Fundos invertem posição e preocupam mercado

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Por Arnaldo Luiz Corrêa*

Numa semana encurtada pelo feriado nacional no Brasil nesta sexta-feira, NY encerrou o pregão cotado a 21.62 centavos de dólar por libra-peso para o contrato com vencimento em março-25, uma queda de 16 pontos em relação à semana anterior (cerca de 3.50 dólares por tonelada). Os demais vencimentos dos contratos que englobam a safra 25/26 do Centro-Sul, fecharam com quedas entre 16 e 25 pontos (3.50 a 5.50 dólares por tonelada). O real se desvalorizou cerca de 0.5% no acumulado da semana, mostrando R$ 5.7955. Com isso, os valores médios do açúcar em NY convertidos em reais por tonelada, apresentaram pequena variação negativa de pouco mais de 10 reais por tonelada no acumulado da semana.

O mercado de açúcar apresenta uma combinação de variáveis que promovem volatilidade e incerteza. Aqui, em especial, a indefinição do ajuste fiscal por parte da equipe econômica do governo Lula. Por isso, o real sobe e desce ao sabor dos humores provenientes da Faria Lima, considerada o coração financeiro brasileiro. Com tantas indefinições exógenas e dos próprios fundamentos do mercado de açúcar, estratégias bem planejadas de hedge e fixação podem ajudar as usinas a mitigarem riscos e capturarem oportunidades em um ambiente desafiador, mas ainda assim cheio de potencial.

O efeito da eleição de Donald Trump impacta igualmente os mercados pelas indefinições e contradições que suas eventuais medidas podem trazer ao mercado mundial. Apenas para citar uma, como conciliar tarifas de importações, as medidas de protecionismo, a redução do imposto de renda das corporações e indivíduos e, ao mesmo tempo, desvalorizar o dólar para fortalecer as exportações americanas. Acho que vamos ter que esperar até 20 de janeiro para entender essa lógica.

As chuvas recentes trouxeram expectativa de uma safra 25/26 melhor do que se esperava anteriormente. Claro que ainda é muito cedo para cravar um número, mas acredito que a previsão da Canaplan em seu excelente evento em Ribeirão Preto há duas semanas, colocando entre 565-576 milhões de toneladas de cana para o Centro-Sul, bastante razoável. O que parece igualmente razoável se supor é que a Índia dificilmente vai exportar açúcar esse ano e a disponibilidade de Tailândia vai ocorrer daqui a um par de meses, portanto, o que pode ajustar os preços em NY – para cima ou para baixo – é a percepção do tamanho da safra 25/26 no Centro-Sul.

O spread março-maio é um termômetro para medir as expectativas do mercado acerca da disponibilidade do produto. Quanto mais firme o spread, ou seja, quanto maior o prêmio do março sobre o maio, maior é a expectativa de atraso na safra e consequente disponibilidade do produto. Esse spread chegou a negociar acima dos 40 dólares por tonelada e agora retornou aos 30 dólares por tonelada.

O Brasil continua exportando bem e o mundo está cheio de açúcar com alguns países estocando um bom volume, como a China e a Indonésia. Dessa forma, um novo salto nos preços do açúcar em NY vai depender – repetindo o que falamos acima – do tamanho da safra do Centro-Sul. No entanto, independentemente do tamanho, acho difícil que o mercado possa negociar abaixo dos 18 centavos de dólar por libra-peso. Aliás, o preço médio de NY nos últimos cinco anos, mesmo considerando a queda no período inicial da COVID-19 é de 18.67 centavos de dólar por libra-peso. E a média móvel de 200 dias é de 20.54 centavos de dólar por libra-peso, um nível importante de suporte nos preços.

Um dos pontos que tenho discutido nas reuniões com clientes é acerca da posição dos fundos. Preocupa-me se eles virassem a mão. E foi isso que que aconteceu essa semana. Os fundos, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje (sexta-feira) com base na posição de terça-feira passada, estão vendidos 7,255 lotes. Esse é um ponto de preocupação que devemos ficar atentos.

Fazem companhia aos fatores baixistas, um mercado de energia anêmico, a economia chinesa derrapando após um pacote de incentivos considerado insuficiente pelo mercado e a enorme incerteza do que pode vir a ser o segundo mandato de Trump. Resta para os altistas acompanharem atentamente como vai progredir a próxima safra brasileira.

Acreditamos que os preços do açúcar em NY devem oscilar entre 21,00 e 22,50 centavos de dólar por libra-peso até que haja maior clareza sobre a safra atual e as projeções para 2025/2026. Em reais, os preços médios em R$ 2.780/tonelada incentivam maior fixação pelas usinas. O mesmo serve para a 2026/2027, nesse caso acompanhada obrigatoriamente da compra de uma call (opção de compra) com preço de exercício 200 pontos acima do mercado. A média simples dos fechamentos da 2026/27 na sexta-feira era de 18,09 centavos de dólar por libra-peso. Na nossa visão há um potencial de alta de 350-400 pontos para aquele período. Fixar em reais por tonelada e comprar uma call 200 pontos acima equivale a uma put (opção de venda) sintética. Garante-se um preço mínimo com participação na alta.

Falando em fixação, o modelo desenvolvido pela Archer Consulting há mais de 15 anos mostra que as usinas estavam fixadas 45% dos seus açúcares para exportação para a safra 2025/26 (cana total) ao preço médio de 19.28 centavos de dólar por libra-peso correspondentes a 2,476 reais por tonelada FOB incluindo prêmio de polarização. As usinas vão entrar no sexto ano seguido de bons preços. Nossa estimativa é que de 5-7% da safra 2026/2027 já esteja fixada.

Análise técnica (Marcelo Moreira): Março-25 fechou a semana em 21.62 centavos de dólar por libra-peso após testar novamente a média-móvel de 200 dias em 20.86 centavos de dólar por libra-peso. Suportes: 20.86 e 20.35 centavos de dólar por libra-peso. Resistências: 21.69/21.86/23.00/24.10 cts/lb. Julho-25 fechou em 19.36 centavos de dólar por libra-peso, negociando abaixo da média-móvel de 200 dias (19.13) e encontrando suporte na média-móvel de 100 dias (18.80). Resistências: 19.53/20.18/20.53/20.91; Suportes: 19.14 e 18.80.

O negócio envolvendo duas empresas de peso do setor com a transação de 900.000 toneladas de cana estabelece um valor de referência para futuras negociações desse tipo na região de Ribeirão Preto: uma tonelada de cana vale 75 dólares.

*Gestor de Risco para o mercado agrícola de commodities e sócio-diretor da Archer Consulting.

Fonte: Archer Consulting