China recusa ceder a pressão dos EUA para largar petróleo russo e iraniano

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Por Joana Raposo Santos

As autoridades norte-americanas e chinesas estão a tentar alcançar um acordo comercial e evitar tarifas punitivas, mas uma questão central continua a dificultar o processo: Pequim recusa-se a ceder à exigência de Washington para que deixe de comprar petróleo ao Irão e à Rússia.

“A China vai sempre assegurar o seu fornecimento de energia de forma a servir os nossos interesses nacionais”, escreveu no domingo, na rede social X, o Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, após dois dias de negociações comerciais em Estocolmo e depois de uma ameaça dos EUA de tarifas de 100 por cento.

“A coerção e a pressão não vão alcançar nada. A China vai defender firmemente a sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”, acrescentou o Ministério.

As declarações chegam numa altura em que tanto Pequim como Washington estão a dar sinais de otimismo em relação a um acordo para manter estáveis os laços comerciais entre as duas maiores economias do mundo, que chegaram a ter em cima da mesa tarifas extremamente elevadas e restrições comerciais severas.

À saída das negociações no domingo, o secretário norte-americano do Tesouro, Scott Bessent, disse aos jornalistas que no que diz respeito à compra de petróleo russo “os chineses levam a sua soberania muito a sério”.“Não queremos impedir a sua soberania, por isso eles preferem pagar uma tarifa de 100 por cento”, declarou o secretário do Tesouro.

Na quinta-feira, Bessent vincou que os chineses são negociadores “duros” mas assegurou que a recusa de Pequim quanto ao petróleo russo e iraniano não estava a travar as negociações. “Acredito que temos as bases para um acordo”, disse o responsável à CNBC.

Quando, em abril deste ano, o presidente Donald Trump revelou os seus planos para a aplicação de tarifas a dezenas de países, a China foi a única a retaliar, recusando ceder à pressão norte-americana.

“China não pode dar-se ao luxo”

Danny Russel, do Instituto de Política de Sociedade da Ásia, explicou à agência Associated Press que Pequim acredita estar em vantagem em relação aos Estados Unidos nestas negociações.

Continuar a comprar petróleo à Rússia preserva a “solidariedade estratégica” do presidente chinês, Xi Jinping, com o homólogo Vladimir Putin, reduzindo também significativamente os custos económicos para Pequim. “A China não pode dar-se ao luxo de se afastar do petróleo russo e iraniano”, frisou Russel. “É uma fonte de energia estratégica demasiado importante e Pequim está a comprá-la a preços de saldo”.

Segundo um relatório de 2024 da Administração de Informação de Energia dos EUA, entre 80 a 90 por cento do petróleo exportado pelo Irão foi para a China. A economia chinesa beneficia de mais de um milhão de barris de petróleo iraniano por dia.

Pequim é também um cliente importante para a Rússia. Em abril, as importações chinesas de petróleo russo aumentaram 20 por cento em relação ao mês anterior, para mais de 1.3 milhões de barris por dia, segundo o instituto ucraniano KSE.

Reportagem feita com agências

Fonte: RTP Notícias