REVISTA RPA NEWS – O segmento de biodiesel alcançou importantes marcos em 2024, destacando-se pela aprovação da Lei do Combustível do Futuro, sancionada em outubro. A legislação consolidou as bases de previsibilidade e segurança jurídica para investidores e produtores, fortalecendo o mercado nacional de combustíveis renováveis.
Entre os avanços, Filipe Cunha, Head de Biodiesel da SCA Brasil, ressaltou o aumento do percentual de mistura do biodiesel no diesel, que avançará dos atuais 14% para 15% em março de 2025, com previsão de atingir 20% até 2030. Dependendo de estudos técnicos, a partir de 2031 o Brasil pode aumentar a mistura para até 25%. “Na frente regulatória, a aprovação da Lei do Combustível do Futuro foi uma grande vitória, dando segurança jurídica e previsibilidade para atrair investimentos”, afirmou Cunha.
Produção em alta, mas fraudes preocupam
Em 2024, a produção de biodiesel cresceu 23% em relação ao ano anterior, segundo a ANP, impulsionada pelo aumento do consumo de diesel, que subiu 3,8% até outubro. Contudo, o segmento enfrentou desafios relacionados à qualidade do produto no mercado. Casos de fraudes na mistura de 14% (B14) atingiram níveis preocupantes, exigindo ações combativas da ANP e do Instituto Combustível Legal.
“O Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC) foi suspenso nos últimos dois meses do ano por restrições orçamentárias e de pessoal. Isso coincidiu com um aumento nas reclamações de nossos clientes distribuidores”, explicou Cunha. Ele destacou a importância de intensificar a fiscalização e modernizar os processos com equipamentos portáteis para detecção do teor de biodiesel.
Impactos da volatilidade do óleo de soja
O óleo de soja, principal matéria-prima do biodiesel, enfrentou alta volatilidade em 2024. De acordo com Cunha, a quebra das safras americana e argentina influenciou os preços até setembro, seguida por um balanço mais apertado na oferta de óleos vegetais. No Brasil, a safra menor de soja, devido a problemas climáticos, obrigou o mercado interno a reduzir exportações para garantir o abastecimento. Com isso, o preço médio do biodiesel saltou 44,5% no ano, chegando a R$ 6.464/m³ em novembro.
Perspectivas para 2025
A partir de março, o percentual de mistura será elevado para 15%. O setor espera uma safra recorde de soja em 2025, com produção estimada de 167,7 milhões de toneladas, segundo a ABIOVE. Além disso, aportes já anunciados devem resultar na inauguração de novas plantas industriais de biodiesel por empresas como Potencial, Be8 e Fuga Couros.
Outro fator que deve impulsionar o setor é a implementação do novo PMQC, que intensificará a fiscalização da cadeia de abastecimento. A modernização dos equipamentos de detecção também promete tornar as punições mais eficazes, reforçando a segurança do mercado.
Consolidação do mercado
O processo de consolidação também ganha força no setor. Em 2023, a Cargill adquiriu as três usinas da Granol, e mais recentemente, a Be8 anunciou a aquisição de três plantas da Biopar. A Oleoplan também expandiu sua atuação ao incorporar uma planta da Green Ventures. “Espera-se que o setor acompanhe a evolução da regulamentação e avance nos testes de viabilidade para a continuidade da evolução do teor de biodiesel”, apontou Cunha.
Lei do Combustível do Futuro: um divisor de águas
A Lei do Combustível do Futuro também prevê metas mínimas de uso de óleos e gorduras residuais na produção de biodiesel, SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e diesel verde. Essa medida visa estimular a agricultura familiar e a economia circular, tornando a cadeia produtiva mais sustentável. “Estamos entrando em um ciclo virtuoso de investimentos, que trará avanços significativos para a indústria”, concluiu Cunha.
Fonte: Revista RPANews