Por Francisco Alves
Em 2050, as companhias mineradoras terão que minerar 36,4 milhões de toneladas de cobre para atender a demanda gerada pela transição energética. As previsões, baseadas em modelos matemáticos, foram feitas por Adam Simon, da Universidade de Michigan, durante o XI Simexmin, realizado pela Adimb na cidade de Ouro Preto (MG) de 19 a 22 de maio.
Ele acrescenta que a produção de cobre continuará aumentando ano a ano, até 2087, quando, ainda segundo as previsões do modelo utilizado, as mineradoras terão que extrair 48,9 milhões de toneladas do metal. “Assumindo que o futuro seja idêntico ao passado, nessa ocasião a produção atingirá o seu pico, usando-se as tecnologias atuais e gradativamente irá declinando”, diz o professor, acrescentando que “infelizmente ainda não inventamos algo que nos permita minerar cobre com teores de 0,001% de forma lucrativa”. Para dar uma ideia do tamanho do desafio, Simon lembra que até 2050 a humanidade terá extraído 1,662 bilhão de toneladas de cobre, ou seja, o dobro de tudo que foi minerado desde os primórdios da humanidade até 2018, uma soma de 757 milhões de toneladas. E a diferença entre os dois números é 115%. “Ou seja, nos próximos 30 anos teremos que minerar 115% mais do que mineramos desde a idade da pedra”.
Em 2018, segundo Simon, cerca de 20% de toda a produção de cobre refinado foi reciclada, enquanto 80% foi proveniente das minas. Portanto, caso a reciclagem cresça a uma taxa de 0,5% ao longo dos próximos 30 anos, pode-se prever que cerca de 35% da produção global de cobre refinado será reciclado, enquanto 65% será minerado. Uma taxa de reciclagem de 35% significa que 70% de todo o cobre que foi minerado será reciclado. E 70% de reciclagem é considerado o limite máximo, porque sempre haverá cobre contido nos eletrônicos que descartamos.
As previsões do professor são de que, em 2087, se tivermos incremento nas taxas de reciclagem e de mineração, produziremos 66 milhões de toneladas de cobre. “Mas o que queremos é contextualizar quanto cobre necessitamos em termos de quantas novas minas de classe mundial são necessárias para satisfazer a demanda”, diz ele, lembrando que as 10 maiores minas em produção no mundo produzem aproximadamente 500 mil toneladas de cobre por ano, sendo El Teniente a maior delas. “Assim, para satisfazer a demanda nos próximos 30 anos, teríamos que abrir uma El Teniente a cada ano. Se todos tiverem carros híbridos, somado à elevação do padrão de vida das pessoas, precisaremos 1.2 El Teniente a cada ano. Mas se todos optarem por ter carro elétrico a bateria e atualizamos o grid de energia, então precisaremos 1.7 El Teniente por ano. E se todo o mundo atingir o net zero em emissões, através da eletrificação, então necessitaremos 6 minas do porte de El Teniente anualmente, por 30 anos. Portanto, precisaríamos de 200 novas minas de classe mundial ao longo dos próximos 30 anos para atender à demanda”.
Simon salienta que isso é fisicamente impossível, porque a média de anos entre a descoberta e a entrada em produção de uma mina no século atual tem sido de 20 anos. “Sabemos que isto não é factível. A sugestão que fazemos é a transição para veículos híbridos, que requer menos cobre. E de veículos elétricos a bateria mais turbinas eólicas e painéis solares. Se olhamos o ciclo de emissões de um veículo híbrido, por exemplo o Toyota Prius, comparado a um veículo elétrico a bateria da Tesla, é mais ou menos igual. Assim, o impacto climático de um híbrido é mais ou menos o mesmo que um veículo elétrico a bateria, mas o total de cobre para um híbrido é bem menor do que para um veículo elétrico a bateria”, argumenta o especialista.
Nesse sentido, ele sugere que os formuladores de política precisam considerar as metas climáticas sob as lentes da realidade. “Soa muito bem que sejamos net zero e que toda a nossa energia seja eólica mais solar, porém isto não é possível. E há uma série de razões plausíveis para isso. Aliás, as premissas valem para vários outros metais, sendo o cobre um exemplo. Haverá dificuldades no suprimento para vários outros metais”.
Para ele, o maior desafio para a indústria do cobre é: quantos bilhões de dólares serão necessários para realizar a descoberta de novos depósitos? “É importante observar que muitas descobertas nas últimas décadas falharam. Nos últimos dez anos, globalmente, foram anunciadas apenas quatro novas descobertas de classe mundial. E, como os dados indicam, as companhias mineradoras estão gastando mais e mais dinheiro em exploração. Nós sabemos que as minas de cobre estão se tornando cada vez mais profundas e que todos os depósitos próximos à superfície já foram encontrados. Assim, precisamos desenvolver novas tecnologias que permitam ver através da cobertura, para localizar depósitos que as atuais tecnologias não permitem encontrar. As companhias mineradoras estão contratando geólogos realmente espertos e inteligentes, cientistas de dados, que estão usando softwares mais sofisticados para processar dados geofísicos e mesmo assim não estão encontrando os novos depósitos. Assim, como indústria, temos que pensar: que tipos de tecnologias devemos inventar para que possamos acabar com o declínio do anúncio de novas descobertas? O setor precisa de tecnologias realmente disruptivas, de gente pensando “fora da caixa”, para poder encontrar novos depósitos. “Podemos tomar emprestado a sísmica passiva e ativa das companhias de óleo e gás? Creio que sim”.
Um outro aspecto considerado importante por ele é que, como mostra uma pesquisa realizada nos países mais desenvolvidos, jovens entre 15 e 30 anos colocam a indústria mineral como a última opção para desenvolver uma carreira, preferindo outros setores. “E isso numa época em que precisaríamos ser os primeiros, porque sem a mineração a transição energética não acontecerá. Sem a mineração, a capacidade de construção e a equidade global também não acontecerão. Somente a mineração pode construir energia renovável. E precisamos desenvolver melhor a tarefa de anunciar os benefícios que provemos para a sociedade”.
Fonte: Brasil Mineral