Conheça a maior usina de cana da Colômbia, que fatura por ano R$ 1,5 bi

Grupo fundado pelo empresário Carlos Ardila Lülle faz parte de um dos maiores conglomerados da Colômbia, com operações em alimentos, bebidas, mídia e esportes.

Há regiões na Colômbia onde os canaviais se erguem como um exército interminável: rígidos e altivos sob um sol implacável, como se a terra tivesse decidido se pentear com uma escova verde. Os talos, alinhados em fileiras densas e uniformes, formam um muro vegetal que intimida e fascina.

Em um desses horizontes, no povoado de El Ortigal, em Miranda (Cauca), estão as instalações da Incauca, a usina açucareira do país. Em 2024, a empresa moeu 3,20 milhões de toneladas de cana; produziu 238 mil toneladas de açúcar, 64,63 milhões de litros de álcool e 337.993 megawatts-hora de energia. Oitenta por cento do açúcar é vendido na Colômbia, onde, mesmo com impostos sobre bebidas e rótulos de advertência, a companhia faturou 1,19 trilhão de pesos colombianos (cerca de R$ 1,52 bilhão).

Roberto Klinger, natural de Cali, que já passou pelos setores bancário, jornalístico e de telecomunicações antes de assumir a liderança da Incauca, chegou à presidência há três anos, após ter passado pelas áreas comercial e financeira. Seu dia começa revisando painéis de controle e fazendo chamadas para as equipes de colheita, campo e vendas.

“As exportações e as compras ainda são gerenciadas por mim”, diz Klinger em entrevista à Forbes. Ele hoje se preocupa com a sacarose, pois ela representa o mesmo custo de produção, mas resulta em menos açúcar. “A métrica mais importante e conjuntural é a sacarose, que vem diminuindo por razões climáticas.”

A Incauca (Ingenio del Cauca S.A.) pertence ao Grupo Ardila Lülle (GAH), um dos maiores conglomerados empresariais da Colômbia, fundado por Carlos Ardila Lülle (1930–2021). O grupo controla empresas em setores como alimentos e bebidas (Postobón, Incauca, Providencia), mídia e comunicações (RCN Televisión, RCN Radio), têxtil e automotivo (Coltejer) e financeiro e esportivo (Atlético Nacional, entre outros).

O plano da Incauca, que compete com Riopaila Castilla, Manuelita e Mayagüez, para os próximos dez anos, soa mais como um balanço energético do que açucareiro. “Já somos uma companhia de energia”, afirma Klinger. “Com a cana é possível fazer quase tudo o que se faz com o petróleo… energia elétrica com o bagaço, biogás, hidrogênio.”

A empresa possui a maior planta de cogeração do país, inaugurada em 2023 com um investimento de 230 bilhões de pesos (aproximadamente R$ 294 milhões). O bagaço se transforma em combustível ao entrar em uma caldeira que produz vapor para turbogeradores capazes de gerar 120 megawatts, usados para consumo próprio e para a venda de excedentes à rede elétrica.

Hoje, a energia representa entre 6% e 8% do faturamento, mas contribui com entre 15% e 20% do EBITDA.

Nos cultivos, também há transformação: 100% da colheita já é mecanizada, algo que antes parecia impossível em uma região chuvosa. “O Ingenio del Cauca é o terceiro engenho na Colômbia com 100% de colheita mecânica”, explica José Leudín Giraldo, diretor de Colheita.

A empresa é também a única usina com duas unidades, capazes de produzir 20 mil toneladas por dia, com açúcar orgânico e convencional.

A mudança também é humana. O programa “Mulheres colhendo o futuro” formou 60 mulheres para operar tratores. Gina Girón, da comunidade de La Holanda, é uma das 17 que já atuam nessa função, depois de preparar os filhos todas as madrugadas. “Sinceramente, nunca imaginei dirigir uma máquina dessas… decidi estudar e aqui estou”, diz. “Desde que comecei, os rapazes me tratam muito bem, me ajudam bastante.”

Na fábrica, os indicadores convivem com a pressão regulatória. Klinger reconhece o impacto dos impostos e da reformulação de marcas com adoçantes: “O que vemos são as empresas tomando essa decisão por causa do consumidor”. Ainda assim, insiste: “As pessoas continuam consumindo açúcar”.

No mercado externo, a concorrência é intensa. O Brasil produz 45 milhões de toneladas de açúcar (a Colômbia, cerca de 2,3 milhões), a América Central compete na região e a Índia entra e sai do mercado.

A licença social e a segurança são outro desafio. “É uma região conturbada”, admite Klinger. Com seu estilo de liderança, ele busca proximidade. “Temos um evento como uma reunião geral em que todos podem me fazer perguntas… chamamos de conversas com Roberto”, comenta.

Externamente, o trabalho combina o apoio ao futebol de base, com o Incauca Futebol Clube — que beneficia 1.500 crianças em 14 unidades — e o encadeamento produtivo com 75% da cana proveniente de fornecedores, incluindo comunidades negras e indígenas. Em Miranda, 66% das compras são locais e o município obtém 70% de sua arrecadação em impostos da empresa.

“Somos mais que açúcar”, afirma Angélica Quiroga, diretora de sustentabilidade. “Usamos o bagaço para produzir energia limpa a partir de uma fonte renovável.”

Mesmo assim, persistem as tensões. A disputa por terras entre a cana e a urbanização, o clima que desafia a sacarose e os incêndios provocados dominam longas reuniões. Embora as exportações para países como Estados Unidos e Chile tenham crescido 8%, a escala continuará sendo o ponto fraco diante do Brasil.

“Para o Cauca, seria dramático se a Incauca não existisse”, afirma Klinger. “A confiança com a comunidade é prioridade. Ter essa licença social para trabalhar, que sintam que esta companhia quer estar aqui.”

A empresa agora se apresenta como “a energia dos colombianos”, com uma estratégia que explora biogás, hidrogênio, bioplásticos e álcool para mobilidade.

“É uma companhia totalmente diferente da de décadas passadas”, conclui Klinger. “O foco agora é energia e sustentabilidade”

Forbes

Fonte: Brasil Agro