Sinal de alerta com a Petrobras

Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

Ao tomar posse na presidência da Petrobras, há pouco mais de um mês, Magda Chambriard disse disse que sua gestão estaria “totalmente alinhada com a visão” do presidente Lula e do governo federal, pois eles são os “acionistas majoritários” da empresa. Junto a essa declaração, fez menções positivas ao retorno dos investimentos na indústria naval e em refino, sinal de que pretende ser uma aliada da pretensão lulista de usar a estatal para irrigar a economia e ampliar suas chances para 2026, quando o atual mandatário deverá tentar a reeleição.

Se, de um lado, a Petrobras chegou a responder por 34% dos investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e contribuiu para que o país crescesse 7,5% em 2010, há também quem não esqueça que o uso do caixa da estatal para subsidiar o preço dos combustíveis custou ao Tesouro US$ 40 bilhões. Ou que a política de conteúdo nacional adotada à época resultou num dos maiores escândalos de corrupção de nossa história recente.

São essas lembranças que preocupam aqueles que não desejam que a Petrobras reviva o período pré- Petrolão e se mantenha imune às influências palacianas – algo que, ao que parece, não vai ocorrer.

PREÇOS

Mestre em Engenharia Química pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Chambriard foi contratada pela Petrobras em 1980, na qual permaneceu por 22 anos, até se tornar diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), durante o governo Dilma Rousseff. Sócia da empresa Chambriard Engenharia e Energia desde janeiro de 2018, ela é defensora tanto do mercado de gás brasileiro quanto da ampliação da atividade de refino no país.

Ao tomar posse, herdou do antecessor, Jean Paul Prates, uma nova política de preços, que, desde a posse de Lula, substituiu o Preço de Paridade de Importação (PPI), sem se descolar demasiadamente do mercado internacional.

A justificativa para a mudança está relacionada à manutenção da competitividade e da participação de mercado da estatal frente às importadoras. Por outro lado, pode vir a comprometer a saúde financeira da Petrobras. Não por acaso, após o anúncio do primeiro reajuste da gasolina sob a gestão Chambriard – a alta foi de 7,11%, ou R$ 0,20 por litro, para R$ 3,01 –, as ações da estatal subiram mais de 1%.

Para entender melhor o atual momento político da Petrobras, a Revista Minaspetro conversou com o economista Paulo Vicente dos Santos Alves, professor em tempo integral da Fundação Dom Cabral (FDC), que, em sua experiência profissional, sempre esteve ligado aos setores governamental e de energia, entre outros. No bate-papo, ele trata das possibilidades decorrentes da escolha de Magda Chambriard para presidir a Petrobras e da sucessão no Banco Central, além de um não descartado conflito no Oriente Médio.

CONFIRA, A SEGUIR, OS PRINCIPAIS TRECHOS DA CONVERSA: 

É plausível afirmar que, com Magda Chambriard à frente da Petrobras, a companhia retorna ao passado?

Parcialmente, sim. Há, sim, uma crença de que as estatais são motor da economia e de que se vai desenvolver a economia por meio delas – em alguns casos, até funciona, mas nem sempre, pois é preciso levar em conta o mercado real. Temos, por exemplo, os casos da Embrapa, que funcionou muito bem para o agronegócio, e a Embraer, que funcionou muito bem para o setor aeroespacial, além da própria Petrobras, que funcionou para a energia. Mas tudo depende da dosagem. Coisas que não são economicamente viáveis não vão funcionar, como foi o caso da insistência na indústria naval, que não tem capacidade de competir com os asiáticos. E há o risco em relação a novas obras, como a da Refinaria Abreu e Lima. Enfim, a volta ao passado vai existir. Por outro lado, há coisas novas, que não tínhamos antes, como a exploração da banda equatorial.

Como vê essa última possibilidade?

Acho bom. Claro que há os riscos ambientais inerentes, que demandam certo cuidado, além do fato de estarmos fazendo isso já em uma etapa de transição energética – logo, há a possibilidade de se ter uma reserva em um ambiente que não demande mais tanto petróleo. Por outro lado, os riscos geopolíticos que envolvem o Oriente Médio estão ficando cada vez maiores, então é meio como um seguro para o Brasil e o Ocidente contra uma dependência excessiva de petróleo daquela região.

E a possível retomada de investimentos em refinarias e no setor naval?

É quase certo que isso será retomado. A Magda Chambriard foi colocada lá para isso. E há uma tensão entre o acionista minoritário, que vê na Petrobras uma oportunidade de lucrar, e o acionista majoritário – o governo brasileiro –, que enxerga na empresa um instrumento político e desenvolvimentista. Acho que as duas coisas vão acontecer com dificuldades, porque não temos competitividade econômica. É realmente necessário refinar para fazer dinheiro? Há muita controvérsia em torno disso. Agora, de novo, o governo acredita no potencial das refinarias não só para gerar desenvolvimento, mas empregos e votos. E o que se sabe é que, embora gere votos, não gera desenvolvimento econômico nem emprego. É o chamado “voo de galinha”.

Como viu a extinção do Preço de Paridade de Importação (PPI)?

Esse foi, mais uma vez, um instrumento político para manter a inflação. Porque muitos dos insumos que a Petrobras importa tem dólar. Isso funciona até certo ponto, mas, na medida em que se começa a segurar demais, complica. E, se o dólar explodir, fica insustentável.

O que podemos esperar para os preços dos combustíveis na gestão Chambriard?

Diesel é o grande gargalo do Brasil, porque não produzimos o suficiente – com a gasolina é diferente, o que possibilita manter o preço um pouquinho mais baixo, embora este também tenha que ser ajustado. Sabe-se que, se o diesel sobe, há o risco de uma greve de caminhoneiros. Então, o governo está tentando equilibrar a situação. As cordas estão todas esticadas. Os cenários possíveis para o fim do ano e o ano que vem são: o governo vai trocar o presidente do Banco Central e virá alguém com a intenção de baixar os juros – se vai conseguir ou não é outra discussão. Mas, se baixar os juros na marra, isso pode desconcertar tanto o dólar quanto a inflação, o que não seria novidade, pois isso ocorreu no governo Dilma. Na prática, isso pode levar a um aumento da inflação e, em consequência, do petróleo e do diesel. É uma possibilidade, não é uma certeza. Outra possibilidade é uma crise no Oriente Médio. Ou seja, o futuro é incerto.

Fonte: Minaspetro