
Foto: CNA/Divulgação
Por Rafael Walendorff
Depois de um crescimento rápido, que impulsionou a demanda por milho e puxou a valorização do cereal no mercado doméstico, o momento das usinas que fabricam etanol a partir do processamento do grão já não é tão “favorável”. A análise é do head de agro da XP Investimento, Leonardo Alencar. Na visão dele, alguns projetos de investimentos em novas plantas para produção do biocombustível podem não sair do papel.
A explicação vem, segundo o economista, de uma série de fatores conjugados. Desde o aumento de preço do milho internamente — em patamares superiores à cotação internacional — até a alta nos juros brasileiros. Pesa na conta também a queda do petróleo e os cortes de custos que ainda não foram repassados pela Petrobrás para a gasolina nas bombas.
Soma-se a isso o momento de baixa do açúcar, que abre espaço para as usinas de cana produzirem mais etanol, e uma certa “demora” no aumento da mistura do biocombustível à gasolina. “Concluímos que alguns projetos de etanol de milho que estão no papel não devam sair”, disse Alencar no 3º Congresso da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), na quarta-feira (15/5).
“Em um cenário de juros elevados, que você tem que ter maior retorno para investimento, com investimento menor, dado o milho mais caro, a biomassa mais cara e o DDG e o etanol mais baratos, quem já começou e já tem projetos contratados, tem tudo mapeado e tem até o financiamento para isso, vai continuar. Quem está com projeto no papel, acaba sendo postergado”, apostou.
Segundo Alencar, o aumento pretendido pelo governo, de 27% para 30% na mistura do etanol à gasolina, é “extremamente positivo” para os preços, mas “está mais demorado do que o esperado” em cenário de petróleo na casa dos US$ 60 dólares o barril e não mais perto de US$ 75.
“O risco de baixar o preço da gasolina, mesmo que se tenha o aumento da mistura do etanol na gasolina, com o aumento da produção do etanol de milho concorrendo com o etanol da cana, e o preço do açúcar mais baixo, que tira aquele perfil de máxima produção de açúcar, é um cenário um pouco menos favorável ao etanol de milho do que vimos nos últimos anos”, completou.
Preço do milho
Para o economista da XP, o preço do milho no país vai continuar em queda e haverá certa recomposição de estoques, apesar da demanda aquecida pelo cereal. Ele também disse que a melhor hora de vender o grão “talvez já tenha passado”. Os atrasos na safra da soja vão alongar a janela de exportação da oleaginosa e interferir no mercado do milho logo à frente.
“A hora de vender milho talvez já tenha passado, não tanto pelo milho em si, mas por conta da soja. A janela de exportação vai ser mais longa neste ano, até agosto ou pouco mais que isso. Isso vai fazer com que o milho safrinha, que começa a chegar em junho e julho, talvez não tenha comprador, porque a janela de comercialização talvez seja deslocada no tempo, para agosto, setembro e outubro”, explicou.
“Houve momentos muito favoráveis pela ótica cambial e de precificação do milho [para a venda]. Achamos que o milho deve continuar caindo e que a tendência deveria ser aproveitar momento atual para vender milho”, concluiu.
Fonte: Globo Rural