Biológicos, WhatsApp e pagamento à vista. A “mente” do agricultor, segundo a McKinsey

Por Flávya Pereira

Um dos mercados que mais tem recebido investimentos, mesmo em meio ao período de margens apertadas no agro, é também o segmento que segue entusiasmando o produtor brasileiro: os biológicos.

De acordo com o estudo “A mente do agricultor brasileiro 2024”, realizado pela consultoria McKinsey, o uso de biocontroles, biofertilizantes e bioestimulantes praticamente dobrou na região do Cerrado, especialmente em lavouras de grãos e no algodão, na comparação com a última pesquisa, divulgada em 2022.

O levantamento, que ouviu 757 produtores e avaliou o comportamento deles entre 2022 e 2024, aponta que os grãos colhidos no Cerrado, que inclui o Centro-Oeste, foram os que mais tiveram alta no uso de biocontroles, de 66%, contra 35% anteriormente. Com isso, é a área que mais aplica esse tipo de produto (58%).

O uso de biofertilizantes e bioestimulantes deu um salto no período, no qual passou de 34% dois anos antes para 73% em 2024, com 60% da área recebendo a aplicação, a maior entre as culturas apresentadas na pesquisa.

No algodão, a aplicação de biocontroles aumentou de 67% para 95%, com aplicação em 49% de sua área plantada. O uso de fertilizantes e estimulantes biológicos disparou no intervalo de dois anos, de 53% para 97%.

Por outro lado, a aplicação desses produtos caiu em outras culturas, como a de grãos produzidos no Sul do País, saindo de 49% em 2022 para 27% este ano, com a menor de aplicação de biocontroles (25%). Em linha, os produtores da região também reduziram para 40% o uso de biofertilizantes e bioestimulantes, contra 47% apontado na pesquisa realizada dois anos antes.

Na cana, a aplicação de biocontroles recuou de 56% para 47% este ano. Já a de biofertilizantes e bioestimulantes diminuiu de 59% para 53% na atual pesquisa. As áreas de frutas e hortaliças estão entre as que mais recebem aplicação de produtos biológicos, no qual a de biocontrole chega a 57%, com leve variação negativa em dois anos, saindo de 68% para 67%.

A de estimulantes e fertilizantes à base biológica também foi menor, de 61% para 56%, com aplicação em 59% das áreas. Os produtores de café e de grãos da região conhecida como Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia) têm índice alto de uso de produtos biológicos. Porém, reduziram a aplicação nos últimos dois anos.

Na cafeicultura, a aplicação de biocontroles reduziu de 71% para 67% entre 2022 e 2024, enquanto na área de grãos passou de 69% para 65%. Em contrapartida, o uso de biofertilizantes e bioestimulantes nessas áreas aumentou, saindo de 57% para 73% no café e de 62% para 64% no Matopiba.

Na amostra geral da McKinsey, 62% dos produtores afirma que usam biocontrole por que buscam melhor eficácia, enquanto 33% querem custo mais baixo e 31% usam para proteção de insetos. Em relação aos biofertilizantes e bioestimulantes, 42% querem melhorar a produtividade, como também a saúde do solo, com o mesmo percentual. E 42% dos agricultores buscam melhorar a qualidade do solo.

Na média geral, em linha com os Estados Unidos, o Brasil elevou o uso de produtos biológicos, de 55% para 61%, com aplicação de biocontroles, biofertilizantes e bioestimulantes em mais de 50% das áreas agricultáveis. Com o segmento de biológicos em alta, a tendência é que 67% dos produtores ouvidos pela pesquisa, realizada entre fevereiro e junho deste ano, mantenham e até mesmo aumentem os investimentos nesses produtos, “independentemente de mudanças nos preços de proteção de cultivos e de fertilizantes”.

De acordo com um outro levantamento, o da Blink Inteligência de Mercado, os insumos biológicos movimentaram R$ 6,7 bilhões na safra 2022/2023, com projeção de chegar a R$ 10,2 bilhões em 2027/2028, o que representa aumento de mais de 50%. Mais otimismo e riscos no radar Os 750 produtores rurais ouvidos pela McKinsey também se mostram mais otimistas para os próximos dois anos.

Questionados sobre lucros, 57% deles acreditam que serão mais altos em 2026, enquanto 33% acreditam em estabilidade. Cafeicultores, produtores de frutas, hortaliças e de grãos do Matopiba e do Sul são os mais animados em relação aos ganhos. No entanto, puxados por quem cultiva algodão e grãos no Cerrado, 11% acreditam em menos lucro no período. Enquanto 29% veem lucros um pouco ou muito mais baixos ao fim deste ano.

Apesar da expectativa de cenário mais benigno nos próximos anos, agricultores estão de olho nos riscos que podem impactar a rentabilidade. Com alta ou queda nos lucros, os eventos climáticos extremos e o aumento do preço de insumos são as principais preocupações do setor. A escassez de trabalhadores no campo também é outro risco considerado pelos produtores.

“O risco crescente de eventos climáticos pode fazer com que os agricultores tentem adotar novas práticas, a exemplo da agricultura regenerativa. Ou busquem produtos que possam ajudar a melhorar a saúde do solo”, observa a consultoria McKinsey sobre uma tendência para 2025.

Mais digital, produtor financia mais por terceiros

Outro dado exposto pelo estudo “A mente do agricultor brasileiro” é que, neste ano, eles estão pagando menos as suas compras à vista, recorrendo ao financiamento de terceiros. Sendo assim, este ano, 58% dos produtores estão fazendo pagamentos imediatos, abaixo dos 73% observados em 2022. Ainda assim, o pagamento à vista é o principal meio (44%).

Como produtores estão cada vez mais se apoiando em outros fundos, para 2024, uma parcela de 38% afirma pagar as contas por meio de financiamento bancário ou crédito na loja, ante 34% em 2022. Já o crédito em loja exibiu ligeira variação, com 33% dos agricultores recorrendo a esse meio, de 34% dois anos atrás. Essas duas fontes financiam 42% das compras agrícolas.

“Embora o gasto com agricultura no Brasil seja financiado por um mix de fontes, os agricultores pesquisados afirmaram usar, em média, duas fontes para financiar seus gastos”, diz o estudo. O pagamento à prazo inverteu a tendência, com agricultores recorrendo fortemente a tal método, subindo de 6% dois anos atrás para 22% na pesquisa atual.

Enquanto a quitação por meio de permuta caiu pela metade, para 9% em 2024. O uso do cartão de crédito recuou, de 7% para 4% este ano. Na era do Pix, o agronegócio não fica de fora dos meios de pagamentos digitais. Pelo contrário, uma vez que o uso de tecnologias para tal fim só cresce. O levantamento aponta que 88% dos produtores de algodão estão dispostos a utilizar os meios digitais na hora de efetuar pagamentos.

Na passagem de 2022 para este ano, os produtores de grãos do Cerrado e do Sul foram os que mais se mostraram dispostos a fazer pagamentos digitalmente. No consolidado, o Brasil avançou de 27% para 54% o número de produtores aptos a usar os meios de pagamentos digitais. Para a McKinsey, a adoção de pagamentos digitais deve continuar crescendo nos próximos anos.

Falando em tecnologia, um dos aplicativos mais usados pelos brasileiros é o queridinho dos produtores rurais: o WhatsApp. Entre os consultados para a pesquisa, 28% preferem a ferramenta na hora de fazer compras agrícolas, mesmo exibindo estabilidade após o pico alcançado durante os anos de pandemia de covid-19. Quando o assunto é interação digital na jornada de compra, 40% dos agricultores recorrem aos meios de mensagens instantâneas, como o WhatsApp.

Os serviços de pós-venda e de recompra são os que mais recebem interações digitais no processo de compra de insumos. Porém, 60% dos produtores ainda preferem ir presencialmente às lojas ou realizar as compras por meio de voz.

Fonte: AGFeed