Os incêndios florestais e a seca no Brasil, que abalaram o mercado global de açúcar, colocaram a Tailândia e a Índia entre as principais alternativas para cobrir a perda de suprimentos. Mas ambos os países ofereceram lembretes recentes de que também enfrentam seus próprios riscos.
Os preços futuros do açúcar atingiram o valor mais alto desde fevereiro nesta semana, à medida que aumentam os temores sobre os danos às safras causados pelas queimadas, pelo calor e pela seca no Brasil, principal produtor e exportador.
A situação ameaça aumentar os custos dos produtos, de refrigerantes a doces, e mudar o foco dos traders para o desempenho em outros grandes países produtores.
A boa notícia é que se espera que a produção do segundo maior exportador, a Tailândia, recupere-se na próxima safra. No entanto, as enchentes de setembro deram um novo alerta sobre os riscos climáticos, com preocupações começando a surgir de que a colheita pode ser atrasada se as chuvas fortes continuarem.
Já na Índia, o segundo maior produtor, o apoio à produção de etanol significa que as autoridades provavelmente prolongarão as restrições à exportação de açúcar. “O mercado de açúcar está sentado em um barril de pólvora e só precisamos de outra chama para incendiá-lo”, disse o diretor de açúcar e etanol da Tropical Research Services, Henrique Akamine.
O inesperado choque de oferta decorrente do clima no Brasil ajudou os futuros do açúcar bruto a subir 19% neste mês em Nova York. O salto nos preços também foi impulsionado por especuladores que se tornaram otimistas pela primeira vez desde julho.
O mercado tem mais espaço para se recuperar, já que as posições líquidas compradas ainda estão muito abaixo dos picos históricos, de acordo com o analista sênior da Dnext Intelligence, John Stansfield.
“O açúcar tem um dos fundamentos mais claros para apoiar uma alta”, disse ele. “Os fundos podem ver o desequilíbrio na oferta de açúcar bruto no primeiro e segundo trimestres de 2025 e, assim como os comerciantes, veem dificuldades para a produção da Tailândia preencher a lacuna”.
O mercado de açúcar bruto deve ter um déficit comercial global de 2,2 milhões de toneladas no primeiro trimestre do ano que vem, de acordo com Akamine, enquanto o analista independente Claudiu Covrig estima o montante em 1,3 milhão de toneladas.
A Organização Internacional do Açúcar previu, no mês passado, que a produção de açúcar ficará abaixo do consumo em 3,6 milhões de toneladas em 2024/25, uma escassez maior do que na atual safra que está prestes a terminar.
O déficit de oferta significa que os preços podem subir ainda mais se houver mais contratempos na colheita.
Por enquanto, espera-se que a produção de açúcar da Tailândia em 2024/25 atinja 10,6 milhões de toneladas, acima das 8,8 milhões de toneladas do ano anterior, de acordo com a média de oito estimativas de analistas e traders compiladas pela Bloomberg.
Embora não haja sinais de que as inundações recentes tenham afetado as plantações, o mercado está atento às condições do clima. Se a chuva persistir até novembro, isso poderá atrasar a moagem da nova safra até janeiro – cerca de um mês mais tarde do que o normal – disse o secretário-geral do Office of the Cane and Sugar Board, Virit Viseshsindh, em uma entrevista na terça-feira, 24.
Quaisquer atrasos ameaçariam sufocar os suprimentos do mercado mundial em um momento em que os embarques do Brasil normalmente diminuem – algo que Akamine, da Tropical Research Services, disse que “teria graves consequências”.
Perspectivas da Índia
A produção da Índia deve totalizar cerca de 30 milhões de toneladas após os desvios para a produção de etanol, de acordo com a estimativa média de 11 traders e analistas pesquisados. Isso seria cerca de 2 milhões de toneladas abaixo do ano anterior, embora as perspectivas variassem em parte devido a diferentes visões sobre a área cultivada.
Não está claro se alguma parte será destinada a outros países. No ano passado, o governo ampliou as restrições à exportação para manter os preços locais sob controle antes das eleições.
No mês passado, o governo suspendeu as restrições às usinas e destilarias que utilizam o caldo de cana para produzir etanol, uma medida que ajudará a atingir a meta de aumentar a proporção do combustível nas misturas de gasolina e, ao mesmo tempo, provavelmente prolongará as restrições à exportação de açúcar.
Em teoria, a Índia deve ter açúcar suficiente para permitir o embarque de 1,8 milhão de toneladas em 2024/25 e pode aliviar as restrições à exportação se houver um amplo suprimento interno, disse o diretor administrativo da Meir Commodities India Pvt, Rahil Shaikh.
Entretanto, muitos dos entrevistados na pesquisa da Bloomberg não acreditam que o governo permitirá as exportações. Stansfield, da Dnext Intelligence, também não espera muito alívio da Índia. “Agora está se tornando mais claro que a Índia priorizará o setor de etanol e o mercado mundial de açúcar, realisticamente, não pode esperar que a Índia venha em seu socorro”, disse ele.
Por Mumbi Gitau, Pratik Parija e Patpicha Tanakasempipat (com colaboração de Dayanne Sousa e Charlotte Hughes-Morgan).
Fonte: NovaCana