
Por Arnaldo Luiz Corrêa*
A próxima semana promete trazer novidades — e, com elas, mais volatilidade ao mercado. Teremos a divulgação dos números da UNICA referentes à segunda quinzena de agosto, que já não parecem guardar grandes surpresas; o impacto da posição dos fundos; e a reunião do FED, que pode reduzir a taxa de juros americana — ou seja, tem para todos os gostos.
No açúcar, o mercado fala em um mix próximo de 54% a 55%, moagem acima de 45 milhões de toneladas no período e uma recuperação da ATR. Com isso, a safra já terá atingido entre 65% e 70% da moagem estimada para o ano. Se vamos produzir 590 milhões de toneladas de cana e 40 milhões de toneladas de açúcar precisamos aguardar os próximos capítulos.
Do lado dos fundos, os dados mais recentes da CFTC (Commodity Futures Trading Commission), divulgados na sexta-feira, mostram que eles seguem bastante confortáveis em suas posições, com cerca de 182,608 contratos vendidos, equivalentes a 9,3 milhões de toneladas de açúcar, volume aproximado de 100 dias de exportações brasileiras. Trata-se de um volume relevante e, ao mesmo tempo, vulnerável a qualquer movimento mais abrupto que o mercado possa apresentar.
É a quarta semana consecutiva que os fundos aumentam a posição vendida. No período de quatro semanas eles ampliaram o short de 115,357 para 182,608 contratos, enquanto o mercado variou de 16.94 para 15.84 centavos de dólar por libra-peso. Numa conta simples, precisaram de 600 lotes para derrubar o mercado apenas 1 ponto, ou seja, 30,000 toneladas para derrubar apenas 1 ponto. E se eles fossem recomprar um terço da posição? Em quantos pontos afetariam o mercado na subida? Aí que reside a resposta de um milhão de dólares. Certamente não seria na mesma proporção, mas uma subida mais íngreme.
As exportações brasileiras de açúcar seguem firmes. Encerramos agosto com um acumulado de 34,000 milhões de toneladas embarcadas entre setembro de 2024 e agosto de 2025, o que representa uma queda de 10,3% em relação às 37,900 milhões de toneladas do mesmo período do ano anterior. No ano-safra atual — de abril a agosto de 2025 —, o volume embarcado somou 14,465 milhões de toneladas, 7% abaixo do registrado no mesmo intervalo do ciclo anterior.
Em termos de receita, as exportações brasileiras totalizaram US$ 15,4 bilhões nos últimos 12 meses, com preço médio de US$ 452.23 por tonelada — o equivalente a aproximadamente 19.70 centavos de dólar por libra-peso, sem considerar o prêmio de polarização. Já no ano-safra iniciado em abril/25, a média caiu para US$ 422.62 por tonelada, ou cerca de 18.40 centavos de dólar por libra-peso.
Em Nova York, a semana foi ligeiramente positiva. O contrato outubro encerrou a 15.81 centavos de dólar por libra-peso, com alta de 23 pontos no acumulado da semana, equivalente a pouco mais de US$ 5 por tonelada. Já o março, que em breve se tornará o contrato de referência após o vencimento de outubro — cujas opções expiram na próxima semana, deixando o mercado atento à possibilidade de entrega — fechou a 16.53 centavos de dólar por libra-peso, o que representa um ganho de US$ 7.28 por tonelada.
Nos vencimentos mais longos, entre maio/26 e março/27, o movimento foi misto, variando de uma alta de US$ 4 por tonelada a uma queda de US$ 1 por tonelada. Já os contratos de 2027 e 2028 recuaram, em média, 12 pontos, o que corresponde a pouco menos de US$ 3 por tonelada.
O câmbio, por sua vez, caminha para encerrar a semana de forma relativamente positiva, com a cotação do dólar atingindo mínima de R$ 5.3442, queda de aproximadamente 1,2% em relação à semana anterior.
No campo político, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por crime de golpe de Estado, fixando pena de pouco mais de 27 anos de prisão. A decisão, contudo, não gerou impacto relevante no mercado de câmbio. Ainda cabe recurso.
Nosso colaborador Marcelo Moreira aponta que no vencimento outubro/25 o gap aberto desde 11 de novembro de 2022, em 15.28 centavos, permanece sem ser fechado. Após negociar na mínima semanal de 15.38 centavos, o contrato recuperou fôlego e voltou a testar a máxima em 15.88 centavos, movimento apoiado pela valorização do real diante da expectativa de corte de juros nos Estados Unidos na próxima quarta-feira. No curto prazo, os suportes técnicos se situam em 15.70 e 15.27 centavos, enquanto as resistências aparecem em 15.83, 16.31 e 16.74 centavos de dólar por libra-peso.
*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.
Fonte: Archer Consulting