Por Andréia Vital
Diante da perspectiva de aumento da demanda de etanol, o milho surge como determinante para aumentar a produção do biocombustível no Brasil. A afirmação é de Giuseppe Lobo, diretor executivo do Bioind MT – Indústrias de Bioenergia de Mato Grosso.
Segundo Lobo, a produção de etanol de milho, iniciada no Brasil em 2017, cresceu de 150 milhões de litros para 5,7 bilhões de litros em 2024, um aumento impressionante de 3.700%. Este crescimento notável é reflexo de investimentos contínuos e da adaptação das tecnologias de produção.
O diretor fez essas declarações durante o 17º Congresso Nacional da Bioenergia, promovido pela União Nacional da Bioenergia (UDOP), um evento que reúne especialistas, empresários e autoridades do setor realizado nesta terça e quarta-feira (2 e 3), em Araçatuba – SP.
Durante o congresso, ele debateu as previsões para o mix de etanol de cana e de milho até 2030 com Caio Dafico, diretor de Novos Negócios na Atvos e Paulo A. Trucco da Cunha, diretor comercial da FS Fueling Sustainability, em painel moderado por Renato Augusto Pontes Cunha, presidente do Sindaçúcar de Pernambuco e da Associação dos Produtores de Açúcar, Etanol e Bioenergia (NovaBio).
Na ocasião, Lobo ressaltou que, enquanto a produção de etanol de cana-de-açúcar mantém sua estabilidade, a produção de etanol de milho está em franca expansão, indicando uma tendência de diversificação na matriz energética brasileira.
Para a safra de 2032/33, Lobo estima que a produção de milho alcance 176,9 milhões de toneladas, resultando em uma produção de etanol de milho equivalente a 16,63 bilhões de litros. Este crescimento está atrelado à construção de 20 novas biorrefinarias de milho, das quais 11 já receberam autorização para construção e 9 estão em fase de planejamento. Este investimento em infraestrutura é fundamental para suportar o aumento da capacidade produtiva e para garantir a eficiência e sustentabilidade do processo.
“A produção desse volume de etanol de milho não só garantirá a estabilidade da mistura, mas também permitirá uma evolução gradual e contínua na produção de etanol”, afirmou. Ele destacou que essa expansão ajudará a suprir mercados que enfrentam dificuldades de abastecimento, tradicionalmente atendidos por etanol importado dos Estados Unidos. Além disso, a maior produção de etanol de milho poderá proporcionar uma estabilidade maior nos preços, beneficiando consumidores e a economia como um todo.
Renato Augusto Pontes Cunha, presidente do Sindaçúcar e da NovaBio, chamou a atenção para a mudança no mix de produção de etanol no Brasil. “Há cinco anos, o mix de produção era 55% etanol. Este ano, pela primeira vez em cinco anos, houve uma mudança significativa, com uma maior preponderância para o açúcar”, disse Cunha, sugerindo uma transformação na estratégia de produção do setor. Esta mudança no mix de produção reflete a capacidade do setor em se adaptar às variações de mercado e à demanda por diferentes produtos.
Paulo A. Trucco da Cunha, diretor comercial da FS Fueling Sustainability, enfatizou que o etanol de milho serve como um complemento essencial para o setor. “O etanol de milho veio para dar suporte ao setor, não como um substituto, mas como um complemento que adiciona robustez ao programa de etanol do Brasil”, afirmou. Ele destacou a importância da flexibilidade do setor para migrar entre commodities conforme a rentabilidade, garantindo assim a saúde financeira das empresas e a continuidade do abastecimento de biocombustíveis no país
Caio Dafico, diretor de Novos Negócios na Atvos, acrescentou que o etanol pode ser utilizado na produção de combustíveis avançados, como o SAF (combustível sustentável de aviação) e o HVO (óleo vegetal hidrotratado). “Essa demanda deve crescer ainda mais, necessitando que o Brasil tenha bases sólidas tanto para a produção de etanol combustível quanto para a produção de combustíveis avançados”, afirmou. Ele sublinhou que a integração do etanol na produção de combustíveis avançados representa uma oportunidade significativa para o Brasil se destacar globalmente na produção de energia sustentável. Além disso, comentou que a companhia estuda investimentos na construção de uma planta de etanol de milho.
Fonte: Jornal Cana