
O grupo AGCO, fabricante global de máquinas e equipamentos agrícolas, deve lançar nos próximos dois anos um trator movido a etanol. De acordo com Luis Felli, vice-presidente da AGCO e head global da Massey Ferguson, os motores já estão em fase final de testes. O foco inicial da companhia, segundo reportagem da Exame, é atender usinas sucroenergéticas, onde o etanol utilizado é padronizado em todo o país, o que facilita a operação e o monitoramento de desempenho das máquinas.
O projeto da AGCO surge em um momento de forte expansão dos biocombustíveis no Brasil. O crescimento do etanol de milho tem sido expressivo: a produção passou de 2,6 bilhões de litros na safra 2020/21 para números quase quatro vezes maiores em poucos anos. Paralelamente, a Lei Combustível do Futuro, em vigor desde agosto, amplia a mistura de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel, além de incentivar o uso de diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF), garantindo previsibilidade e estímulo à transição energética.
Atualmente, o país possui 25 plantas de etanol de milho em operação, outras 18 em construção e 19 em fase de projeto, segundo dados da Datagro. Somadas, essas unidades podem elevar a capacidade instalada para 24,7 bilhões de litros até 2034, processando mais de 56 milhões de toneladas de grãos. Para Felli, o avanço do uso do etanol no campo depende de um marco regulatório estável e da viabilidade econômica para o produtor rural.
O executivo lembra que o grupo já possui tratores compatíveis com biodiesel 100%, mas que a cadeia de fornecimento ainda é limitada, pois o insumo compete com a produção de alimentos. “O primeiro passo é o biodiesel; o segundo, o etanol. A tecnologia está pronta, e o desafio agora é garantir a disponibilidade e competitividade do combustível”, explicou. Segundo ele, a adoção em larga escala virá à medida que o produtor enxergar retorno financeiro e estímulos legais para a mudança.
A AGCO é dona de marcas reconhecidas como Massey Ferguson, Fendt, Valtra e PTx, esta última criada após a aquisição de 85% da divisão agro da Trimble, empresa de tecnologia voltada à automação e telemetria. A joint venture resultante fortalece o braço de inovação e agricultura de precisão do grupo, que vem ampliando investimentos em sustentabilidade e digitalização no campo.
A concorrência também se move nessa direção. Durante a Agrishow 2024, John Deere Brasil e Grunner apresentaram protótipos de tratores movidos a etanol. A Datagro estima que, na safra 2025/26, o Brasil produza 26 bilhões de litros de etanol de cana e 10,2 bilhões de litros de etanol de milho, consolidando o país como líder mundial na transição para combustíveis renováveis aplicados à agroindústria.
Integra da matéria em Exame