Por Patrick Cruz
Ainda que o número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro tenha crescido de maneira acelerada desde o ano passado, a Basf descarta que o setor enfrente uma crise no país, afirma Livio Tedeschi, presidente global da operação agro da companhia alemã.
“Os preços das commodities atingiram picos históricos durante a pandemia de covid-19, quando também estourou a guerra na Ucrânia. Agora, os preços estão se normalizando”, disse o executivo em entrevista exclusiva ao Valor, durante sua passagem pelo Brasil, na semana passada.
O país é um mercado-chave para o braço agro da Basf, primeiro, porque os volumes de comercialização estão entre os mais altos da companhia no mundo. Em seu balanço financeiro, a empresa não informa detalhes sobre seu desempenho em cada país em que ela atua, mas, segundo Tedeschi, Estados Unidos e Brasil são os dois maiores mercados da operação agro da multinacional alemã.
E, para além da importância que tem no volume de negócios, o Brasil é também estratégico por ser uma plataforma global de lançamentos da empresa. “O Brasil é o farol dos nossos negócios quando se trata de adoção de novas tecnologias, avanço da digitalização e desenvolvimento de negócios no ambiente digital”, afirma o executivo.
Um exemplo dessa abertura às novidades que a Basf vê no agro brasileiro é que foi no país que a companhia lançou o AgroStart, seu programa de apoio a startups, que só depois de estrear no Brasil chegou aos Estados Unidos.
Ao lado de Bayer, Corteva e Syngenta, a Basf é uma das quatro multinacionais que dominam o mercado brasileiro de defensivos agrícolas.
A operação agro não é a maior do grupo — as vendas de “soluções agrícolas”, área que também inclui sementes — foram de 5,4 bilhões de euros no primeiro semestre deste ano, quando o grupo faturou 33,6 bilhões de euros; produtos químicos respondem pela maior fatia da receita.
Mas o braço agro é o mais rentável: o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da área de soluções agrícolas foi de 1,5 bilhão de euros no primeiro semestre, e o de todo o grupo, de 4,2 bilhões de euros.
Defensivos agrícolas: mercado em expansão
Mesmo com os percalços recentes, o mercado brasileiro de defensivos agrícolas segue em expansão. No ano passado, o volume de comercialização de pesticidas foi de 1,42 milhão de toneladas, o que representou um aumento de 9,5% em relação a 2022, segundo pesquisa recente da Kynetec Brasil, feita sob encomenda do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Vegetal (Sindiveg). O segmento movimentou US$ 20,7 bilhões em 2023, ou 1,9% a mais do que no ano anterior, informa a pesquisa.
O mercado de sementes das principais culturas, por sua vez, teve um giro de R$ 44,4 bilhões na safra 2022/23, de acordo com levantamento do agrônomo e consultor Lars Schobinger, da Blink Inteligência Aplicada. O montante foi três vezes maior do que o da temporada 2015/16.
Bioinsumos
A aposta da Basf no mercado brasileiro passa também por aumento de sua presença no segmento de bioinsumos. “O mercado de biológicos é o que cresce com mais rapidez. Eu acredito que o Brasil vai ter um papel muito importante também como fonte de inovação em biológicos. Estamos atentos a isso e usando nossas instalações de pesquisa aqui no Brasil para essa frente”, diz o executivo.
Esse quadro sustenta o otimismo de Livio Tedeschi com o mercado brasileiro e as investidas que a companhia tem feito no país. A multinacional, que tem seis fábricas dedicadas a defensivos agrícolas no Brasil, nas quais pode produzir até 60 milhões de litros em formulações por ano, vai lançar seis novas moléculas de pesticidas até 2030.
No ano passado, a empresa investiu 15 milhões de euros para ampliar a capacidade de produção de sua planta de Guaratinguetá (SP) — a capacidade de formulação de fungicidas e inseticidas da fábrica aumentou 45%. Com o desembolso, a empresa também construiu um novo laboratório de sementes de algodão, localizado em Primavera do Leste (MT).
Fonte: Globo Rural