De olho em novos mercados, etanol de grãos ainda tem obstáculos a vencer

Presidente regional e vice-presidente sênior de saúde planetária para a América
Latina da Novonesis, Ethel Laursen – Foto: Portal NovaCana

Marcando meio século de Novonesis no Brasil, a 11ª edição do Teco Latin America sumarizou os principais desafios e focos de expansão do etanol de milho e grãos no país. O evento aconteceu em São Paulo (SP), nos dias 30 de setembro e 1º de outubro.

Ao longo de seis painéis, fatores como originação de biomassa, diversificação de matérias-primas, investimentos em tecnologia e descentralização da demanda – incluindo o uso de etanol como biocombustível marítimo – foram alguns dos principais temas discutidos.

Para o diretor de trading e pesquisa da Inpasa, Mario Stenico, é preciso disponibilizar o etanol de milho em locais onde o biocombustível da cana-de-açúcar não chega. Ele compara: “Têm estados do Norte-Nordeste com menos de 10% de participação de hidratado; Mato Grosso, por outro lado, tem 53%”.

Já o sócio-diretor do grupo Index, Marcelo Schmid, alertou que algumas usinas estão deixando para pensar na biomassa “lá na frente”, o que pode colocar o negócio em risco. “Os municípios com maiores áreas de plantio [de eucalipto] não coincidem com as áreas de milho e precisamos dar um jeito de trazer uma coisa para perto da outra. O eucalipto pode ser plantado em quase todo lugar”, explica.

Outro aviso relevante foi em relação ao óleo de milho. Durante o evento, o especialista sênior de desenvolvimento de negócios da ICM, Daniel Ruschel, falou que medir o rendimento de óleo é importante, mas não dá o quadro completo. O teor de gordura no cereal também precisa ser mensurado, pois afeta a produção de óleo da planta industrial. Portanto, a métrica ideal seria o percentual de recuperação de óleo, segundo aponta o especialista.

Para completar, o rendimento do sorgo também foi abordado pelos palestrantes do Teco. Segundo eles, o teor de amido até pode se aproximar do de milho, porém, ainda há dificuldades na extração do óleo. Outro desafio é a pouca oferta desta matéria-prima, por mais que ela seja uma alterativa viável em períodos e regiões mais secas.

Catalisador de oportunidades

Durante a abertura do evento, a presidente regional e vice-presidente sênior de saúde planetária (planetary health, no termo original) para a América Latina da Novonesis, Ethel Laursen, detalhou que, a cada dez litros de etanol de milho produzidos na América do Sul, a empresa de biotecnologia está presente em nove.

Em entrevista exclusiva ao NovaCana, Laursen explica que o papel da Novonesis e do Teco é assegurar “que sempre tenhamos histórias de transformação”. E completa: “É uma indústria ainda nova no Brasil”.

Ela ainda enxerga que a Novonesis está contribuindo com as necessidades atuais da indústria, com educação e inovação. “Agora, o que temos que fazer é também encontrar novas soluções junto com os produtores locais e questionar quais são os desafios”, detalha.

Para a executiva, a biotecnologia tem muitas ferramentas para ajudar que as produtoras de etanol de milho sigam crescendo com os melhores rendimentos possíveis e, também, com bons resultados nos coprodutos. “O que nos faz especiais no Brasil é que não chegamos com soluções que as pessoas não necessitam e, sim, com as que a indústria precisa e no momento adequado”, afirma.

“Se o futuro inclui outros tipos de matérias-primas, vamos contribuir também com a tecnologia para solucionar os problemas, para ajudar os produtores a terem os rendimentos adequados, mas temos que fazer isso juntos”, afirma Ethel Laursen.

Laursen também pontua a relevância de biocombustíveis avançados, com destaque para o uso na navegação. “Se há mais apetite – como se mencionou aqui no evento – para que o etanol realmente seja um combustível adequado para a indústria marítima, como podemos nos unir para que isso fique mais visível e que o Brasil, mais uma vez, seja o pioneiro da tecnologia?” questiona.

A presidente regional ainda destaca que o Teco não serve somente para promover respostas já encontradas: “Estamos colocando toda a cadeia de etanol para que conversem e encontrem soluções juntos; nós somos um facilitador para que essas discussões ocorram”.

Aspectos econômicos

Durante o evento, o Itaú BBA comparou as despesas para a fabricação de etanol. Segundo cálculos do banco, o custo hipotético de produção em uma usina de cana-de-açúcar seria de R$ 2,55 por litro em 2025/26 e de R$ 2,23/L em 2026/27; no caso do milho, os valores seriam de R$ 1,79/L e R$ 1,86/L no mesmo comparativo.

Apesar da maior rentabilidade, o consultor de agro do Itaú BBA, Lucas Brunetti, apontou que o biocombustível terá preços de 10% a 25% menores no próximo ciclo devido a uma maior participação do etanol de cana, considerando um cenário básico e outro mais crítico para o produto.

Por sua vez, o JP Morgan acredita que as usinas de etanol de milho podem obter um fluxo de caixa livre duas vezes superior ante as de cana. Já o retorno sobre o capital investido (Roic) da usina de milho seria de 18,1%, enquanto uma unidade de cana teria 11,4% (considerando um mix de produção de 50% para cada produto).

O grão seco de destilaria (DDG), segundo a analista de mercado do banco, Larissa Perez, é um dos principais fatores de diferenciação. Já o gerente de crédito para o agronegócio do Itaú BBA, Guilherme Novaes, abordou as formas de financiamento para suportar o crescimento previsto para a indústria de etanol de cereais. Ele considerou a necessidade de incluir bancos de fomento, bancos privados, mercado de capitais e equity de sócios.

“Quanto maior o prazo, melhor para a viabilidade do negócio. A carência deve ser alinhada de acordo com a expectativa de obras da planta e o início da geração de caixa, considerando possíveis atrasos na construção”, aponta o gerente.

O cenário em dez (ou mais) anos

Algumas previsões também foram apresentadas durante o evento: o Itaú BBA projeta que 18,7 bilhões de litros do renovável feitos com o cereal serão ofertados em 2030. 

Por sua vez, a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) enxerga que, até 2034/35, 21,76 milhões de litros de etanol de milho estarão disponíveis, além de 10,39 milhões de toneladas de grãos secos de destilaria com solúveis (DDGS).

Em projeções de curto prazo e considerando a abertura do mercado chinês, a estimativa da entidade é chegar a 1,5 milhão de toneladas DDGS exportados neste ano, gerando uma receita de R$ 333,83 milhões.

Segundo a diretora de relações internacionais e comunicação da Unem, Andréa Veríssimo, “as exportações de DDG e DDGS são recentes e vêm crescendo de forma consistente”. Além disso, a Alvorada Bionergia diz que, até 2029/30, serão produzidas 152,8 milhões de toneladas de milho, sendo 83,5 milhões provenientes do Centro-Oeste.

Por Gabrielle Rumor Koster – NovaCana
Conteúdo patrocinado pela Novonesis

Fonte: NovaCana