
Por Débora Araújo
O Brasil está em rota acelerada rumo ao protagonismo mundial na produção de energia limpa e sustentável. Com investimentos robustos em biocombustíveis, especialmente na cadeia do etanol, o país se posiciona como uma potência estratégica da transição energética global.
Durante o AgroForum Cuiabá, realizado no dia 22 de maio e promovido pelo BTG Pactual, o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior, sintetizou esse novo momento com uma frase que repercutiu amplamente entre os setores produtivos e ambientais: “O Brasil pode ser a Arábia Saudita dos biocombustíveis.”
A analogia com o maior produtor de petróleo do mundo evidencia a ambição nacional em ocupar um lugar central no mercado de combustíveis renováveis. E essa ambição está longe de ser utopia. Ela se apoia em números, infraestrutura, know-how e políticas públicas consistentes que vêm transformando o etanol, o biodiesel e outros biocombustíveis em ativos estratégicos da economia brasileira.
Mato Grosso lidera a industrialização do etanol no Centro-Oeste
A declaração de Ratinho Júnior foi direcionada ao governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, anfitrião do evento e responsável por uma das gestões estaduais mais elogiadas do país no campo da agroindústria e logística.
“Mato Grosso é uma locomotiva do Brasil. A gestão do Mauro é uma inspiração para todos os estados”, afirmou Ratinho, destacando o papel central do estado na industrialização do etanol, especialmente o etanol de milho, e nos avanços logísticos que têm sido fundamentais para viabilizar o crescimento sustentável da produção.
Mato Grosso já abriga uma das maiores capacidades instaladas de etanol de milho do mundo, com mais de 6 bilhões de litros ao ano produzidos por empresas como FS Bioenergia, Inpasa, Neomille e Cerradinho Bioenergia. Essas usinas modernas, integradas e sustentáveis não produzem apenas biocombustível, mas também ração animal, bioeletricidade e subprodutos que agregam valor à cadeia produtiva.
Avanço logístico e da infraestrutura impulsiona biocombustíveis
Mauro Mendes, em sua participação, detalhou os investimentos realizados em infraestrutura, destacando um salto histórico no estado:
“Assumimos o estado com 6.500 km de rodovias asfaltadas e vamos fechar o ano que vem com mais de 13.000 km. Além disso, entregamos mais de 300 pontes e implementamos a primeira ferrovia estadual do Brasil, a Ferronorte.”
Essas obras estruturantes são a base para que a produção agroindustrial de Mato Grosso possa chegar com eficiência aos grandes centros consumidores, portos e mercados internacionais. Elas também fortalecem o papel do estado como polo da bioenergia nacional.
Etanol de segunda geração e o papel da inovação
Nos últimos anos, o Brasil tem dado passos importantes na diversificação da matriz energética renovável, com foco especial no etanol de segunda geração (E2G), produzido a partir de resíduos agrícolas como a palha e o bagaço da cana-de-açúcar. Essa tecnologia permite ampliar a produção de biocombustível sem aumentar a área plantada, gerando menos impacto ambiental.
De acordo com a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), a safra 2023/24 fechou com 30,7 bilhões de litros de etanol produzidos, e a tendência é de crescimento contínuo. O Ministério de Minas e Energia projeta que, até 2032, a produção anual pode ultrapassar 50 bilhões de litros, impulsionada por investimentos privados e programas como o RenovaBio, que premia usinas com baixo índice de emissões.
Biocombustíveis como pilar da soberania energética
Ao defender o protagonismo do Brasil na energia limpa, Ratinho Júnior lembrou a importância da cooperação entre estados e do histórico migratório que uniu o Paraná ao Centro-Oeste nas décadas passadas.
“Produzir alimento é uma questão de soberania nacional, e gerar energia limpa a partir disso é um diferencial competitivo para o país. O Brasil precisa de governadores com visão de longo prazo.”
Essa visão se consolida com a integração entre agricultura, inovação tecnológica e sustentabilidade, pilares que tornam o Brasil um case global em bioenergia.
Investidores internacionais veem Brasil como destino verde
O modelo adotado em estados como Mato Grosso tem atraído investidores estrangeiros, especialmente fundos europeus e asiáticos, interessados em ativos ligados à transição energética. O país começa a ganhar espaço estratégico em discussões globais sobre segurança energética, redução de emissões e mudanças climáticas.
A produção nacional de biocombustíveis, além de abastecer o mercado interno e substituir fontes fósseis, pode se tornar importante item de exportação com o avanço da diplomacia energética.
Investimentos bilionários em biocombustíveis até 2032
Segundo estimativas da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o setor de biocombustíveis poderá atrair mais de R$ 500 bilhões em investimentos até 2032, abrangendo desde biorrefinarias até infraestrutura de transporte, logística e distribuição.
Além do etanol, o país também avança na produção de biodiesel, biogás e até mesmo SAF (Combustível Sustentável para Aviação), consolidando uma matriz energética diversificada e de baixo carbono.
Brasil e Arábia Saudita: liderança energética com visões distintas
A comparação com a Arábia Saudita, feita por Ratinho Júnior, não se limita ao volume de produção, mas sim à centralidade que o Brasil pode ter no novo mapa energético global. Enquanto os países do Oriente Médio ainda concentram sua influência na produção de petróleo, o Brasil desponta como líder da bioenergia, uma alternativa estratégica na corrida por descarbonização.
E, diferentemente do petróleo, os biocombustíveis brasileiros estão diretamente ligados à produção de alimentos, preservação ambiental e inclusão rural, o que agrega valor socioeconômico e ambiental à liderança nacional.
Fonte: CPG