
Por Adriano Pires
Um dos assuntos mais comentados neste final de 2025 é para onde vai o preço do petróleo. As projeções não são nada otimistas e o cenário seria um preço do barril para 2026 em torno de US$ 58 — e poderia chegar a US$ 57 por barril em 2027. Porém, caso os produtores não consigam estabelecer um compromisso de reduzir a oferta, 2027 deve chegar com um barril a US$ 40.
Mas o que explica esse comportamento baixo e volátil do preço do barril? Poderíamos resumir que a demanda continua com um crescimento robusto, mas a grande mudança é que a oferta explodiu. A oferta de shale permanece crescimento de produtividade.
Apesar de estar crescendo mais lentamente nos Estados Unidos, o campo de Vaca Muerta, na Argentina, apareceu como uma nova fronteira, e em três anos dobrou a produção. A grande novidade que tem causado esse aumento da oferta é a chamada produção offshore e os principais players que despontaram foram o Brasil com o pré-sal e a Guiana.
Além disso, uma possível queda do regime de Nicolás Maduro na Venezuela e um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia poderão provocar um aumento ainda maior da oferta. De qualquer forma, o cenário de preço do barril a US$ 30 ou US$ 40 não é bom para nenhuma empresa ou país produtor de petróleo, já que o preço de breakeven seria algo como US$ 40 a US$ 45.
Um acordo para reduzir a oferta não é trivial. Hoje metade do excesso da oferta ocorre fora do cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). A Opep e os americanos teriam de liderar esse corte da produção. Os produtores offshore, como o Brasil e a Guiana, têm muita dificuldade de cortar a produção, dado que as plataformas já estão contratadas, e, tecnicamente, não existe a possibilidade de se adaptar para uma redução da produção.
Pelo lado da demanda, não enxergamos um grande crescimento no curto prazo. A política do tarifaço do presidente Donald Trump trouxe dificuldades para uma retomada do crescimento econômico, e mesmo a China, a Índia e outros países asiáticos também frustraram nas suas taxas de crescimento.
O fato é que estamos vivendo um período de grandes transformações, que o economista Joseph Schumpeter chamava de destruição criativa. Aliás, os vencedores do Nobel de Economia de 2025 também foram premiados pelos seus estudos em torno desse conceito.
No campo da energia, a quarta revolução industrial traz empresas que são consumidoras intensivas de energia, como os data centers e as criptomoedas. Mas a grande diferença é que esse consumo é de elétrons, e não de moléculas, como aconteceu no século 20. Na era dos elétrons, com certeza a demanda de petróleo a médio e longo prazo sofrerá mudanças. Talvez petróleo a US$ 100 nunca mais (Adriano Pires é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Fonte: Brasil Agro