Fogo se alastra de áreas de mata e de cana para cafezais em São Paulo

Lavouras atingidas pelo fogo em Pedregulho (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Por Isadora Camargo, Fernanda Pressinott e Eliane Silva

O clima quente e a seca extrema continuam causando incêndios em áreas de mata e de agricultura no Brasil, como os que afetaram cafezais da O’Coffee, em Pedregulho (SP). Só entre sexta-feira e o último sábado, foram registrados 8.225 focos de calor no país, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Mais da metade dos focos está concentrada em dois Estados: Mato Grosso (33%) e no Pará (27%).

Em São Paulo, na sexta-feira, a Defesa Civil, por meio do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), emitiu alerta de risco elevado para incêndios para todo o Estado até amanhã. De acordo com a Climatempo, as temperaturas devem continuar elevadas, e o ar seco seguirá impedindo a formação de nuvens de chuva na maior parte do país nesta segunda-feira.

Assim, as condições seguem propícias ao alastramento do fogo, como o que atingiu, no fim da semana passada, cafezais da Fazenda Nossa Senhora Aparecida, da O’Coffee, de propriedade da família do ex-governador Orestes Quércia. A fazenda está localizada em Pedregulho, na Alta Mogiana Paulista, e é cercada por canaviais.

Romildo Batista de Freitas, secretário de Segurança de Pedregulho e chefe da Defesa Civil, disse à reportagem que o fogo que já estava em matas, canaviais e pastagens da região pulou para a fazenda e consumiu uma grande área, provocando a interdição da rodovia que liga Pedregulho a Buritizal.

A reportagem tentou falar com o gerente agrícola da fazenda Nossa Senhora Aparecida, Guilherme Diniz, mas não obteve retorno. Segundo o chefe da Defesa Civil, 5 mil hectares já afetados por incêndios na região de Pedregulho desde meados de agosto. “O calor, a vegetação muito seca, a umidade baixa e o vento estão alimentando o fogo por aqui. Já tivemos muitos incêndios em anos anteriores, mas não com essa intensidade.”

Outra fazenda de café atingida em Pedregulho foi a da família Pagliaroni. Em agosto, o produtor Marco Pagliaroni relatou à reportagem perdas de café com a geada repentina. Menos de um mês depois, ele assistiu ao fogo queimando cafeeiros da fazenda, que tem 350 hectares.

Segundo ele, os incêndios começaram brandos na quarta-feira, mas se espalharam muito rapidamente, o que dificultou o controle. “O fogo vinha avançando de outras reservas e fazendas e na quarta ele tomou uma velocidade absurda. Em cerca de 30 minutos, o fogo se movimentou mais de 1 quilômetro, alcançando nossa fazenda. Pegou principalmente a parte de reserva ambiental”, descreveu. Cerca de 50 mil pés de cafés foram atingidos, segundo ele.

Perdas na cana

No setor de cana, um dos mais afetados pelos incêndios em São Paulo, as usinas calculam as perdas. Na sexta-feira, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) informou que, pelo menos, 231,38 mil hectares foram atingidos pelo fogo no Estado.

Dessa área, 132,04 mil hectares são de canaviais que ainda seriam colhidos. Os 99,79 mil hectares restantes são de áreas onde os trabalhos de campo já tinham acabado ou com lavouras recém-plantadas. Os números se referem só aos incêndios do fim de agosto. Até agora, as regiões de Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e São Carlos são as mais atingidas pelo fogo, respondendo por cerca de 90% da área afetada.

O risco de incêndios por causa do clima seco tem feito agricultores adotarem estratégias pouco comuns. Em Ipaussu, no interior de São Paulo, o produtor Edjelton Martins passou a madrugada da última sexta-feira colhendo o trigo que plantou em 22 de abril. Ele antecipou a colheita em razão do temor de incêndios. A região, que tem tradição canavieira, também sofre com incêndios e falta de chuvas há mais de 100 dias.

Diante do fogo no campo dos vizinhos, Martins afirma que preferiu não arriscar esperar os cerca de 80 hectares de trigo chegarem ao ponto de maturação ideal e decidiu colher dez dias antes do calendário previsto. “Este ano ainda não, mas ano passado eu tive queimada nas áreas por causa da seca. Então, desta vez eu dessequei. Nunca tinha feito essa intervenção antes, e adiantei a colheita para não queimar”.

No Paraná, que está sem situação de emergência por causa da estiagem, uma das culturas mais atingidas pelos extremos do clima é o trigo. Segundo boletim do Departamento de Economia Rural (Deral), o cereal colhido apresenta produtividade abaixo do esperado em função da seca. “Algumas áreas estão sendo submetidas à dessecação devido ao crescimento desuniforme provocado pela falta de chuvas durante seu desenvolvimento”, informou. Conforme o Deral, até 2 de setembro, 11% da safra de trigo havia sido colhida no Estado, sendo 28% em condições ruins, 36%, médias e 36%, boas.

(Colaboraram Carolina Mainardes, de Ponta Grossa, e Luciana Franco, de São Paulo).

Fonte: Globo Rural