
Há um novo agro em formação no Brasil, sustentado por um pacote que combina nutrição de plantas, métricas de carbono e gestão de risco. A Mosaic Fertilizantes, uma das maiores companhias globais deste setor, reorganiza sua atuação nesse ambiente em que o adubo deixa de ser linha isolada de custo e passa a integrar uma plataforma de serviços técnicos, produtos especiais e indicadores ambientais, com impacto direto na rentabilidade e no acesso a mercados. No centro dessa mudança está a forma como o produtor rural administra o próprio negócio. Clima, preço da commodity, custo de insumos e câmbio entram na mesma planilha.
“Hoje o produtor olha muito mais os fundamentos do negócio. Quem não faz conta fica exposto”, afirmou Eduardo Monteiro, vice-presidente e country manager Brasil e Paraguai da Mosaic Fertilizantes, em entrevista à Forbes, na sede da companhia em São Paulo, um lugar em que ele fica a menor parte de seu tempo. “Das 52 semanas do ano, em mais de 30 delas estou fora daqui, principalmente pelo Brasil, conversando com produtores e mercado.”
A Mosaic integra a Lista Forbes Agro100 2025, ranking mostrado anualmente pela Forbes Brasil onde estão as 100 maiores empresas e cooperativas do país, com resultados financeiros publicados. Nesta edição, o conjunto registrou uma receita de R$ 1,886 trilhão, valor equivalente a 16% do PIB brasileiro. No ranking, a receita registrada para a Mosaic no país foi de R$ 24,1 bilhões. Nesta terça-feira (25), um encontro no Jóquei Clube, em São Paulo, o Forbes Power Lunch Agro100, vai reunir empresários e lideranças do setor.
Foi nesse novo ambiente de negócio mais pegado pela gestão que a Mosaic a companhia criou o Índice de Preço de Compra de Fertilizantes (IPCF), usado para comparar janelas de aquisição, avaliar relação de troca e organizar decisões de travamento de preços. Isso porque a troca simples de produto por grão, feita apenas para garantir insumo para a safra seguinte, cede espaço a operações que consideram fluxo de caixa, alavancagem e exposição a risco de preço.
“Na essência, o agricultor é um grande gestor de riscos. Ele tem que administrar o risco climático, o risco de preço da commodity que ele planta, o risco de preço da commodity que ele compra para nutrir as suas terras”, afirma Monteiro.
Ele destaca que a governança das fazendas avançou, com maior uso de informações técnicas e financeiras, embora a concentração de compras em determinados períodos do ano ainda permaneça como traço estrutural do mercado. Por isso, a gestão se tornou mais sofisticada, empurrada também pela forte dependência da oferta externa de nutrientes.
O Brasil importa em torno de 80% dos fertilizantes que consome. Dos 20% produzidos internamente, algo entre 55% e 60% sai de unidades da Mosaic. A Mosaic fabrica cerca de 3,5 milhões de toneladas por ano em território nacional e comercializa algo em torno de 10,5 milhões de toneladas no país, ao somar produção local e volumes importados. “O mercado brasileiro importa 80% do que o Brasil consome. Dos 20% que se produz no Brasil, a Mosaic é o maior produtor. Entre 55% e 60% do que é produzido no Brasil é produzido pela Mosaic”, diz o executivo.
A malha de atendimento acompanha o desenho da produção agrícola, com unidades industriais, misturadoras e bases logísticas estão distribuídas em 11 estados, apoiadas por parceiros comerciais em outros sete. Essa arquitetura segue a expansão da segunda safra, o avanço de soja, milho e algodão em novas fronteiras e a conversão de pastagens em lavoura mecanizada. “.Hoje nós temos uma cobertura nacional”, diz Monteiro, reforçando a política de que reduzir a distância entre a planta misturadora e a fazenda entra na conta de prazo de entrega, custo logístico e padrão de serviço.
Para sustentar essa presença, a empresa adotou a expansão orgânica como linha principal de crescimento no Brasil. Operações de aquisição seguem em avaliação pontual, mas o plano em execução prioriza o uso da estrutura existente e a abertura das unidades em regiões estratégicas. O principal exemplo recente é a unidade de Palmeirante, no Tocantins, dimensionada para até 1 milhão de toneladas anuais e voltada ao atendimento do Matopiba, região que reúne Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. “Acabamos de inaugurar nossa unidade em Palmeirante, a planta mais moderna do Brasil. Ela foi inaugurada este ano e a gente espera poder utilizá-la plenamente até 2028”, afirma Monteiro. “Por isso, nesse momento, o nosso foco é orgânico.”
Aproveitar, diversificar e bionutrir
Ao lado das plantas tradicionais, outra frente ganha peso: o aproveitamento de subprodutos da mineração como insumo agrícola. A Mosaic movimenta mais de 6 milhões de toneladas de gesso agrícola por ano, além de fontes de cálcio, em programas de correção e construção de perfil de solo. “A gente vem desenvolvendo em larga escala a utilização de gesso e calcário para a agricultura”, diz. “Além de tudo, todos os rejeitos produtivos das nossas fábricas são plenamente reutilizáveis. Estamos desenvolvendo um mercado de fertilizantes organominerais e vendendo isso como matéria-prima.”
A diversificação do portfólio avança também em direção a culturas que operam com fertirrigação e maior intensidade de tecnologia por hectare. Produtos solúveis destinados a hortifrúti e a outras atividades de ciclo financeiro mais curto ganham espaço dentro da companhia. “Estamos trazendo fertilizantes solúveis, que são itens importantes para o agricultor brasileiro e que é uma das nossas apostas para os próximos anos”. Nesse tipo de cultivo, pequenas variações de dose e combinação de nutrientes provocam respostas rápidas em produtividade, o que favorece a adoção de formulações de maior complexidade e serviços de suporte técnico.
Um segundo eixo da estratégia aparece na bionutrição e na agricultura regenerativa. A empresa trabalha com três grupos principais de produtos: tecnologias que aumentam a eficiência de uso de nitrogênio e fósforo, bioestimulantes aplicados em fases iniciais das culturas e soluções direcionadas à microbiota do solo, com impacto em profundidade de raízes e absorção de nutrientes.
“Hoje nós somos o maior player mundial de fósforo e potássio combinado, com mais de 27 milhões de toneladas produzidas”, afirma Monteiro. “E, finalmente, vem a menina dos olhos, a bionutrição. A gente quer entrar nesse segmento de agricultura regenerativa.” Na explicação detalhada, ele lista “potencializadores de nitrogênio e fósforo”, solubilizadores que tornam o nutriente “muito mais efetivo”, bioestimulantes “que vão trabalhar no vigor da planta” e soluções que “vão colocar organismos que estimulam a vida que tem no solo”, permitindo que a planta aprofunde raízes e incorpore mais nutrientes.
O vínculo com a agenda de carbono se consolida nesse conjunto, por exemplo com fertilizante nitrogenado estabilizado (tratado com aditivos para evitar perdas de nitrogênio no solo), que é citado por Monteiro como uma solução desenhada para reduzir perdas por volatilização na aplicação de ureia. O maior aproveitamento do nutriente pela planta tem efeito direto nas emissões associadas ao uso de nitrogênio. “Quando você aplica ureia no solo, ela volatiliza e se perde, e então tem que ser aplicado um volume muito maior”, explica. “Quando um produto é estabilizado, o agricultor aproveita mais o fertilizante. No Renovabio, por exemplo, o agricultor consegue mais créditos porque a pegada de carbono desse produto é menor do que a de um produto convencional.”
Para o executivo, bioinsumos e bioestimulantes devem seguir uma lógica semelhante. Os produtos precisam estimular o sistema radicular, ampliar a atividade biológica do solo e melhorar o uso de nutrientes que impactam o volume colhido e nos indicadores de carbono das propriedades agrícolas. Monteiro define esse pacote como “algo absolutamente complementar, trabalhando num segmento de agricultura regenerativa, que hoje está muito em pauta” e afirma que “o agricultor brasileiro é rápido para investir em coisas novas”, desde que veja efeito em produtividade e custo.
O marco legal dos bioinsumos, aprovado no Congresso e à espera de regulamentação pelo Ministério da Agricultura, aparece nesse cenário como fator de escala. A Mosaic mantém um conjunto de três a quatro produtos nessa categoria, alguns já presentes em outros países, preparados para entrar no mercado brasileiro com regras definidas para registro, controle de qualidade e rastreabilidade. “O Marco Regulatório Brasileiro foi aprovado, o Ministério da Agricultura vem trabalhando para que esse processo seja regulamentado e existe um prazo legal de 12 meses. A gente espera que até o final do ano isso se encerre”, diz. “Temos pipelines de produtos importantes, três, quatro produtos que a gente quer lançar, que trazem produtividade. Alguns já foram lançados lá fora e queremos trazer essa tecnologia para o produtor brasileiro.”
Crédito e Segurança Alimentar
Mas há desafios atuais que não devem sair do radar do mercado, porque enquanto o campo avança nesse sentido, o ambiente de crédito para o agronegócio se torna mais seletivo. Monteiro menciona o aumento de disputas judiciais envolvendo produtores e empresas de insumos, o que eleva a percepção de risco de bancos, tradings e fornecedores. “A agricultura hoje passa por um desafio importante no crédito”, diz.
“O número de operações judiciais no agro nos últimos anos elevou a percepção de risco setorial e isso, como consequência, reduz a oferta de crédito ao setor.” Ele cita dados do Banco Central que apontam queda de 21% na liberação de crédito para custeio entre julho e setembro, na comparação com igual período anterior, e alerta: “Qual é o risco disso? Redução do nível de tecnologia. Qual é a consequência? Menor produtividade.”
Na visão do executivo, entender o papel do produtor é conectá-lo à segurança alimentar em escala global. “O fertilizante é um pilar da produção de alimentos no mundo. Sem fertilizantes, 50% da produção de alimentos cairia”, afirma. `Por isso descreve a Mosaic como um elo de suporte: “É muito legal saber que você está trabalhando em uma empresa que ajuda a produzir o alimento que o mundo precisa. Aqui somos coadjuvantes em fornecer os elementos para que o produtor, na função principal, produza.”
Fonte: Forbes