, chegando a 49,97 cents/libra.
Durante a semana, alguns fatores ofereceram suporte pontual aos preços do óleo de soja, como a valorização do petróleo e heating oil devido ao anúncio da OPEP+ de aumento de produção aquém das expectativas, tornando os óleos vegetais mais competitivos para biocombustíveis. A paralisação parcial do governo americano impediu a divulgação do relatório WASDE de outubro, levando os agentes a se apoiarem em estimativas privadas que apontam produção de 116,2 milhões de toneladas de soja nos EUA para 2025-2026, redução de 0,7% ante as 117,1 milhões projetadas anteriormente.
O óleo de palma registrou forte valorização durante a semana, impulsionado principalmente pelo anúncio do governo indonésio sobre a possível implementação do B50 no segundo semestre de 2026. O ministro de Energia e Recursos Minerais da Indonésia confirmou que o país está prestes a iniciar a quarta etapa dos testes com o B50, e que os testes laboratoriais já foram concluídos em agosto, com início dos testes de campo.
Com a implementação do B50, estima-se que seriam necessárias 18,5 milhões de toneladas de óleo de palma anualmente, representando alta de 38%, crescimento de 5,1 milhões de toneladas em relação ao consumo atual de 13,4 milhões de toneladas no setor de biodiesel, o que reduziria significativamente o montante exportável da Indonésia.
Enquanto isso, no mercado brasileiro, a Hedgepoint Global Markets fez sua primeira estimativa para a safra brasileira de soja 2025-2026, podendo alcançar novo recorde de 178 milhões de toneladas, crescimento de 3,7% em relação às 171,6 milhões de toneladas da temporada anterior. A área plantada deve atingir 48,24 milhões de hectares (+1,2%) com produtividade média de 3.690 kg/ha (+2,5%), menor avanço de área em muitos anos devido à redução das margens de lucro, custos elevados e menor aplicação de insumos. Segundo a consultoria, a recuperação da produtividade nacional está relacionada principalmente ao desempenho esperado no Rio Grande do Sul, enquanto estados como Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás podem apresentar redução.
O contrato de dezembro/2025 do óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago encerrou em 49,97 cents/libra na sexta-feira (10/10), apresentando desvalorização de 0,16% na semana. O prêmio de novembro/2025 do óleo de soja em FOB Paranaguá subiu 50 pontos, fechando a semana em 1,10 cents/libra. O flat price do óleo de soja FOB Paranaguá fechou em US$ 1.125,90/ton, uma leve valorização (+0,83%) em relação à semana anterior.

No levantamento realizado pela SCA Brasil, o mercado spot de biodiesel teve na semana um volume de vendas de 3.480 m³, um aumento superior a 2.000 m³ em relação à semana anterior, com o destaque para o estado de São Paulo com volume comercializado de 1.980 m³. O preço médio apurado na semana foi de R$ 6.100/m³, com PIS/COFINS e sem ICMS, praticamente estável em relação à semana anterior.

No cenário regulatório doméstico, o diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes, afirmou durante evento do BiodieselBR que o Brasil pode não cumprir o prazo de implementação da mistura de 16% de biodiesel no diesel (B16) previsto para março de 2026. Segundo ele, pode não haver tempo suficiente para a realização de todos os estudos técnicos necessários para elevar a mistura, atualmente em 15%, classificando o prazo como “altamente desafiador”.
Arraes destacou que o governo buscará cumprir a Lei do Combustível do Futuro, que estabelece alta gradual de 1 ponto percentual por ano podendo chegar a 20% até 2030, mas condicionada à viabilidade técnica. O secretário informou ainda que será formado um comitê com representantes da indústria produtora e automotiva para definir os testes necessários, sem previsão de prazo para sua formação.
Segundo o levantamento realizado entre 29/09 e 05/10 pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio do biodiesel negociado entre usinas e distribuidores ficou em R$ 5.834,23, desvalorização de 1,07% em relação ao valor médio da semana anterior. As maiores desvalorizações foram nas regiões Centro-Oeste e Sul, com desvalorização de 3,20% e 2,87%, respectivamente. O mercado acumula uma redução de 7,83% no ano.
