Por Camila Souza Ramos
O consumo de etanol hidratado começou a reagir neste ano após meses de preços na bomba bem abaixo da paridade em relação à gasolina. Segundo executivos do ramo e dados recentes da indústria, as vendas iniciaram trajetória de alta em janeiro, o que já tirou os preços dos patamares mais baixos a que chegaram no fim do ano.
“Nas semanas recentes, os preços já reagiram positivamente, o que deve contribuir favoravelmente para o quarto trimestre”, disse Ricardo Mussa, presidente da Raízen, em teleconferência sobre os resultados do terceiro trimestre. A empresa tinha 28% mais etanol em estoque no fim do terceiro trimestre do que um ano antes.
A São Martinho também começou o quarto trimestre mais estocada: a empresa tinha 40% da produção de seu Açúcar Total Recuperável (ATR) armazenada, disse Felipe Vicchiato, diretor financeiro, em teleconferência.
Entre agosto e dezembro do ano passado, as vendas mensais de hidratado no país oscilaram entre 1,6 bilhão de litros e 1,8 bilhão de litros. Esse nível ainda está abaixo dos patamares pré-pandemia e abaixo inclusive de dezembro de 2020, quando a correlação estava acima da paridade de 70% — e, portanto, desfavorável ao etanol.
A situação virou com a mudança de ano. A venda de hidratado do Centro-Sul na primeira quinzena de janeiro foi quase o dobro de um ano antes. No mês, o volume total de etanol vendido (anidro e hidratado, dentro e fora do país) bateu 3 bilhões de litros, o maior volume desde outubro de 2020.
Mas a reação do consumo tardou. O etanol hidratado vendido nos postos de São Paulo vem oscilando em torno de 60% do preço da gasolina desde agosto, 10 pontos abaixo da paridade de 70%. A correlação foi ainda de 61,7% na primeira semana de fevereiro.
Segundo Vicchiato, a reação demorou porque a gasolina também caiu recentemente, o que segurou a preferência dos motoristas pelo combustível fóssil. “Tem uma inércia até o consumidor virar a chave e consumir mais etanol do que gasolina”, disse. “Mas nos últimos 30 dias, melhorou bem.”
Para a Jalles Machado, “a demanda deverá permanecer elevada por um período significativamente maior até o equilíbrio do mercado”. Rodrigo Siqueira, diretor financeiro da empresa, disse em teleconferência que conta com uma queda na produção de etanol do Centro-Sul na próxima safra.
O comportamento do mercado já mostra uma mudança de rumo neste trimestre. Da primeira semana de janeiro até a semana encerrada dia 16 de fevereiro, os preços recebidos pelas usinas paulistas subiram 13%, segundo o indicador Cepea/Esalq, para R$ 2,1297 o litro na última semana. Para o consumidor paulista, o preço subiu 1,82% até a semana do dia 10.
Fonte: Globo Rural