Por Andreia Vital
Um estudo envolvendo as usinas certificadas pelo RenovaBio aponta que as empresas que apresentam um bom desempenho financeiro alcançam notas de eficiência maiores no programa. Contrariando o senso comum, a pesquisa aponta que as certificações têm pouco efeito na obtenção da nota.
O trabalho foi desenvolvido pelos professores Ricardo Luiz Menezes da Silva (USP), Mário Otávio Batalha (UFSCar), e Marcelo José Carrer (UFSCar) e avaliou as mais de 300 usinas certificadas pelo programa, desde 2020.
“As certificações não têm efeito na nota de eficiência. Curiosamente, uma das certificações, a Bonsucro, deu relação contrária, contrariando a nossa expectativa, pois a Bonsucro, assim como o RenovaBio estão relacionados à sustentabilidade nas usinas”, informou o professor Ricardo Luiz Menezes, um dos autores da pesquisa.
A pesquisa revelou uma grande dispersão nas notas de eficiência das usinas, que podem variar bastante. Neste contexto, o objetivo do estudo foi investigar quais os direcionadores corporativos podem influenciar a nota de eficiência das Usinas de Açúcar e Etanol no RenovaBio. Foram identificados seis conjuntos de fatores relacionados às usinas investigadas, a saber: localização das usinas, certificações, firmas inspetoras, tamanho, desempenho financeiro e endividamento.
De acordo com Menezes, em relação a Bonsucro, essa relação contrária pode ser explicada por falhas na certificação ou pelo preenchimento padrão da RenovaCalc, que penaliza a nota de eficiência. “Pelo levantamento que fizemos, muitas usinas, que não conseguem os dados primários com seus fornecedores, optam pelo preenchimento padrão, o que acaba penalizando a nota de eficiência”, explica.
Segundo ele, é preciso criar algum incentivo para que esses produtores possam migrar para o programa. “Porque para esses produtores, quando o programa foi concebido, esses incentivos não ficaram muito claros”, afirma o professor que avalia como justa a participação dos fornecedores no recebimento dos CBIOs.
“Isso já foi discutido bastante com relação a alguma contribuição financeira voltada para os fornecedores. Uma usina que tem 70%, por exemplo, de cana de terceiro, ela realmente depende de muitos dados passados pelos fornecedores. E acredito que, embora o programa não tenha sido desenhado levando em consideração algum tipo de contribuição financeira para o fornecedor, considerando que ele participa desse processo, uma contribuição financeira, um retorno financeiro, eu acredito que é justo. E isso deve ser negociado entre o fornecedor e a usina, obviamente”, explica.
Outro aspecto apontado pela pesquisa foi a relação do endividamento com a nota de eficiência. As usinas que têm um certo endividamento, tem uma maior nota de eficiência, porque a relação encontrada foi positiva. O que demonstra a importância das fontes de financiamento para projetos voltados para baixo carbono e energia renovável, como a linha de crédito conhecida como BNDES e RenovaBio, que tem tido uma pequena procura por parte das usinas.
“Segundo o BNDES, na carteira de crédito de aproximadamente dois bilhões, não tem nenhuma usina de etanol de milho. E aí eles querem investigar, pra saber por que algumas usinas, não só etanol de milho, por que algumas usinas não pedem crédito, não entram com solicitação de crédito pra essa linha de financiamento”, disse Menezes.
Já a variável de desempenho financeiro, aponta que as usinas que têm maior retorno financeiro, têm uma maior nota de eficiência. “Este fato sugere que as usinas menos eficientes possuem espaço para melhorar seus desempenhos e aumentar os ganhos advindos destas melhorias. Nesse sentido, é possível aumentar as notas de eficiência, e, consequentemente, aumentar o retorno financeiro associado à participação das usinas no RenovaBio”, informou.
Embora os recursos gerados com a comercialização de CBIOs, na avaliação do professor, ainda seja relativamente pequeno, deve se levar em consideração que o programa ainda se encontra em sua fase inicial. “Estamos olhando para um programa que está nascendo. A tendência é que as metas estabelecidas pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), a ideia é que as metas que as distribuidoras devem atender aumente ao longo dos próximos anos. Obviamente, elas têm que comprar mais CBIOs e ainda outros agentes podem fazer a compra e a aposentadoria desses títulos”, concluiu.
Fonte: Jornal Cana.