Por Camila Souza Ramos
Uma das empresas mais afetadas pelos incêndios que se alastraram pelos canaviais de São Paulo, a São Martinho encerrou o segundo trimestre da safra 2024/25 com um lucro líquido, sem efeito caixa, de R$ 187,5 milhões, 55,2% abaixo de igual período do ciclo anterior.
O impacto dos incêndios sobre o resultado, no entanto, foi limitado, segundo a empresa. O que mais pesou foi a base de comparação elevada, já que um ano antes a São Martinho havia engordado o caixa com cerca de R$ 300 milhões em precatórios do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA).
Desconsiderado o efeito do precatório, que não vai mais se repetir porque as últimas parcelas foram pagas na última safra, o lucro caixa ficou praticamente estável na comparação anual, em R$ 398,6 milhões, baixa de 0,4%.
Segundo Felipe Vicchiato, diretor financeiro da companhia, o principal efeito dos incêndios no lucro líquido foi na marcação a mercado do ativo biológico, que implicou uma perda contábil de R$ 116 milhões.
A São Martinho teve cerca de 20 mil hectares de canaviais atingidos pelo fogo, o que impactou tanto áreas que já haviam sido colhidas como lavouras em pé que iriam resultar, a princípio, em uma colheita de 2,2 milhões de toneladas. “Quanto contabilizamos o peso da cana após a colheita, chegamos a 1,6 milhão de toneladas. Perdemos 600 mil toneladas porque depois de a cana queimar, ela ficou perdendo peso no campo”, explicou Fábio Venturelli, CEO da companhia.
Segundo ele, a São Martinho processou essa cana em 49 dias. “Foi um esforço hercúleo do pessoal da área agrícola para preservar a cana e tratar o canavial para colher no ano que vem. E teve um esforço do pessoal da indústria para direcionar a cana queimada para moenda específicas e para misturar [o caldo da cana queimada] com o caldo da cana crua”, disse. A empresa também vendeu cana para usinas vizinhas para evitar que apodrecesse no solo.
A cana atingida pelo fogo que foi processada estava mais apta para a produção de etanol do que de açúcar. Desde o início da safra, a produção de etanol da empresa cresceu 15,2%, para 922 milhões de litros, sustentada também pela produção de etanol de milho, enquanto a fabricação de açúcar caiu 1,9%, a 1,1 milhão de toneladas. As perdas com a matéria-prima fizeram a empresa deixar de produzir 250 mil toneladas de açúcar.
“No fim das contas, do maior desastre que já nos aconteceu em 70 anos de história, conseguimos sair com o mesmo ATR [quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis] produzido no final”, disse Venturelli.
As vendas do trimestre, por sua vez, acabaram sendo beneficiadas por preços mais altos do etanol. Com isso, a receita líquida cresceu 27,6%, para R$ 1,96 bilhão. E o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado cresceu 44%, para R$ 943,1 milhões, mesmo com o aumento dos custos operacionais para recuperar as perdas com o fogo.
Apenas em tratos culturais extras para recuperar as lavouras atingidas, principalmente as que deverão ser colhidas na próxima safra, foram gastos R$ 80 milhões, afirmou Venturelli.
A companhia também teve mais despesas de capital (capex) para avançar na construção de sua planta de biometano e com a renovação de colhedoras. A dívida líquida terminou o trimestre em R$ 4,7 bilhões (alta trimestral de 41,8%) e alavancagem de 1,35 vez.
Fonte: Globo Rural