Archer Consulting: açúcar ensaia a virada

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Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em Nova York, apesar da semana encurtada pelo feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, terminou em alta. O contrato com vencimento março de 2026 encerrou a semana cotado a 15.21 centavos de dólar por libra-peso, um avanço de 44 pontos na comparação com a sexta-feira anterior, equivalente a cerca de 10 dólares por tonelada. Os demais vencimentos acompanharam o mesmo movimento, com altas proporcionais, mostrando algum alívio depois de semanas marcadas pelo pessimismo.

Um ponto fundamental na análise do mercado é a última posição dos fundos especulativos divulgada pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission) agência americana reguladora dos mercados de commodities. Com data de 14 de outubro, o relatório apontava que os fundos estavam vendidos em 174,466 contratos. Comparando com a semana anterior, NY caiu 75 pontos (16.63 contra 15.88 centavos de dólar por libra peso, respectivamente nos dias 7 e 14 de outubro). No período, os fundos ampliaram a posição vendida em 38,613 lotes, numa razão de 515 lotes por ponto de variação negativa.

Ainda temos seis semanas a serem divulgadas pelo CFTC, de 21 de outubro até 25 de novembro. Nesse período o mercado variou negativamente 97 pontos. Se usarmos a mesma métrica, podemos assumir que a posição dos fundos nesse período cresceu 50,000 lotes (97 pontos vezes 515) colocando a posição atual em 225,000 lotes como temos afirmado em nossos comentários/reuniões. Já deve ter sido maior porque, afinal, apenas nas últimas três semanas o mercado apreciou 69 pontos. De qualquer modo, a posição vendida a descoberto é expressiva e carrega consigo uma enorme carga de vulnerabilidade.

Historicamente, novembro e dezembro são meses de volume de negociação reduzido em Nova York. Nos últimos 25 anos, em pelo menos duas dezenas de ocasiões, esses meses registraram os menores volumes do ano. Isso tem implicações diretas e tem suas exceções. Em 2023, por exemplo, quando os fundos estavam pesadamente comprados e precisaram desfazer da posição, o volume de dezembro foi quase o dobro do de novembro, e a liquidez desigual contribuiu para a queda acentuada observada na época. A dinâmica atual pode repetir o padrão, só que na direção oposta. Os fundos estão vendidos e terão, inevitavelmente, que recomprar contratos. Rolar essa posição num mercado invertido não faz sentido: o custo seria proibitivo e o prejuízo, evidente. A desmontagem da posição, portanto, é praticamente mandatória.

A questão que todos fazem é: quanto essa recompra dos fundos pode mexer com o mercado? Se considerarmos um cenário conservador, assumindo que a posição vendida real esteja em torno de 200 mil lotes e tomarmos a média de que cada ponto de alta absorve cerca de 515 lotes, o processo de recompra dos fundos poderia, potencialmente, empurrar o mercado para cima em algo próximo a 375 pontos, caso não haja contraparte suficiente oferecendo liquidez. Só para lembrar que em dezembro de 2023, o intervalo entre a mínima e a máxima observada naquele mês foi de 600 pontos.

Só tem um detalhe curioso. Quando os fundos aumentaram suas posições vendidas, cada ponto de queda exigiu 515 lotes, o que mostra um suporte do mercado nesse nível, ou seja, a contraparte dos fundos parecia estar confortável em comprar açúcar futuro em NY nesses níveis. Tem sua lógica dado o custo de produção que hoje é bem acima do mercado futuro. Quem compra deve ter pensado que o risco de queda a partir desses níveis seria bastante limitado.

Nas recentes recompras parciais dos fundos, em 12 de agosto (35,647 lotes com o mercado subindo 85 pontos) e na quinzena de 30 de setembro/7 de outubro (34,021 lotes com o mercado subindo 97 pontos), na média a cada compra de 380 lotes o mercado subiu um ponto. O que isso indica? Que os fundos encontram mais dificuldades na recompra, afinal quem se sente confortável vendendo açúcar abaixo do custo de produção, e eles precisam ser mais agressivos para liquidar sua posição.

Se assumirmos um total de 225,000 lotes que precisam ser liquidados e os fundos encontrando essa resistência (380 lotes contra 515), teoricamente a variação poderia chegar a 600 pontos, o mesmo intervalo observado em dezembro de 2023.

O pano de fundo, portanto, é delicado para quem está vendido e promissor para quem acredita em recuperação. A combinação de posição técnica vulnerável, baixa liquidez sazonal e a necessidade inevitável de recompra gera um cenário potencialmente explosivo. O mercado pode até não refletir isso imediatamente, mas o risco está colocado. E, se a história recente servir de referência, movimentos abruptos não apenas são possíveis — como têm tudo para reaparecer.

Vamos observar como o mercado evolui. Evidentemente que os argumentos acerca da safra tailandesa que está esperando melhores preços, da safra indiana e notícias sobre superávits fazem parte da narrativa baixista. Aliás, a mais recente dá conta de que a Índia vai construir mais 20 usinas de açúcar. O que tem de concreto nisso? Nada, absolutamente nada, segundo nossas fontes naquele país. E de onde vem essa conversa? “Trata-se da intenção do novo Ministro para o estado de Bihar. Intenção e anúncio não querem dizer que algo realmente vai acontecer na prática. Isso foi anunciado no segundo dia depois que ele virou ministro… Ele não fazia ideia do que estava falando. Mas rendeu matéria na imprensa. Está só fazendo cena para a plateia”, explica nosso competente contato naquele país. Tão diferente dos nossos ministros, não é mesmo?

Para nosso colaborador Marcelo Moreira, o vencimento março-26 continua em seu movimento de recuperação! Praticamente em cima da média móvel dos 50 dias a 15.30 centavos de dólar por libra-peso! Rompendo essa resistência próximos objetivos a 15.81, 16.10 e finalmente a 17.00 centavos de dólar por libra-peso (média móvel dos 200 dias). Suportes importantes ainda a 14.70, 14.05 e 13.65 centavos de dólar por libra-peso.

Fonte: Archer Consulting