Por Francielle Bertotto* e Gustavo Horbach**
O Brasil aprendeu nos últimos três anos como a “terceirização” na fabricação de fertilizantes pode ser um negócio arriscado. Com o Brasil importando 85% dos seus fertilizantes e sendo o quarto maior consumidor de fertilizantes a nível mundial, o país encontrou-se numa posição delicada durante as quebras da cadeia de abastecimento da COVID-19 e a guerra Ucrânia-Rússia, colocando em risco os 25% dos fertilizantes importados da Rússia.
Numa rápida reação, o governo brasileiro lançou o Plano Nacional de Fertilizantes 2022-2050 (PNF) para aumentar a participação dos fertilizantes produzidos internamente de 15% (2022) para 55% (2050).
Os objetivos do PNF também incluíram atrair investimentos estrangeiros para ajudar as empresas brasileiras a desenvolver o setor de fertilizantes, bem como de produtos fitossanitários.
Para a Yara Brasil, empresa que lidera cerca de 150 estudos sobre os benefícios do uso de fertilizantes em diferentes culturas agrícolas com instituições, o PNF ainda precisa de alguns ajustes.
Os investimentos são necessários à medida que os produtores brasileiros continuam a aumentar o uso. De acordo com a Associação Nacional para Promoção de Fertilizantes (ANDA), é relatado que o mercado de fertilizantes deverá crescer para 45 milhões de toneladas em 2024, o que representa um aumento de 2% contra o ano anterior.
Empresas como Yara e EuroChem estão intensificando seu jogo para atender às necessidades. Em 2022, a EuroChem adquiriu sua primeira operação integrada de mineração de fosfato na região da Serra do Salitre, em Minas Gerais. A previsão é que no primeiro trimestre deste ano, Salitre adicione +1 milhão de toneladas de produção de fertilizantes fosfatados e forneça 15% de todos os fertilizantes fosfatados para o mercado brasileiro.
Maximizando rendimentos
À medida que as alterações climáticas provocam temperaturas mais elevadas e secas, além de chuvas excessivas, os produtores brasileiros procuram fertilizantes e produtos fitossanitários para ajudar as culturas a tornarem-se mais resistentes aos fatores externos de estresse.
Há também uma tendência para os produtores utilizarem práticas agrícolas regenerativas. As empresas multinacionais estão investindo em suporte para que os produtores adotem práticas regenerativas, como, por exemplo, o investimento de 1,3 bilhões de dólares da Nestlé em 2021, além de compromissos e investimentos da Pepsico, Starbucks e General Mills.
“Os agricultores do Brasil e do mundo buscam cada vez mais insumos de alta tecnologia, que forneçam nutrientes essenciais às plantas e tenham baixas emissões de gases de efeito estufa”, afirma Bertotto. “O objetivo é contribuir para o desenvolvimento da agricultura regenerativa, que vai além da simples proteção do meio ambiente, mas também da restauração das suas características naturais. Além disso, há um interesse crescente em soluções com efeitos preditivos relacionados a eventos climáticos extremos, como o El Niño. Nesse sentido, o uso de produtos biológicos está ganhando popularidade entre os agricultores.”
Não se trata apenas de resistir às alterações climáticas, mas também de aumentar os rendimentos para um mundo que precisa dos produtos do país. “O Brasil é o terceiro maior exportador de produtos agrícolas, depois dos EUA e da UE, produzindo anualmente alimentos suficientes para alimentar 800 milhões de pessoas”, diz Horbach.
“A tendência na indústria continua a ser a de produtos que maximizem os rendimentos e, ao mesmo tempo, minimizem o nosso impacto ambiental”, continua Horbach. “Por exemplo, produtos que aumentam a eficiência do uso de nitrogênio e, ao mesmo tempo, reduzem as emissões de gases de efeito estufa, solúveis em água, permitindo a micro aplicação é onde temos visto um crescimento de 10% ao ano na demanda.”
Iniciativas Governamentais
No que diz respeito às regulamentações, o governo brasileiro está trabalhando para agilizar o processo nos fertilizantes, com ressalvas para produtos fitossanitários.
Viviane Kunisawa, sócia da Daniel Law no Brasil, afirma: “O Brasil depende muito da importação de fertilizantes e seu registro é um requisito para comercialização e uso. Contudo, para ter mais eficiência, o Ministério da Agricultura implementou um sistema de registro automático, que não dispensa os produtos de cumprirem padrões de composição e qualidade de acordo com a legislação – requisitos que estão sujeitos a fiscalização. Os bioestimulantes, via de regra, têm que demonstrar bioatividade e, consequentemente, não fazem jus ao sistema de registro automático.”
Além de agilizar o processo regulatório, as políticas públicas estão ajudando a construir a infraestrutura para aumentar a produção de fertilizantes, como o Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes (Profert), que também visa auxiliar no acesso a matérias-primas e no desenvolvimento de negócios. Há também necessidade de apoio aos produtores.
“A solução para os desafios que a sociedade e o planeta enfrentarão nos próximos anos passa por uma agricultura mais produtiva e sustentável, onde os agricultores sejam recompensados não só pelo quanto produzem, mas pela forma como produzem”, afirma Bertotto. “Este cenário tem sido crucial para mudanças significativas na cadeia de valor alimentar, onde práticas mais sustentáveis serão recompensadas, criando um ciclo positivo e duradouro.
*Gerente de Desenvolvimento de Negócios e Sustentabilidade da Yara Brazil.
**Head para a América do Sul da EuroChem.
Artigo publicado originalmente no portal AgriBusiness Global com edição de Renée Targos.