Frustração global: Organização Marítima Internacional adia certificação do etanol

MV Carlos Fischer é o primeiro navio da Citrosuco a utilizar biodiesel (Foto: Divulgação Citrosuco)

Organização Marítima Internacional (IMO) decidiu adiar para 2026 a certificação do etanol como biocombustível de baixa pegada de carbono para uso em navios. A medida, aprovada durante reunião da entidade realizada em 17 de outubro, em Londres, causou frustração entre produtores brasileiros e empresas do setor marítimo, que esperavam o reconhecimento do etanol como combustível sustentável ainda neste ano.

A decisão foi influenciada por pressão da delegação dos Estados Unidos, segundo fontes ligadas às negociações. O adiamento interrompe, por enquanto, os planos de expansão do uso do etanol no transporte marítimo internacional, um dos grandes desafios globais para a redução de emissões de carbono.

Atualmente, o setor naval responde por cerca de 3% das emissões globais de CO₂, e a IMO já havia estabelecido metas ambiciosas: reduzir as emissões em 20% até 2030, de 70% a 80% até 2040, e alcançar neutralidade total de carbono até 2050.

Frustração no setor sucroenergético

Para Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil, que representa 214 usinas sucroalcooleiras no país, o adiamento foi recebido com grande decepção. “Não dá para entender como os Estados Unidos pressionam [o Brasil] pela tarifa sobre o etanol [importado], mas, ao mesmo tempo, bloqueiam um mercado que eles poderiam atender”, afirmou.

Campos destacou que o reconhecimento da IMO abriria um novo e promissor mercado internacional tanto para o etanol americano quanto para o brasileiro, estimulando investimentos e fortalecendo a agenda global de biocombustíveis.

Excedente de etanol e incertezas no comércio global

O momento do adiamento foi considerado inoportuno para os produtores. Segundo Edmundo Barbosa, presidente do Sindaçúcar da Paraíba, há uma oferta crescente de etanol no mercado e falta de novos destinos para escoar o produto. “Estamos precisando de destino para o etanol”, ressaltou Barbosa.

O prolongamento da indefinição sobre o certificado da Organização Marítima Internacional tende a aumentar a pressão sobre o setor sucroenergético, que enfrenta desafios logísticos e busca alternativas de exportação.

Reação das empresas marítimas

A decisão também surpreendeu as companhias de transporte marítimo, que apostavam no etanol como opção viável para descarbonizar suas frotas. “Foi decepcionante”, declarou Morten Christiansen, vice-presidente sênior da Maersk e líder global de descarbonização da empresa.

Em entrevista coletiva realizada em São Paulo, Christiansen afirmou que o adiamento se deveu a tensões políticas internas na IMO, mas ressaltou que ainda há esperança. “Estamos perdendo tempo”, disse o executivo. “Espero que em um ano tenhamos outra reunião. Ainda há um alto risco de a discussão sobre o enquadramento do etanol não se materializar.”

Segundo ele, o encontro da IMO foi “incomum” e deixou várias dúvidas no setor sobre o andamento da agenda de combustíveis sustentáveis.

Perspectivas e oportunidades para o etanol

Apesar das críticas, parte do setor vê a postergação como uma chance de fortalecer os argumentos técnicos e ambientais em defesa do biocombustível. “A postergação não necessariamente é uma má notícia”, afirmou Gustavo Mariano, vice-presidente de trading da Inpasa. “Ela nos dá mais tempo para provar a capacidade de introdução do etanol como alternativa viável.”

Especialistas acreditam que o adiamento permitirá novos estudos e certificações complementares, reforçando o papel do etanol como um biocombustível seguro, eficiente e ambientalmente responsável. O Brasil, maior produtor mundial, tem se posicionado como líder natural nesse processo.

Por Sara Aquino

Fonte: Click Petróleo e Gás