Variedades de sorgo com maior teor de amido trazem competitividade para usinas

11ª edição do Teco Latin America – Foto: Portal NovaCana

“Um dos serviços técnicos que a Novonesis presta é a análise de matéria-prima – e passamos a receber muito sorgo. Teremos ainda mais coisas a falar sobre essa matéria-prima em um ano, mas já batemos uma centena de amostra de sorgo em 2025”.

O relato é do gerente de desenvolvimento de negócios da empresa de biotecnologia, Rafael Piacenza, que apoia as usinas para incrementar as extrações de etanol, grão seco de destilaria (DDG) e óleo por meio de enzimas e leveduras geneticamente melhoradas. Nesta quarta-feira, 1º, ele falou durante a 11ª edição do Teco Latin America.

Piacenza aponta que qualquer matéria-prima utilizada para produção de etanol somente será viável com a aliança entre a competitividade para a indústria e a atratividade no campo, ou seja, é preciso remunerar nestes dois elos da cadeia.

Para isso, ele observa que, em geral, enquanto o milho tem um teor de amido de entre 70,5% e 73,5%, o teor do sorgo varia entre 65% e 68%, ambos em base seca. Assim, conforme a análise da Novonesis, uma planta com 93% de eficiência global poderia extrair 430 litros de etanol de milho ou de 383 L a 400 L a partir do sorgo.

Porém, os números mais recentes da empresa de biotecnologia, obtidos com amostras de sorgo do último ano, apresentaram resultados mais favoráveis. Em uma combinação de milho e sorgo, a usina poderia atingir até 424 L, algo considerado positivo pelo setor.

Com isso, a presença de sorgo impacta no faturamento da operação, segundo a Novonesis. No caso de um milho com teor de 73% de amido, o faturamento seria de R$ 1.703 por tonelada de matéria-prima; para um sorgo com teor de 65% de amido, o valor cairia para R$ 1.546/t.

Já considerando um teor de amido no sorgo de 72%, o valor é um pouco superior, indo a R$ 1.621/L. Neste caso, a ausência da extração do óleo é considerado o principal fator para o menor rendimento.

O gerente de negócios e de desenvolvimento de mercado da Katzen, Hugo Morais, concorda que não é possível recuperar o óleo de sorgo “com facilidade”.

Ele detalha que existem empresas que estão adicionando de 20% a 25% de sorgo na produção, mas não é usado um volume maior para que não haja impacto na recuperação do óleo de milho: “É nossa recomendação básica”. Apesar disso, reitera que é possível chegar a 100% de sorgo, mas é preciso ter alguns cuidados adicionais no processo produtivo.

Mesmo assim, Morais crê que o sorgo com uma boa quantidade de amido, aliado ao valor mais baixo da matéria-prima, é interessante em relação ao milho. “Vai ser mais relevante em regiões mais secas, onde o milho tem menos viabilidade”, detalha.

Ele aponta que a produção de sorgo no Brasil ainda é “tímida”, com cerca de 6 milhões de toneladas por safra, sendo concentrada no Centro-Oeste e Matopiba – acrônimo para Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A título de comparação, cita que a produção de milho é de cerca de 139 milhões de toneladas.

O diretor de originação da Agrícola Alvorada, Marcelo Pires, reitera que o sorgo é plantado aproveitando janelas produtivas do milho, especialmente considerando questões climáticas, em que o produtor não vai se arriscar produzindo o milho.

Pires diz que a Agrícola Alvorada foi concebida com o intuito de ter o sorgo como parte da matéria-prima, usando 20% da capacidade da planta. “Estamos desenvolvendo o mercado em torno da usina. Fomos a campo para fomentar a produção do sorgo”, afirma.

Mas ele completa que há dificuldade de conseguir produção de larga escala, pois a demanda não ser tão homogênea. “A problemática [da cultura] historicamente é de quem vai receber e comprar o sorgo. Há uma dificuldade no campo de quem seria o player que daria liquidez à produção de sorgo”, observa.

O sorgo nos EUA

A experiência dos Estados Unidos com a utilização do sorgo como matéria-prima para o etanol também foi exporta durante o evento. Segundo o diretor-executivo da National Sorghum Producers, Matt Durler, assim como no Brasil, os EUA têm muitas diferenças em precipitação, altitude, umidade, entre outros fatores.

Com isso, Texas e Kansas são os principais estados de produção de sorgo, considerado muito tolerante a climas secos e capaz de se integrar bem com áreas de pecuária. “É muito durável em anos de estiagem, sendo mais resistente”, explica.

Apesar do milho e do sorgo terem muitas semelhantes, eles possuem algumas diferenças relevantes e que precisam ser levadas em conta. “À medida que conseguimos soluções biotecnológicas melhores, com enzimas e leveduras, conseguimos resultados melhores, aliando sorgo e milho na planta”, relata.

Durler complementa que há muita diferença na recuperação do óleo, com algumas empresas avaliando que manter o sorgo na produção até mesmo ajuda na produção do óleo de milho.

Por Gabrielle Rumor Koster (conteúdo patrocinado pela Novonesis)

Fonte: NovaCana