Opinião: O preço do açúcar já encontrou um piso?

Açúcar – Imagem da frabikasimf no Freepik

Andy Duff*

O preço do açúcar bruto em Nova York ficou preso na faixa de 16 a 17 centavos de dólar por libra-peso ao longo do terceiro trimestre de 2025. Apenas o contrato de março de 2026 se mantém levemente acima dos 17 centavos de dólar por libra-peso, enquanto o restante da curva de futuros até outubro de 2026 segue abaixo deste nível.

Os fundos continuam com uma posição líquida vendida de peso, embora a fonte dessa convicção não seja imediatamente óbvia ao olhar os fundamentos. Será que preço já encontrou um piso?

No Centro-Sul, as preocupações a respeito da safra permanecem – e até ganharam força com a divulgação dos resultados. A qualidade da cana continua baixa, com o teor de açúcar total recuperável (ATR) por tonelada de cana 4,5% abaixo em relação ao ano passado, com base nos resultados acumulados até meados de agosto.

Em compensação, chama atenção o mix de produção. No acumulado até meados de agosto, 52,5% da matéria-prima foi direcionada para a produção de açúcar; na primeira quinzena de agosto, a participação é de 55%.

Mesmo assim, a moagem e a produção de açúcar da safra atual estão, no acumulado, de 5% a 6% abaixo da safra passada. Além disso, a chance da produção total de açúcar chegar a 40 milhões de toneladas é vista como cada vez mais distante.

O RaboResearch trabalha hoje com uma projeção de moagem de 587 milhões de toneladas de cana. Já a estimativa para o mix é de 51,5%, com produção de 39,6 milhões de toneladas de açúcar.

Aos olhos do mundo, com a safra brasileira no seu auge, não parece haver falta de açúcar no mercado. As notícias vindas da Índia e da Tailândia continuam apontando para safras maiores.

Para a Índia, a expectativa é que a produção atinja o equivalente a 34,9 milhões de toneladas de açúcar, das quais 4,5 milhões de toneladas serão destinadas à produção de etanol, restando ainda espaço para 2 milhões de toneladas de exportações de açúcar.

Olhando mais adiante, as perspectivas preliminares para a safra 2026/27 no Centro-Sul do Brasil devem pesar mais na avaliação do balanço global de oferta e demanda de açúcar.

Enquanto isso, os preços de etanol seguem firmes. A mistura obrigatória de anidro na gasolina subiu de 27% para 30% no começo de agosto e a evolução da safra até agora sinaliza uma queda relevante – de até 4 bilhões de litros – na produção de etanol de cana em 2025/26. Parte será compensada pelo aumento da produção de etanol de milho, que deve passar de 8,2 bilhões de litros para quase 10 bilhões de litros.

Com isso, os preços de etanol têm subido, refletindo uma perspectiva de estoques reduzidos na entressafra. Esse movimento contribui para sustentar o preço do açúcar, pela arbitragem que poderia abrir em estados como Goiás e Mato Grosso do Sul. Assim, considerando o atual pano de fundo de câmbio e de preço da gasolina, junto com os fundamentos dos mercados de açúcar e de etanol, parece que chegamos ao piso.

*Gerente do departamento de pesquisa e análise setorial do Rabobank Brasil e estrategista global dos setores de açúcar e etanol.

Fonte: Revista RPA News