Guerra comercial entre EUA e China pode favorecer embarque de sebo do Brasil

Sebo bovino também é usado na produção de biodiesel — Foto: ABRA/Reprodução

Por Cibelle Bouças

O levantamento de barreiras comerciais à China pelos Estados Unidos para importação de insumos para a produção de biocombustíveis, como óleo de cozinha usado (UCO), deve favorecer as exportações brasileiras de sebo bovino, também usado na produção de biodiesel.

A S&P Global Commodity Insights estima que as exportações brasileiras de sebo bovino possam alcançar 400 mil toneladas neste ano, ante 320 mil toneladas em 2024, aumento devido sobretudo à demanda dos Estados Unidos, que no ano passado foi o destino de 96% dos embarques da commodity. Só na semana passada, foram negociadas 4 mil toneladas de sebo bovino para os EUA, observou Alexandre Melo, especialista em biodiesel e insumos da S&P Global Commodity Insights para Brasil e Argentina.

“A China era até então o principal fornecedor de óleo de cozinha recuperado para os Estados Unidos. Mas há uma determinação do Tesouro americano de traçar restrições e muito possivelmente o uso desse insumo vai ser desestimulado. Há uma tentativa dos EUA de assegurar volumes de sebo bovino na América Latina”, afirmou. O preço médio do sebo bovino exportado pelo porto de Santos subiu US$ 20 por tonelada na última semana, para US$ 1.045 a tonelada, refletindo o aumento da demanda americana. Brasil, Argentina e Uruguai são os principais fornecedores de sebo bovino para os Estados Unidos.

Eduardo Vanin, diretor da Agrinvest, acrescentou que a guerra comercial entre EUA e China pode ter como consequência uma substituição das importações de soja americana pelo grão brasileiro por parte dos chineses. Isso pode causar problemas de oferta no Brasil no fim do ano. “Se a esmagadora chinesa só comprar do Brasil [soja] vai ter uma briga feia por soja no fim do ano, por causa da demanda maior no Brasil por óleo para biodiesel”, avaliou.

A mistura de biodiesel no diesel vai passar em março desde ano de 14% para 15%. Filipe Cunha, diretor de biodiesel da SCA Brasil, estima que se houver um aumento no consumo brasileiro de diesel em 3% e o óleo de soja continuar representando 74% do volume de matérias-primas usadas na produção de biodiesel, haverá um aumento na demanda de 1 bilhão de litros de biodiesel e 720 mil metros cúbicos de óleo de soja.

“As indústrias teriam que aumentar a capacidade de esmagamento em 4 milhões de toneladas por ano. As indústrias estimam para este ano um aumento de 2,5 milhões de toneladas. Pode ser necessário reduzir a exportação do óleo de soja, ou ter que usar gorduras concorrentes, como sebo bovino e óleo de palma, para garantir a produção de biodiesel”, disse Cunha.

Os especialistas são unânimes em considerar que o cenário de oferta e demanda para o óleo de soja é confortável no primeiro semestre, com risco de uma oferta mais justa na segunda metade do ano. Os executivos participaram da 10ª edição da série de apresentações on-line Conexão SCA Brasil.

Fonte: Globo Rural