Por Karina Souza
Pouco falada há dez anos, a agricultura regenerativa hoje está por toda a parte. Nessa onda, cresceram todos os mercados relacionados a ela, como o de insumos. Se há uma década os agricultores precisavam produzir biológicos nas próprias fazendas para ter qualidade e custo acessível, o aumento da competitividade tem levado os produtores a refazerem suas contas. Entre eles, Guilherme Scheffer, um dos maiores propagadores da agricultura regenerativa no Brasil.
“Em média, o preço (dos biológicos industriais) caiu pela metade ao longo da última década”, disse Scheffer, CFO da empresa agrícola que leva o nome de sua família, ao The AgriBiz. “Eu acho que o produtor tem que analisar muito bem antes de entrar nisso (on-farm). Dependendo do poder de negociação, hoje, para uma cooperativa ou um grupo grande, talvez isso não valha mais a pena”, afirmou.
A gigante do agro, que tem mais de 220 mil hectares cultivados, também está buscando aproveitar seu quinhão desse novo momento. Recentemente, a Scheffer para a produção comercial de insumos biológicos, abrindo sua fábrica em Sapezal (MT) para o grupo suíço.
Na mesma linha, a empresa firmou uma parceria com a Syngenta em 2022 — um esforço de dez anos para a produção de biológicos adaptados especialmente para fazendas brasileiras. O objetivo é começar a comercializar os produtos a partir de 2026. Mas a ideia não é deixar a produção on-farm para trás, segundo o executivo. A Scheffer deve manter um mix entre os dois, a exemplo do que já acontece hoje.
“O importante é fazer bem. É mais difícil ter um on-farm bem feito, mas essa tem que ser a busca. Já comecei a produção num tanque com a tampa aberta e vi que não deu certo. E, sem um produto de qualidade, queimaria o conceito de agricultura regenerativa”, contou o executivo, um dos pioneiros na produção de biológicos on-farm. “Esse é o grande desafio da produção nas fazendas: descredibilizar o biológico” , disse Scheffer.
De toda forma, é necessário investir. Para garantir a eficiência da aplicação — seja de um insumo biológico ou não — o CFO destaca que é necessário, além da contratação de profissionais especializados, ter um laboratório na fazenda para avaliar a qualidade do produto, por exemplo.
Por uma agricultura Holística
A construção desse aprendizado prova seu valor ao longo do tempo. Diante de uma agricultura definida por Scheffer como mais “holística” e menos “de tabelinha”, produtores podem olhar com mais cuidado para as causas dos problemas — e não somente tratar os efeitos do que acontece no campo.
“Pensar na física e química do solo o torna mais resiliente tanto na seca como no excesso de chuvas. Agricultura regenerativa prega, no fim das contas, melhor produtividade com menos insumos por hectare. Temos muitos desafios pela frente e temos de encontrar o ponto ótimo de uso entre químicos e biológicos”, afirma.
Falta demanda
Da porteira para fora, também há muito a ser construído. Durante a sua apresentação no 14º Congresso Brasileiro do Algodão, nesta terça-feira, Scheffer enfatizou a necessidade de construir conhecimento sobre a fibra brasileira cultivada de forma regenerativa. Hoje, o grupo certifica apenas 10% de sua produção — mas poderia fazê-lo para 100% dela, se houvesse demanda.
“Dá para todo mundo ganhar. Conversamos com pelo menos 25 marcas, mas hoje o que vemos é que o consumidor ainda não entende o conceito de agricultura regenerativa, enquanto a produção orgânica já está muito mais consolidada”, disse.
Mesmo com a perspectiva de excesso de oferta de algodão para a próxima safra, que deve manter os preços (e margens) baixas em curto prazo, Scheffer afirma que a empresa de sua família não deve reduzir a área destinada à produção da pluma. Uma posição diferente da Amaggi, por exemplo, que deve reduzir a área plantada de algodão, substituindo-a por soja, como afirmou Blairo Maggi, em painel no mesmo evento nesta manhã.
Mais Scheffer na SLC?
A família Scheffer surpreendeu o mercado no início deste ano ao montar uma posição de quase R$ 450 milhões na SLC Agrícola, atingindo uma participação de 5% na maior empresa agrícola do País. Saber mais detalhes sobre os planos com esse investimento ainda é um desafio. Mais uma vez, o executivo disse que a compra das ações da SLC é um investimento de longo prazo, de sete a dez anos.
“Continuo achando que é uma empresa bem gerida, com potencial de crescimento alto. A gente continua achando que o valor dela ainda está abaixo do que a companhia realmente vale”, disse Scheffer ao The AgriBiz .
Avaliada em R$ 7,7 bilhões, a SLC viu suas ações caírem cerca de 10% nos últimos 12 meses. Para Scheffer, os papéis da companhia podem sofrer ainda mais no curto prazo, influenciados pelo ambiente macroeconômico e pelos baixos preços das commodities.
Questionado a respeito de um possível aumento de participação na companhia, Scheffer manteve a dúvida: “Não sei ainda. Aí depende muito da conjuntura, talvez podemos aumentar mais, sim, mas estamos pensando muito no longo prazo”, disse.
Fonte: The AgriBiz