Por Marcos Fantin
Os agricultores brasileiros estão interessados em investir na compra e modernização de máquinas agrícolas que dão tração no campo, como tratores e colheitadeiras, porém não investem em sistemas de gestão integrada.
Isso é o que aponta o Índice Agrotech da Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), que mede o nível de automação e digitalização nas fazendas brasileiras. Os dados foram coletados entre outubro de 2023 e janeiro de 2024 em propriedades de todos os portes e nas cinco regiões do país.
A pesquisa mostra que 52% dos 449 líderes de fazendas entrevistados possuem pulverizador. Do total, 30% trabalham com pulverizadores automatizados, mas somente 3% têm maquinários com integração de dados com outras tecnologias dentro da fazenda ou são conectados a sistemas de gestão da propriedade.
Investir em tecnologias de gestão que conectem os equipamentos de uma fazenda, como tratores autônomos, sensores de clima e sistemas de irrigação, ainda não é tão comum entre produtores, avalia Marina Pereira, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da GS1 Brasil. “Eles não enxergam isso como algo a se investir nos próximos anos”, diz.
Na avaliação da economista, os altos custos e a ausência de conexão são os principais gargalos que barram uma automação acelerada nas fazendas. “Não adianta ter internet se não houver equipamentos, e vice-versa”, observa.
A pesquisa apontou que 77% das fazendas têm acesso à internet em sua sede, mas o índice cai para 42% quando se trata de abranger todo o território da propriedade — exatamente onde as máquinas operam.
Segundo Pereira, outro pilar para as fazendas acelerarem o crescimento tecnológico é a mão de obra qualificada, que é “indispensável”, uma vez que os sistemas não são feitos para operar sem um humano. “Dentro desse triângulo de tecnologia, conexão e mão de obra, é essencial ter pessoas que interpretem, analisem e integrem o sistema de gestão”.
Ela avalia que os produtores de grãos, frutas, hortifrútis, cana-de-açúcar e algodão têm interesse em aplicar recursos apenas em equipamentos que estão na operação nas lavouras. Segundo sua análise, os produtores focados em agricultura estão mais preocupados em investir em máquinas e equipamentos, mas o interesse por sistemas de gestão ainda é incipiente.
Do total de entrevistados no Índice Agrotech, 43% têm intenção de investir em automação. Dessa fatia, os agricultores são 56%. Se comparada à pecuária de corte e de leite, à avicultura e à suinocultura, a agricultura está à frente quando o assunto é investimento em tecnologia, com destaque para aportes em equipamentos de controle agrícola, otimização de plantio e análise de solo.
Os criadores de gado de corte e de leite, que representam 32% dos líderes interessados em investir na automação, estão com os olhares voltados para a identificação eletrônica animal, integração de equipamento e sistema de gestão e tecnologias de nutrição animal. “A identificação eletrônica dos animais se destaca porque possibilita o controle do rebanho, o ganho de produtividade e a renovação de animais”, destaca Marina Pereira.
Com relação ao gado leiteiro, o principal alvo de investimentos em tecnologia é na ordenha, algo que é relativamente novo por aqui. Dos entrevistados, 44% têm sala de ordenha, mas apenas 7% são ordenhas robóticas.
Esse interesse justifica-se porque cada tipo de leite exige um ambiente de produção controlado e com menos intervenção humana. “Para vender um leite com valor mais alto, é preciso ter um ambiente seguro. É aqui que entram as tecnologias de ordenha, que são incipientes, mas já são vistas como uma possibilidade”, complementa a especialista.
Na avicultura, o foco está na integração de sistemas de gestão voltada para rastreabilidade, diante da demanda crescente dos consumidores por informações com o histórico do alimento. A pesquisa aponta que 23% possuem máquinas de marcação de ovos. Já na suinocultura, somente 5% dos entrevistados adotam brincos com QR Code nos animais.
Fonte: Globo Rural