
O Radar Agro – Monitoramento RenovaBio do mês de julho da Consultoria Agro do Itaú BBA destaca que a recente medida da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), ao divulgar a chamada “lista de sanções”, está gerando impactos relevantes na adimplência das distribuidoras, ao mesmo tempo em que o mercado mantém uma folga considerável de créditos frente à meta estabelecida para este ano.
No dia 21 de julho, a ANP publicou a primeira lista de distribuidoras de combustíveis que, após decisão judicial transitada em julgado referente ao ano-meta 2023, deixaram de cumprir suas metas de aquisição e aposentadoria de CBios. Ao todo, 33 empresas foram incluídas, ficando impedidas de comercializar combustíveis até regularizarem a situação.
Essas companhias, de acordo com dados do relatório, representaram 4,1% do mercado de combustíveis fósseis em 2024 e 10,8% da meta individualizada de descarbonização para 2025, incluindo as pendências acumuladas. A publicação da lista também revelou que o volume de créditos atrelado a essas distribuidoras não é desprezível e pode influenciar a dinâmica de oferta e demanda ao longo do ano.
Apesar de, nas semanas seguintes, mais de uma dezena de empresas terem obtido liminares judiciais para serem removidas temporariamente da lista, o Itaú BBA avalia que a medida já produz efeitos concretos. “Distribuidoras relevantes que estavam inadimplentes buscaram se regularizar, movimento que dificilmente ocorreria sem a imposição das sanções previstas na nova legislação”, destaca o documento.
Ainda assim, mesmo em um cenário de inadimplência próxima de zero, a consultoria projeta que o mercado fechará 2025 com excedente de 7,9 milhões de CBios, reforçando que a oferta continua acima das necessidades para cumprimento das metas.
No aspecto de precificação, julho registrou queda de 3,2% no valor médio dos CBios negociados na B3, encerrando o mês a R$ 58,60 por crédito. No acumulado do ano-meta 2025, o preço médio está em R$ 68,20, o que representa recuo de 16% em relação a 2024.
O volume negociado também mostrou enfraquecimento: 7,18 milhões de créditos trocados no mês, queda de 9% em relação a junho. Apesar disso, o número é praticamente estável quando comparado a julho de 2024. No acumulado de 2025, as negociações somam 48,71 milhões de CBios, apenas 1% abaixo do mesmo período do ano anterior, o que demonstra resiliência do mercado mesmo com preços mais baixos.
Emissões e composição dos estoques
No lado da oferta, 3,5 milhões de novos CBios foram emitidos em julho, volume 4% inferior ao registrado no mesmo mês de 2024, mas estável frente a junho. No acumulado do ano, as emissões já alcançam 24,87 milhões, o que representa alta de 3% sobre o primeiro semestre do ano passado.
Os estoques totais do mercado chegaram a 29,38 milhões de CBios no fim de julho, o que significa um aumento de 2,81 milhões no mês. Do total, 13,63 milhões estão nas mãos da “parte obrigada” — distribuidoras e importadores que precisam cumprir metas — e 15,51 milhões permanecem com emissores (como produtores de biocombustíveis).
Outro dado relevante é que 11,94 milhões de créditos já foram aposentados em 2025, sendo 677 mil apenas em julho, representando o cumprimento efetivo de parte das metas de descarbonização.
O Itaú BBA conclui que o cenário atual combina avanço regulatório, impulsionado pela aplicação efetiva das sanções, com um mercado ainda confortável em termos de oferta, o que pressiona os preços e mantém um ambiente de relativa tranquilidade para os obrigados no cumprimento das metas.
O desafio, segundo a consultoria, será equilibrar a oferta futura e manter o engajamento do setor para que os ganhos do programa se traduzam não apenas em números, mas também em maior previsibilidade e estabilidade de longo prazo. A manutenção de um estoque elevado pode, no curto prazo, reduzir estímulos para novas emissões, mas a regulação mais firme tende a contribuir para um mercado mais saudável e confiável.
Fonte: CanaOnline