BP compra fatia da Bunge e assume controle de joint venture de etanol por US$ 1,4 bi

Posto de combustível da BP no Reino Unidos (Foto: Bloomberg/ Jason Alden)


Por James Herron, Gerson Freitas Jr. e Rachel Graham (com colaboração de Dayanne Sousa)

A BP concordou em assumir o controle total de sua joint venture brasileira de etanol com a gigante do agronegócio Bunge (BG), enquanto a empresa reduz os investimentos em alguns novos projetos de biocombustíveis nos Estados Unidos e na Europa.

A aquisição da fatia de 50% da BP Bunge Bioenergia, como é conhecida a joint venture, dará à BP a capacidade de produzir cerca de 50.000 barris por dia de etanol de cana-de-açúcar, informou a empresa sediada em Londres em um comunicado na quinta-feira (20). A participação adquirida tem um valor de quase US$ 1,4 bilhão.

Enquanto isso, a empresa disse que interrompeu os planos de investimento em diesel renovável e combustível de aviação mais limpo enquanto busca simplificar seu portfólio e focar em “valor e retornos”.

A BP não continuará com os planos de unidades de produção de biocombustíveis autônomas em sua refinaria Cherry Point, nos EUA, e em sua planta em Lingen, na Alemanha, disse o porta-voz David Nicholas por telefone.

O acordo com a Bunge, que dará à BP controle total sobre 11 usinas de cana-deaçúcar, expandirá a capacidade da empresa britânica de aproveitar o pontecial para a produção de biocombustíveis avançados no Brasil.

O etanol de cana-de-açúcar — que tipicamente tem uma pegada de carbono menor do que o etanol feito de milho nos EUA — é visto como um insumo chave para o chamado combustível de aviação sustentável, a principal aposta para descarbonizar o transporte aéreo.

A transação parece ter uma “valorização razoável” e deve ajudar a garantir a meta de ganhos da BP para 2025 em seu negócio de bioenergia, disse Biraj Borkhataria, analista da RBC Capital Markets, por e-mail.

A decisão de interromper os projetos de biocombustíveis nos EUA possivelmente reflete preocupações sobre o aumento do excesso de capacidade e uma consequente queda no preço dos créditos de combustível renovável no país, de acordo com o analista da Berenberg, Henry Tarr.

A Bunge há muito tempo busca se desfazer da joint venture brasileira. O CEO Greg Heckman disse em 2020 que a venda da participação para a BP era uma possibilidade.

A indústria de cana-de-açúcar do Brasil tem enfrentado dificuldades com lucros fracos no negócio de etanol, à medida que a demanda fraca e o excesso de oferta deprimiram os preços no mercado local.

“Esse negócio não é fundamental para a estratégia de longo prazo da Bunge e essa transação nos permitirá focar e investir em nossos negócios principais enquanto também fortalecemos ainda mais nosso balanço patrimonial”, disse Heckman em um comunicado na quinta-feira.

O acordo, que a Bunge disse que deve render receitas líquidas próximas de US$ 800 milhões, vem em um momento em que a trading de commodities busca concluir sua aquisição de US$ 8,2 bilhões da Viterra, apoiada pela Glencore, anunciada há um ano.

 O negócio levanta questões sobre o que a empresa planeja fazer com a operação de açúcar da Viterra no Brasil após a conclusão da aquisição. As ADRs da BP subiram 1% em Nova York às 12h45 (horário local). A Bunge subia 0,5%.

A BP prometeu alcançar emissões líquidas zero até 2050 e reduzir gradualmente sua produção de petróleo e gás nas próximas décadas. A empresa tem investido fortemente em eletricidade renovável — principalmente eólica e solar — como a principal fonte de energia limpa.

No entanto, os biocombustíveis também têm um papel importante na descarbonização do transporte enquanto a energia de bateria permanece inadequada para o transporte aéreo.  Sujeita a aprovações regulatórias, a BP espera que a transação seja concluída até o final de 2024.

Fonte: Bloomberg Línea