Na avaliação do diretor executivo de desenvolvimento de negócios da Prumo, Mauro Andrade, incentivos fiscais para potenciais consumidores de hidrogênio limpo seriam uma forma de destravar investimentos dessa nova indústria no Brasil.
A Prumo controla o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, que aposta na atração de projetos de produção de hidrogênio verde e de consumidores do energético, como as indústrias de siderurgia e fertilizantes.
“Se pensarmos no hidrogênio como um insumo para a industrialização, é possível exonerar, os produtos manufaturados ou semimanufaturados fabricados a partir do hidrogênio. Pode ser fertilizante, produto para a descarbonização na indústria siderúrgica, combustíveis limpos”, pontuou o executivo, durante entrevista ao estúdio EPBR durante a CERAWeek 2024, da S&P Global, no Texas.
O Brasil ainda aguarda a aprovação de um marco regulatório para o hidrogênio. Atualmente, dois textos estão no Congresso, um de autoria da Câmara – sem subsídios – e outro do Senado – com subsídios.
“A desoneração é uma alternativa bastante poderosa. É uma alternativa que não implica em incentivo nem subsídio, ela implica em uma renúncia fiscal, mas é uma renúncia fiscal no mercado que não existe ainda, então estou arrecadando zero sobre zero”, defende Andrade.
A inércia dos projetos de hidrogênio
O diretor da Prumo entende que o mercado está em compasso de espera, diante das incertezas entre a viabilidade da produção e a garantia da demanda.
“É meio que o ovo e a galinha, não tem produto porque não tem off-taker e não tem off-taker porque não tem produto. Mapear esse produto, mapear quem topa pagar esse risco, esse prêmio no Brasil por hidrogênio verde é desafiador”.
No caso do Açu, eles vêm atuando para conectar potenciais produtores e consumidores do energético e sair desse momento de “inércia”.
“Estamos trabalhando com um grupo de empresas, não só para fazer o investimento, mas também para identificar off-takers. No momento que conseguirmos quebrar essa inércia e disponibilizar para o mercado, vamos ter uma demanda ali que está um pouco dormente para produtos premium, nicho de mercado. Não é uma coisa que vai se aplicar a tudo, mas acreditamos nessa demanda”, afirma.
Transição lenta
Além do compasso de espera dos projetos de hidrogênio limpo, Andrade destaca que o pragmatismo em relação a segurança energética também diminui a velocidade da transição.
“Todo mundo está na mesma página agora de que existe um processo de transição que talvez seja um pouco mais lento do que se imaginava no começo, porque a transição custa caro e a sociedade vai ter que pagar por isso”, pontua o executivo.
Segundo ele, isso implica diretamente na longevidade dos combustíveis fósseis, com a inclusão de tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS).
“Todos os grandes líderes das empresas de energia do mundo [são] muito vocais a respeito da longevidade do combustível fóssil, da complementaridade que esse combustível fóssil tem com a chegada dos renováveis”, garante.
Fonte: EPBR